Diante de leve vantagem de Harris nas pesquisas, aumenta temor que Trump recuse eventual derrota
O clima é tenso nos Estados Unidos nesta segunda-feira (4), último dia de campanha eleitoral, e absolutamente ninguém se arrisca a dar qualquer palpite sobre quem vencerá a corrida à Casa Branca. Com várias pesquisas mostrando uma ligeira vantagem da candidata democrata, Kamala Harris, especialistas temem que Donald Trump não aceite uma eventual derrota.
Daniella Franco, enviada especial da RFI a Boston
As mídias americanas deram destaque durante todo o domingo (3) a quatro pesquisas que avaliam as de intenções de voto em nivel nacional, duas delas em que Kamala Harris tem uma ligeira vantagem e duas em que os dois candidatos estão empatados.
Na sondagem da Morning Consult, a democrata aparece com 49% das intenções de voto e Donald Trump com 47%. No levantamento do instituto Ipsos para a ABC News, Harris também tem 49%, mas com três pontos de vantagem sobre o rival, com 46%.
Outras duas pesquisas mostram empate: a da Emerson College para a NBC News, em que ambos têm 49% das intenções de voto, e a do instituto YouGov para o Yahoo News, em que tanto Harris como Trump têm 47% das intenções de voto.
Há também as pesquisas nos chamados Estados-pêndulo, aqueles que oscilam entre democratas e republicanos a cada eleição e que são decisivos na corrida à Casa Branca. Uma das últimas sondagens, divulgada na tarde de domingo pela Sienna College para o jornal New York Times, mostra Harris à frente por um ou dois pontos nos Estados de Nevada, Carolina do Norte, Wisconsin e Georgia, um empate na Pensilvânia e no Michigan, e Trump à frente no Arizona, por quatro pontos.
Também ganhou muito destaque nas mídias americanas neste fim de semana uma pesquisa Selzer para o jornal Des Moines Register, que mostra a vice-presidente liderando no Iowa, com 47% contra 44% para Trump. Nas duas últimas eleições presidenciais, o republicano foi vencedor neste Estado.
Recusa dos resultados
O canal de TV CNN afirma abertamente que o líder republicano está preparando o terreno para rejeitar os resultados, caso Kamala Harris vença. O próprio ex-presidente afirmou neste domingo em um comício em Lititiz, na Pensilvânia, que os democratas "estão lutando muito para roubar" votos.
No mesmo discurso, Trump também declarou que não deveria ter deixado a Casa Branca depois de perder as eleições de 2020. Ele ainda disse acreditar que os resultados têm que obrigatoriamente sair na noite de terça-feira (5), embora especialistas afirmem que, devido à previsão de uma diferença muito pequena entre os votos para cada campo, a contagem dos boletins pode demorar vários dias.
O magnata ainda relembrou a tentativa de assassinato contra ele em julho e acrescentou que, para que isso se repetisse, a bala teria que atravessar a multidão de meios de comunicação que cobrem seus comícios. "Para me atingir, alguém teria que disparar através das notícias falsas, e isso não me incomoda tanto", afirmou, rindo. A afirmação ganhou repercussão nas mídias de todo o mundo.
"Não tem nenhuma perspectiva de Trump aceitar o resultado em caso de derrota", afirmou à RFI o economista Maurício Moura, professor da Universidade George Washington, e diretor do Instituto de Pesquisa Ideia. Segundo o especialista, o campo mais radical da campanha republicana acredita que o ex-presidente já é vencedor e qualquer outro resultado será visto como fraude.
Além disso, o movimento "Stop the Steal" ("Parem o roubo", em português) que contestou a derrota de Trump há quatro anos, também voltou à ativa. Seus integrantes estão espalhando rumores, fake news e acusações sem provas, inundando as redes sociais americanas de denúncias de supostas irregularidades no voto antecipado. Mais de 75 milhões de eleitores ja votaram por meio desse método.
Segundo a imprensa americana, o grupo "Stop the Steal" já estaria inclusive pronto para contestar na justiça uma eventual derrota de Trump, para pressionar legisladores a bloquear as certificações eleitorais, e principalmente, para incitar protestos que culminariam em um novo 6 de janeiro de 2021, quando partidários de Trump invadiram o Capitólio para impedir que o Congresso americano ratificasse os resultados das eleições.
Final de campanha intenso
A candidata democrata estará nesta segunda-feira em três cidades da Pensilvânia: Allentown, Pittsburgh e Filadélfia, onde vai discursar em um grande espetáculo de encerramento de campanha, com participação da apresentadora Oprah Winfrey e apresentação da cantora Lady Gaga. Já Donald Trump tem quatro comícios marcados: em Raleigh, na Carolina do Norte, Reading e Pittsburgh, na Pensilvânia, e em Grand Rapids, no Michigan.
O domingo foi intenso para os dois candidatos. Harris esteve em três cidades do Michigan: Detroit, Pontiac e East Lansing. Ela celebrou a boa dinâmica em que ela se encontra, mas lembrou que a campanha ainda não terminou, dizendo que é preciso "finalizar de forma forte". Além de Lititiz, na Pensilvânia, Trump também discursou neste domingo em Kinston, na Carolina do Norte, e em Macon, na Georgia.
Temendo disturbios no dia das eleições e depois, durante a contagem de votos, as autoridades americana instalaram barreiras de proteção em torno da Casa Branca, do Capitólio e da residência de Kamala Harris.