Irmão de brasileira assassinada na França vai a Paris recuperar corpo e trazer sobrinhos ao Brasil
O corpo da brasileira Juliana Oliveira Salomão, de 41 anos, morta na França pelo marido, Marcelo Salomão, em 24 de outubro, será liberado nesta quinta-feira (31), de acordo com o irmão da vítima, Elder Delatorre. Apesar da família não ter conseguido juntar a soma necessária para repatriar o corpo, estimada em R$ 80.000, um dos irmãos de Juliana, Wendes, chega a Paris nesta sexta-feira (1°).
Logo após o crime, a família de Juliana abriu uma conta em um site de arrecadação de fundos para custear o translado do corpo e gastos adicionais, como os de levar os filhos de Juliana, de 17 e 14 anos, para o Brasil. Até essa quinta-feira, a conta recebeu quase R$ 19.000 em doações.
Na segunda-feira (28), a família no Brasil conseguiu entrar em contato com os filhos da vítima, que continuam sob custódia do Ministério Público francês.
"Como foi trágico o fato e eles presenciaram e até tentaram evitar tudo isso, estão profundamente traumatizados. Em função desse quadro psicológico, eles estão no hospital ainda", explicou à RFI por telefone Elder Delatorre, que é pastor da Igreja Batista em Vitória, no Espírito Santo.
O irmão disse não saber quando e como os adolescentes serão liberados para viajar. Uma audiência judicial deve ocorrer na próxima semana. A família é assessorada pelo consulado do Brasil em Paris e busca advogados na França.
O crime aconteceu na casa onde a família morava, em Émerainville, cerca de 25 quilômetros a noroeste de Paris. O marido e pai dos garotos, Marcelo Salomão, é o principal suspeito de matar a esposa. Ele morreu no dia seguinte ao crime, após ter sido hospitalizado por tentativa de suicídio por enforcamento no porão do prédio da casa de Juliana.
Facadas no pescoço e nuca
Os dois estavam separados e ele morava a poucos metros de distância, em outro edifício. O promotor responsável pelo caso, Jean-Baptiste Bladier, confirmou que "a morte [da brasileira] foi resultado de múltiplas facadas", principalmente no pescoço e na nuca.
A polícia teria sido acionada por um dos filhos do casal, de 17 anos, que presenciou o momento e ficou ferido ao tentar proteger a mãe. Juliana tinha sido casada com Marcelo Simão durante 23 anos. O casal tinha uma terceira filha, Vitória, maior de idade, que está no Brasil. Segundo Elder, a família de seu ex-cunhado teria optado por cremar o corpo na França e não repatriá-lo.
"Tem hora que parece que tudo isso é um pesadelo e que a gente vai acordar em algum momento e as coisas vão voltar à normalidade. Para a gente, realmente está sendo muito difícil", diz o irmão de Juliana. "A gente sabe que a morte pode chegar a qualquer um de nós, a qualquer momento, mas não da forma como foi a da Juliana, com 41 anos, uma pessoa extremamente alegre, extremamente inteligente", deplora. "Talvez a gente só feche esse ciclo e entre naquela fase da saudade, das boas lembranças, após o sepultamento, porque o corpo dela ainda está aí [em Paris]", afirma.
Elder lamenta que a irmã tenha sentido vergonha de falar sobre a violência que sofria, por parte do ex-marido. "A pessoa que está passando por uma situação como essa, a mulher, principalmente, que está sendo agredida, não pode pensar que o marido vai mudar, que ele vai melhorar ou que ele vai ter algum tipo de conversão. Ela precisa ir pelo caminho da denúncia", alerta o pastor, que pretende criar um instituto em homenagem à Juliana para ajudar mulheres vítimas de violência doméstica.