Lula não anuncia corte de gastos, e Fazenda avisa que haverá mais reuniões
O presidente Lula (PT) ficou reunido por cerca de três horas na tarde desta segunda-feira (4) com sete ministros e três secretários para discutir os cortes de gastos no Orçamento de 2026, que o mercado financeiro tem esperado ansiosamente. Mas nenhum anúncio foi feito.
O ministério da Fazenda informou, logo depois do fim da reunião, que outras pastas serão chamadas na terça (5) para discutir as reduções de despesas. Mais cedo, o ministro Fernando Haddad havia dito acreditar que as medidas serão divulgadas nesta semana.
O que aconteceu
A reunião de Lula com os membros do seu governo começou por volta das 16h e terminou perto das 19h. Participaram os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Simone Tebet (Planejamento), Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos), Nísia Trindade (Saúde), Luiz Marinho (Trabalho) e Camilo Santana (Educação).
Estava previsto que Lula batesse o martelo sobre o valor final e sobre detalhamentos mais sensíveis do corte de despesas nessa reunião. Não havia uma promessa de anúncio, apesar da expectativa do mercado.
Pela manhã, Haddad disse que o presidente finalizaria à tarde as medidas de corte de despesas do Orçamento. O ministro afirmou que as medidas de contenção de gastos públicos estão "muito avançadas" e frisou que cabe a Lula definir a forma de comunicação das medidas, mas comentou acreditar que é possível apresentar as propostas nesta semana.
Após o final do encontro, a Fazenda informou, em nota à imprensa, que haverá mais debates com ministros sobre o assunto na terça (5). Não se sabe ainda quais pastas participarão da nova rodada de conversas.
Na reunião desta segunda (4), o quadro fiscal do país foi apresentado e compreendido, assim como as propostas em discussão. Nesta terça (5), outros ministérios serão chamados pela Casa Civil para que também possam opinar e contribuir no âmbito das mesmas informações.
Ministério da Fazenda
A Bolsa de Valores brasileira subiu e o dólar comercial caiu enquanto os investidores esperavam novidades nesta segunda (4). O Ibovespa, principal índice acionário do país, terminou o dia em alta de 1,73%, aos 130.338 pontos, e a moeda americana caiu 1,48%, vendida a R$ 5,78.
A demora para o anúncio deixou um clima de insegurança no mercado nos últimos dias, impulsionando o dólar e derrubando a Bolsa. Para tentar impedir novas altas da moeda americana e especulações com o real, como as vistas na semana passada, Haddad cancelou uma viagem à Europa a pedido de Lula para adiantar o anúncio sobre o Orçamento.
Lula resiste
As medidas dizem respeito ao Orçamento de 2026. Em julho, também sobre pressão do mercado, a equipe econômica anunciou o congelamento de R$ 15 bilhões em gastos para este ano e mais R$ 25,9 bilhões para 2025.
Lula vinha resistindo a anunciar o tamanho dos cortes. Enviando sinais de que não gosta de se submeter a pressões externas, o presidente gosta de repetir que alguns tipos de despesas, como os programas sociais, não são gasto, são investimento. Também flerta com o não-cumprimento da meta fiscal, proposta pela própria equipe.
Uma nova rodada de cortes volta a tencionar o governo internamente. Como Lula, a maioria dos ministros tem pedido mais orçamento e verbas para suas respectivas pastas, não menos.
Decidir aonde vai cortar é a decisão que Lula não quer tomar. Da última vez, para acalmar os ânimos, a equipe econômica tirou "um pouco de cada". Agora, no entanto, alguns titulares das pastas já fazem saber que, mesmo que o corte seja geral e feito de forma justa, eles não têm mais onde espremer.
Ainda falta negociar com o Congresso. A proposta de corte de gastos deverá ser apresentada pelo Executivo em forma de PEC (Proposta de Emenda à Constituição), o que ainda cobra ao governo articulação para aprovação nas duas casas com o mínimo de perda possível. Haddad já começou as conversas.