Na França, 735 pessoas em situação de rua morreram em 2023; um "triste recorde", diz coletivo
O número de 735 mortos sem um teto em 2023 é sem precedentes, de acordo com um censo realizado pelo coletivo de defesa de pessoas sem moradia Les Morts de la Rue (Os mortos da rua, em tradução livre). A entidade denuncia a "indiferença" a que esta população está sujeita.
O número de 735 mortos sem um teto em 2023 é sem precedentes, de acordo com um censo realizado pelo coletivo de defesa de pessoas sem moradia Les Morts de la Rue (Os mortos da rua, em tradução livre). A entidade denuncia a "indiferença" a que esta população está sujeita.
O coletivo, que realiza esta contagem desde 2012, indica que este foi o maior número de mortes de pessoas sem abrigo já registrado, ficando acima de 2022, quando 624 pessoas morreram na rua. A associação adverte que esses dados devem ser interpretados "com cautela", já que "uma parte significativa das mortes" escapa ao estudo.
É difícil saber com precisão o número de pessoas vivendo em situação de rua na França. Segundo a Fundação Abbé Pierre, 330 mil pessoas estariam nesta situação, mas conforme a última estimativa oficial do Instituto Nacional de Estudos e Estatísticas francês (INSEE), em 2012, o número era de 143 mil indivíduos.
Em 2023, o coletivo identificou 735 sem moradia que morreram, mas o total sobe para 826 se incluídas as pessoas que já não estavam mais nesta situação. Os anos de vida passados na rua geram consequências na saúde, alerta a organização. A idade média de mortalidade dos indivíduos identificados ronda os 49 anos, quase 30 anos a menos que a população em geral.
A grande maioria das mortes afeta homens (86%), embora a proporção de mulheres tenha aumentado em comparação com anos anteriores.
Quase um terço das mortes ocorre em espaços públicos (32%), seguidos de locais de cuidados (30%), o que revela um aumento em relação aos anos anteriores, indicando "uma dificuldade" em ter acesso a "cuidados ou ser cuidado no final da vida".
Cerca de 22% das mortes são causadas por fatores externos, como acidentes de transporte (5%) ou agressões (5%), enquanto menos de 1% estão relacionadas com o consumo de álcool ou drogas.
O coletivo critica diversas medidas públicas que penalizam estas pessoas, como a lei contra a ocupação ilegal de moradias ou mesmo decretos municipais que proíbem a distribuição de alimentos em determinados bairros de Paris ou Calais, cidade que acolhe um número importante de migrantes, no norte da França.
(Com AFP)