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Deslocados do sul do Líbano descobrem por mensagem que suas casas foram destruídas por Israel

Um homem gesticula da sacada de um prédio danificado após os ataques aéreos israelenses noturnos que atingiram o bairro de Mreijeh, nos subúrbios ao sul de Beirute, em 1º de novembro de 2024. - AFP
Um homem gesticula da sacada de um prédio danificado após os ataques aéreos israelenses noturnos que atingiram o bairro de Mreijeh, nos subúrbios ao sul de Beirute, em 1º de novembro de 2024. Imagem: AFP

AFP

01/11/2024 11h48

Ali Murad, um professor de direito que fugiu de sua casa na cidade de Aitaroun, no sul do Líbano, soube através de um vídeo que sua casa foi dinamitada por soldados israelenses.

"Um amigo me enviou o vídeo e me disse para ter cuidado para que meu pai não o visse", disse à AFP o advogado de 43 anos.

O pai de Murad tinha sua clínica na construção agora em ruínas. Mas ao ouvir a notícia, o pediatra e comunista de 83 anos "se manteve muito firme", acrescenta o filho.

Ele morava lá com a esposa, a filha e a neta desde os anos 2000, quando terminou a ocupação israelense de 22 anos no sul do Líbano.

Nas imagens registradas do céu, é possível ver como explosões simultâneas atingem diversos edifícios. A casa de Murad, localizada a "menos de um quilômetro" da fronteira, desapareceu em uma nuvem de fumaça cinzenta.

Há um ano, a área tem sido palco de constantes disparos transfronteiriços entre Israel e o movimento libanês Hezbollah, um aliado do Hamas em Gaza.

Desde o final de setembro, estes disparos se transformaram em uma guerra declarada, por isso Murad e sua família decidiram fugir.

"Órfãos de sua terra"

Murad só conheceu seu povo após o fim da ocupação israelense, aos 20 anos. Agora ele teme que seus dois filhos tenham o mesmo destino.

"Talvez eu tenha medo de vê-los viver como órfãos, longe de sua terra, como eu vivi", reconhece este professor da Universidade de Beirute.

Seu retorno é "um direito, uma obrigação, pela memória dos meus antepassados e para o futuro dos meus filhos", acrescenta.

Segundo a agência de notícias libanesa NNA, as tropas israelenses explodiram edifícios em pelo menos sete cidades fronteiriças em outubro, incluindo Odaisseh.

As redes sociais libanesas se agitaram com imagens de um jornalista da rede israelense N12 acionando explosivos em uma reportagem com os militares.

A família Baalbaki costumava se reunir em Odaisseh, uma casa de pedra branca construída pelo falecido pintor Abdel Hamis Baalbaki.

Seu filho Lubnan, de 43 anos, começou a comprar imagens de satélite quando a guerra começou. O objetivo era monitorar a casa e seu jardim, onde ficava o mausoléu de seus pais.

A casa foi dinamitada no final de outubro, confirma o maestro da Filarmônica do Líbano. Agora, ele quer descobrir se o mausoléu ainda está inteiro. É como se meus pais "morressem pela segunda vez", diz.

A casa abrigava uma biblioteca com mais de 2.000 livros e cerca de 20 obras de arte originais, incluindo pinturas de seu pai.

"Crime de guerra"

A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Líbano disse que "a atual campanha de destruição do Exército israelense no sul do Líbano é um crime de guerra".

Entre outubro de 2023 e outubro de 2024, "locais em pelo menos oito cidades libanesas foram destruídos de forma gratuita e sistemática", afirmou a comissão, baseada em imagens de satélite e vídeos compartilhados nas redes sociais por soldados israelenses.

Em seu site, a ONG libanesa Legal Agenda analisa o caso de Mhaibib.

As operações israelenses destruíram "a maior parte da cidade (...), incluindo 92 edifícios, casas e infraestruturas civis", disse.

"Não se pode explodir uma cidade inteira por ser um alvo militar", disse Hussein Chaabane, jornalista investigativo do grupo.

O direito internacional "proíbe atacar alvos civis", insiste.

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