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Viúva do motorista de Marielle diz que não perdoa Ronnie Lessa: 'Nunca'

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Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo

31/10/2024 20h38Atualizada em 31/10/2024 20h55

Ágatha Arnaus, viúva do motorista Anderson Gomes, disse que não perdoa Ronnie Lessa, assassino confesso do marido dela e da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). Ele e Élcio de Queiroz foram condenados nesta quinta-feira (31) pelos dois assassinatos, ocorridos em 2018.

O que aconteceu

"Alguém que claramente não tem qualquer arrependimento", disse Ágatha. "Ainda diz que é para aliviar a consciência. Quem tem que perdoar é Deus, ou qualquer coisa que ele acredite e possa fazer isso para ele. Eu não perdoo, nunca", afirmou a jornalistas após o julgamento. Lessa pediu desculpas durante depoimento na quarta-feira (30).

Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial e irmã de Marielle, disse à imprensa que "a luta continua". "A gente não para aqui. Ainda tem muita coisa pela frente. Não é só pela Marielle e pelo Anderson, é pelo projeto que a gente acredita. Para que todos nós saibamos que sair de casa para trabalhar e voltar é direito".

A filha de Marielle, Luyara Santos, também acompanhou ao julgamento e ressaltou a fala da tia. "A Ágatha queria o Anderson aqui, eu queria minha mãe aqui, mas, com certeza, o dia de hoje entra para a história da democracia neste país. A gente tem muitos passos pela frente ainda neste caso, mas este é o primeiro passo por eles. Vamos seguir lutando".

A condenação de Lessa foi de 78 anos e 9 meses de reclusão e 30 dias-multa; a de Queiroz, 59 anos e 8 meses, além de dez dias-multa. A decisão foi lida após dois dias de júri pela juíza Lúcia Mothé Glioche, titular do 4º Tribunal do Júri da Justiça do RJ.

Estratégias da acusação e da defesa

O Ministério Público tentou dissociar Marielle, durante a sustentação oral, da figura que se limitava a uma potência política de esquerda. A estratégia buscava convencer os jurados — homens, de "pele clara" e de "meia-idade", segundo o MP — a condenarem à pena máxima os então réus confessos.

Logo depois, a assistência de acusação 'racializou' o discurso para os mesmos jurados. Negra, a defensora pública Daniele Silva afirmou que "precisamos racializar sempre o debate. Precisamos sempre mostrar como nossos corpos são indesejados".

Saulo Carvalho, advogado de Lessa, reconheceu a importância pessoal e política de Marielle, além de verbalizar pesar pela morte de Anderson. Depois, afirmou que, se não fosse pela confissão do cliente, o crime nunca seria esclarecido e as autoridades jamais chegariam até os mandantes.

A advogada de Queiroz, Ana Paula Cordeiro, seguiu a mesma linha, dizendo que seu cliente assumiu o crime, mas que desejava que os jurados aplicassem uma pena justa. "Somente no caminho, da Barra da Tijuca até o centro da cidade, que foi informado pra ele [Queiroz] quem era Marielle. Ele [Queiroz] nunca tinha ouvido falar da Marielle. Ele [Queiroz] não planejou o crime", disse.

Motivação e mandantes

Em delação premiada à PF, Ronnie Lessa afirmou que foi contratado pelos irmãos Brazão - conselheiro do TCE-RJ e deputado - para assassinar a vereadora. Domingos e Chiquinho negam envolvimento no crime.

O delator também disse que o delegado Rivaldo Barbosa recebeu propina para proteger os atiradores e os mandantes dos assassinatos. O delegado também nega qualquer participação no crime.

Lessa afirmou que a motivação teve como principal motivação grilagem de terras na capital fluminense.

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