Bolsa cai e dólar sobe com mercado ansioso por corte de gatos
A Bolsa de Valores de São Paulo trabalha nesta quinta-feira (31) em baixa. Por volta de meio-dia, o Ibovespa caia 0,27%, com o índice indo a 130.289 pontos.
O dólar tem alta de 0,23%, indo a R$ 5,777. O dólar turismo ia a R$ 5,99.
O que está acontecendo?
O mercado continua ansioso pelas medidas de contenção de gastos do governo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na noite da quarta-feira (30), que há uma "forçação boba" em torno do tema. O ministro disse ainda que "não teve nada" na reunião de ontem da Junta de Execução Orçamentária (JEO).
A falta de urgência nas respostas tem pressionado significativamente o câmbio e os indicadores econômicos. É o que diz Julio Mora, fundador e presidente da Choice Investimentos. "À medida que avançamos para o próximo mês, vemos espaço para uma piora nos índices caso não haja um anúncio consistente de corte de gastos. A demora só aumenta as expectativas", diz ele.
Juros x Bolsa
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) mostrou hoje que a taxa de desocupação no Brasil foi de 6,4% no trimestre terminado em setembro. É o menor resultado para esse período do ano em toda a série histórica, iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A notícia é ótima mas tem seu lado ruim também. "O outro lado dessa história é a inflação", explica Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. Como a maior parte dos empregos no Brasil é de baixa qualidade — muitas vezes subempregos — esse aumento na taxa de ocupação acaba resultando em aumento na inflação, principalmente a de serviços. O aumento da taxa de empresa só para de impulsionar a inflação, diz Gala, quando ele acontece provocado pelo aumento da produtividade. "É quando as vagas são mais sofisticadas, os empregos são melhores", afirma.
Por isso, esse dado é mais um que pode levar o Banco Central a aumentar a taxa Selic no dia 6, ou seja, na próxima "super quarta". Na data, tanto o Banco Central brasileiro quanto o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) divulgam suas novas taxas de juros. Também é o mesmo dia em que saberemos o resultado das eleições americanas.
Dólar
Internacionalmente, o câmbio está estável hoje. O índice DXY, que mede a variação do dólar em relação a seis moedas importantes também iniciou o dia no zero a zero, a 103,95 pontos — mostrando um certo alívio do "Trump Trade" (a alta da moeda que a possibilidade de eleição de Donald Trump provoca).
Mas hoje é o último dia útil do mês. "Então temos aquela disputa pela formação da taxa Ptax. Lembrando que nas horas cheias (10h, 11h, 12h e 13h) provavelmente a moeda deve apresentar uma volatilidade um pouco maior do que estamos vendo ao longo da semana", explica Marcio Riauba, gerente de operações da StoneX Banco de Câmbio. A Ptax é a taxa de referência média diária do dólar, calculada pelo Banco Central, e, como diz o nome, é referência para reajustes de diversos contratos cambiais.
Indicadores internacionais
Nos Estados Unidos, o custo de vida aumentou ligeiramente em setembro e se aproximou da meta do Fed. Conforme divulgou o Departamento de Comércio nesta quinta-feira, o índice de preços de despesas de consumo pessoal (Personal Consumption Expenditures, ou PCE, na sigla em inglês) teve aumento ajustado sazonalmente de 0,2% no mês, com a taxa de inflação de 12 meses em 2,1%, ambos em linha com as estimativas do mercado.
Esse dado é importante porque o Fed usa a leitura do PCE como seu principal indicador de inflação. A meta do Fed é uma inflação anual de 2%, nível que não é alcançado desde fevereiro de 2021. Isso até permite ao Fed um corte mais agressivo de juros na semana que vem. Mas o mercado aposta em uma baixa mais suave.
No Japão, o banco central local (BoJ) manteve o juro em 0,25%. A manutenção dos juros japoneses era amplamente esperada, mas os analistas acreditam que as taxas serão novamente elevadas nos próximos meses, assim que eleição americana passar e a economia do país se estabilizar.
Quanto maiores os juros no Japão, pior para o Brasil. Isso por conta das operações de "carry trade". Os investidores emprestam dinheiro no país oriental a juros baixos e investem aqui, onde as taxas são altas, para lucrar com a diferença. A economia brasileira se beneficia com isso, já que a entrada de dólares aqui ajuda na valorização do real.
Mas isso não tem acontecido. O fluxo cambial total na semana passada ficou negativo em US$ 1,672 bilhão, resultado da entrada de US$ 15 milhões pela conta comercial e saída de US$ 1,687 bilhão pela via financeira, informou ontem o Banco Central. O fluxo total acumulado em outubro está positivo em US$ 244 milhões. No ano, já entraram US$ 6,763 bilhões.
Na Bolsa, especificamente, a situação é pior. A fuga de capital externo beira os R$ 2 bilhões este mês. No acumulado de 2024, a conta está negativa em R$ 30,177 bilhões.