O dólar comercial terminou a segunda-feira (4) em forte baixa e a Bolsa brasileira subiu.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa B3, avançou 1,87% neste pregão, para 130.514 pontos.
No mercado cambial, a cotação do dólar recuou 1,48%, valendo R$ 5,783 na venda. Acompanhou, em parte, o movimento de desvalorização da moeda americana nos mercados globais.
Também as taxas de juros futuras mostraram alívio em relação à semana passada. Nos contratos mais longos, com vencimento em 2033, a queda foi de mais de 20 pontos, já abaixo de 13% ao ano.
Especulação à solta
Não é possível prever qual será o comportamento dos mercados ao ao longo da semana em que serão decididas as taxas básicas de juros para os próximos 45 dias. Mas o movimento desta segunda (4), com ajustes fortes e generalizados (de queda, no caso do dólar, e de alta, para a Bolsa), mostra que os operadores do mercado financeiro intensificaram, nos últimos tempos, a chantagem sobre o governo para que acelere cortes nos gastos públicos. O nome do movimento é conhecido: especulação à solta.
A mudança do "humor" no mercado ocorre depois de o presidente Lula ter determinado que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cancelasse viagem de uma semana à Europa. A mensagem da decisão de Lula, claríssima, era para não mais adiar o anúncio de medidas de contenção de despesas públicas, como quer a infantaria do pensamento econômico mais ortodoxo, concentrada nos economistas da Faria Lima.
A prova da chantagem vem do fato de que não houve qualquer outra alteração nos rumos da economia brasileira que desse sustentação técnica ao recuo em manada. Também não houve mudanças em relação ao outro elemento das pressões sobre os ativos: a eleição nos Estados Unidos.
A votação principal, nos EUA, ocorre nesta terça-feira (5), e as pesquisas de intenção de voto continuam apontando equilíbrio na disputa entre a democrata Kamala Harris e o republicano e ex-presidente Donald Trump.
Insensibilidade social
Não há dúvida de que a situação das contas públicas merece preocupações e ajustes. Os gastos e receitas estão aumentando, mas as despesas correm mais rápido, o que significa pressionar a dívida pública, que já se encontra em nível elevado. Mas as revisões e cortes precisam ser feitas com modos e cuidado.
Também não há dúvida de que revisões têm de ser feitas, ainda mais depois da aprovação do arcabouço fiscal concebido pelo próprio governo Lula. A questão é decidir onde e em cima de quem o ajuste deve ser feito.
Conhecidos por sua insensibilidade política e social, os economistas da Faria Lima propõem revisão radical e "estruturante" nos gastos públicos. Pelas manifestações iniciais, depois do cancelamento da viagem de Haddad, eles consideram insuficientes revisões de gastos sociais com base em fraudes e em cadastros desatualizados de beneficiários.
Prejuízos para os pequenos
Querem desvinculação das aposentadorias do INSS ao salário mínimo, cujas regras de reajustes com ganhos reais condenam, fim dos mínimos constitucionais das despesas públicas com Saúde e Educação e corte de programas sociais "ineficientes", como o seguro-desemprego. Advogam, num resumo, retirar o pobre do Orçamento — uma proposta com clara conotação política e contra Lula.
Para obter o que reivindicam, emparedam o governo, aproveitando momentos de incertezas no mercado, puxando as cotações. Mas também recuam ao primeiro sinal de que suas apostas podem dar errado, deixando na mão — e no prejuízo — os pequenos investidores que embarcam no efeito manada que estimulam.