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Professores fazem redação com tema do Enem 2024; leia exemplo

Estudantes se preparam para primeiro dia do Enem, que tem redação e 90 perguntas - Rafaela Araújo/Folhapress
Estudantes se preparam para primeiro dia do Enem, que tem redação e 90 perguntas Imagem: Rafaela Araújo/Folhapress
do UOL

Do UOL, em São Paulo

03/11/2024 18h21Atualizada em 03/11/2024 18h46

O tema da redação do Enem 2024 foi sobre os desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Para professores consultados pelo UOL, o assunto é inesperado, mas atual e relevante para ser discutido pelos candidatos do exame.

A equipe do Poliedro escreveu um modelo de redação dentro do tema proposto pelo Inep, órgão ligado ao MEC responsável pelo exame. O grupo é formado por professores e coordenadores. Leia abaixo:

No álbum "Sobrevivendo no Inferno", o grupo musical Racionais MC's denuncia a invisibilidade que os afrodescendentes enfrentam no seu dia a dia, marcado por violência física e moral. Essa obra, ao mesmo tempo em que evidencia a realidade de silenciamento da população negra, destaca a importância de resgatar as origens desse grupo social. Assim, as reminiscências da escravidão e a perspectiva eurocêntrica por meio da qual essa história é contada são desafios para a valorização da herança africana no Brasil.

De início, cabe discutir como a mentalidade escravocrata contribuiu para esse cenário de desvalorização. Isso acontece, pois, durante o Período Colonial, brancos acreditavam na ideia de que eram superiores a negros, o que legitimou a escravização de africanos em suas colônias e, como parte dessa ação, a imposição da cultura do colonizador. Nesse sentido, como o Brasil enfrentou mais de 300 anos de escravidão, isso alimentou, no pensamento social, a falsa lógica de inferioridade de afrodescendentes, dificultando a valorização de aspectos culturais que são herdados desse grupo na atualidade. Prova disso é o estigma que há, ainda hoje, em relação à prática da capoeira: frequentemente associada à vadiagem, tem seu caráter artístico apagado. Logo, fica evidente a continuidade da inferiorização fruto do período escravocrata.

Ademais, a desvalorização da cultura africana faz sobressair o eurocentrismo, responsável pela perpetuação desse preconceito estrutural. Tal questão ocorre, pois, como denunciado por Chimamanda Adichie, em seu discurso sobre "o perigo de uma história única", crianças e jovens são ensinados, desde muito cedo, a partir de uma perspectiva eurocêntrica, a qual sobrepõe a visão do colonizador em relação à dos escravizados. Nesse contexto, mesmo leis importantes, como a de nº 10.639, que prevê o ensino de história e cultura africanas nas escolas brasileiras, apresentam pouca adesão por parte das instituições, maculando a abordagem desse conteúdo e impedindo, por isso, o contato por parte dos estudantes. Desse modo, percebe-se como a centralização do currículo na cultura europeia é um entrave para a ampliação dos conhecimentos sobre a herança dos povos africanos no país.

Portanto, são necessárias medidas para garantir essa valorização. Para resolver esse problema, o Ministério da Educação — visto que é a instância máxima desse setor — deve ampliar esforços para incluir a cultura e a história africanas nas escolas brasileiras, por meio de parcerias com organizações da sociedade civil que capacitem gestores e educadores para ensinar esses conteúdos, a fim de que a visão para a herança africana seja ampliada e reconhecida. Dessa forma, o Brasil estará distante do cenário frequentemente denunciado pelos Racionais e mais próximo do idealizado pela Lei nº 10.639.

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