Dólar dispara ao maior valor desde maio de 2020 com insegurança fiscal e Trump
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparou nesta sexta-feira no Brasil e fechou na maior cotação em quase 4 anos e meio, com investidores procurando a proteção da moeda norte-americana em um cenário de desconfiança na política fiscal do governo Lula e de receios com a eventual vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos EUA.
O dólar à vista fechou o dia em alta de 1,53%, cotado a 5,8699 reais. Este é o maior valor de fechamento desde 13 de maio de 2020, quando encerrou em 5,9012 reais na esteira da escalada da pandemia de Covid-19.
Na semana, a divisa dos EUA acumulou elevação de 2,86%.
Às 17h42, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,35%, a 5,8870 reais na venda.
Pela manhã o dólar chegou a ceder ante o real, após a divulgação de dados fracos do relatório de empregos payroll dos Estados Unidos. O Departamento do Trabalho informou que a economia norte-americana abriu 12.000 postos de trabalho fora do setor agrícola em outubro, após 223.000 em setembro, em dado revisado para baixo. Economistas consultados pela Reuters previam criação de 113.000 vagas.
A discrepância se deu, aparentemente, pela dificuldade das instituições em fazer projeções no período por conta dos efeitos de furacões e greves em fábricas aeroespaciais durante o mês passado.
Logo após os dados, às 9h55, o dólar à vista atingiu a cotação mínima de 5,7629 reais (-0,32%), acompanhando a perda de força da divisa norte-americana também no exterior, mas o movimento não se sustentou.
Como em sessões anteriores, a expectativa de que o republicano Donald Trump derrotará a democrata Kamala Harris nas eleições de terça-feira e a falta de medidas fiscais do governo Lula fizeram o dólar subir ante o real e renovar patamares recordes dos últimos anos.
“Temos o dólar forte também lá fora, em função das eleições norte-americanas, porque a moeda é um porto seguro para os investidores -- e isso apesar do payroll fraco”, comentou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.
“No Brasil o governo prometeu para depois das eleições municipais diretrizes sobre o que cortar (das despesas), mas até agora não cortou nada, o que deixa o mercado impaciente”, acrescentou.
Como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estará em viagem à Europa da próxima segunda-feira a sábado, as medidas fiscais também não devem sair na próxima semana, pontuaram profissionais ouvidos pelo Reuters.
“A expectativa de um atraso na divulgação do pacote fiscal gera um clima de insegurança, especialmente com a viagem do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o que aumenta a desconfiança no mercado”, afirmou Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, em comentário enviado a clientes.
A leitura de que a solução para a área fiscal está longe de surgir acelerou a alta do dólar ante o real durante a tarde, com investidores buscando a proteção da moeda norte-americana antes do fim de semana e antes da bateria de eventos dos próximos dias: eleição dos EUA na terça-feira, reunião do Banco Central do Brasil sobre juros na quarta e decisão do Federal Reserve sobre juros na quinta.
Às 16h48, pouco antes do fechamento, o dólar à vista atingiu a máxima de 5,8759 reais (+1,63%).
A curva de juros brasileira também traduziu nesta sexta-feira o incômodo do mercado com a falta de soluções para a área fiscal e a possível vitória de Trump sobre Kamala, com alguns profissionais avaliando que os preços dos ativos no Brasil perderam os parâmetros.
Alguns profissionais chegaram a citar a expectativa de que o Banco Central pudesse entrar no mercado durante a tarde, por meio de leilões, para segurar as cotações do dólar ou pelo menos reduzir a volatilidade -- o que não ocorreu.
No fim da manhã o BC vendeu 14.000 contratos de swap cambial tradicional em leilão, mas neste caso apenas para rolagem do vencimento de 2 de dezembro de 2024, como vem fazendo diariamente.
No exterior, a moeda norte-americana também seguia em alta firme no fim da tarde, sob influência do “Trump trade” -- como vêm sendo chamadas as negociações de ativos tendo como horizonte a vitória do republicano. Às 17h36 o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,42%, a 104,320.