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'É hardcore': ela foi em romaria com mãe e saiu 'marretada' urrando de dor

do UOL

Do UOL, em São Paulo

02/11/2024 05h30

A estudante de economia Vitória Braz, 25, decidiu acompanhar a mãe, Vilma Figueiredo, 60, na romaria para Aparecida do Norte (SP) deste ano. O que ela não esperava era que teria de desistir da jornada no meio do caminho após enfrentar diversas dores —que só diminuíram com uma "marretada" no meio da rodovia.

Sentei no chão e comecei a chorar de dor. Então, surgiu um homem para ajudar. Não sabia o que estava sentindo, deitei no chão, ele pôs a mão e falou: 'está fora do lugar'. E surgiu com a marreta [para bater nas minhas costas]. Só sei que me senti melhor depois.
Vitória Braz ao UOL

Vitória compartilhou a história no X (antigo Twitter) e divertiu as pessoas com o vídeo recebendo as marretadas. "Muita gente deu risada da situação", diz ela. Nas imagens, ela aparece deitada no acostamento enquanto recebe o "tratamento".

Segundo Vitória, é comum que pessoas estejam na estrada para apoiar os fiéis que sentem dores durante a jornada até Aparecida.

"Não sabia que existiam pessoas que andam na estrada só para ajudar. Tem gente que dá água e outros que fazem massagem, como foi o caso desse rapaz."

Como tudo começou

mae e filha - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Vitória Braz ao lado da mãe em romaria para Aparecida do Norte (SP)
Imagem: Arquivo pessoal

A estudante conta que a ideia de acompanhar a mãe na romaria surgiu no ano retrasado.

A avó dela, de 83 anos, enfrentou um problema de saúde e ficou internada na UTI. Assustada com a situação, a mãe prometeu que, se a avó de Vitória saísse bem do hospital, faria a romaria em agradecimento.

"Minha avó ficou bem e então minha mãe começou a buscar como ir a Aparecida", diz Vitória. A mãe dela, que trabalha como feirante, encontrou um grupo ao abordar uma pessoa na feira que estava com uma camiseta de uma romaria.

Minha mãe tem 60 anos, mas acabou escolhendo a mais intensa que tinha: para dormir em postos de gasolinas, montar barracas e andar pelo menos 50 km todos os dias para concluir a caminhada em 4.
Vitória Braz

Preocupada, Vitória decidiu acompanhar a mãe durante a jornada, de Guarulhos a Aparecida.

"Acho ela super durona, mas fiquei muito preocupada. Só que não me toquei que temos vidas diferentes: minha mãe é feirante, trabalha em pé, e eu passo o dia no computador. Não sabia que o pessoal da romaria era 'hardcore'. Faço academia, mas não achei que seria tão difícil, até porque tinham várias pessoas idosas."

A caminhada

Vitoria - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Vitória não concluiu a romaria com a mãe devido às dores
Imagem: Arquivo pessoal

No primeiro dia, tudo correu bem, apesar de ter sido intenso, diz Vitória. Já no segundo dia, as dores começaram —e ela precisou passar por uma "marretada" para continuar.

Já éramos as últimas do grupo e eu sentia muitas dores. Fiquei até com ânsia de vômito. Chegamos próximo a Santa Isabel e não conseguia andar mais. Sentei no chão e comecei a chorar.
Vitória Braz

Foi então que um massoterapeuta apareceu. Vitória diz que na hora só pensava na própria saúde. "Fiquei desesperada. Queria muito terminar a caminhada, queria ir até o final, não queria atrasar o grupo. Ele ainda surgiu com umas ventosas nas costas e tudo isso ajudou bastante."

Apesar das terapias, Vitória não conseguiu terminar a romaria.

"No terceiro dia, falei: 'mãe, não dá'. E minha mãe já estava super enturmada no grupo. Eu ficava para trás enquanto ela e outras mulheres estavam super dispostas. Todo mundo tinha uma promessa para agradecer. Eu estava ali só para acompanhar minha mãe."

Vitória, então, decidiu voltar para casa. "Fiquei muito triste, mas depois, quando recebi as fotos da minha mãe, fiquei feliz por ela."

Ela acredita que três fatores a fizeram sentir dor: andar em um desnível, com um pé mais alto que o outro, carregar uma mochila mais pesada que o recomendado e utilizar um sapato novo, que ainda não havia laceado.

A estudante resolveu compartilhar a situação no X, em tom cômico.

"Minha mãe prometeu que ia para Aparecida andando. Eu não poderia deixar minha mãe sozinha! Bati no peito e falei: Eu vou! Eram 168 km em 4 dias. Meu quadril saiu do lugar na Dutra e eu comecei a urrar de dor. Surgiu um cara com uma marreta. O resto é história", escreveu ela.

A publicação já tinha alcançado centenas de curtidas e visualizações, o que fez com que Vitória até reencontrasse o massoterapeuta que a ajudou. Mas, tempos depois, a estudante decidiu apagar o vídeo.

"Saiu da bolha e alcançou os mais diferentes tipos de gente. Quando o pessoal começou a xingar minha mãe e o massoterapeuta, achei que já era hora de parar por ali. E por isso deletei."

Agora, Vitória diz que já está totalmente recuperada das dores e deseja participar da próxima romaria. "Minha mãe quer fazer de novo, então provavelmente estarei lá —e mais preparada."

Quadril sai do lugar?

Só se acontecer um acidente muito grave. Na realidade, dizer que o quadril saiu do lugar é uma expressão imprecisa. O que ocorre é uma luxação do quadril —só ocasionada em situações de traumas muito graves e intensos, que não ocorreriam em uma caminhada, como explica o médico ortopedista Marco Aurelio Silverio Neves, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

No entanto, caminhadas de longa duração podem causar dores na região lombar. Quando uma pessoa não está habituada a um esforço intenso, por exemplo, a região pode ficar dolorida. Além disso, carregar muito peso e ter um desequilíbrio postural, como foi o caso de Vitória, também podem ser motivos para dores intensas na região lombar.

Técnica da "marretada" para aliviar as dores é controversa. A prática é conhecida como bone-setting (fixação óssea, em tradução livre) ou martelinho ortopédico. Ela é muito popular na Ásia e consiste em utilizar uma espécie de martelo com um bloco de madeira para aplicar batidas em algumas regiões do corpo. A ideia é realinhar articulações promovendo alívio da dor. No entanto, a prática não é aceita universalmente por profissionais de saúde.

Ela não é muito reconhecida, especialmente no Ocidente, como um tratamento que tem evidência científica. Essas técnicas podem até trazer algum alívio para a pessoa temporariamente devido a um relaxamento muscular ou uma sensação de cuidado que chamamos de efeito placebo. Mas ela pode causar alguma lesão mais grave. O importante é a pessoa ser avaliada e diagnosticada [com um médico].
Marco Aurelio Silverio Neves, ortopedista e traumatologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo

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