Eleições americanas: em Boston, preferência por Kamala Harris é incontestável
Berço da independência americana, Boston é uma cidade tradicionalmente progressista. Pelas ruas da capital do Estado do Massachusetts, o apoio dos eleitores à candidata democrata Kamala Harris é quase exclusivo.
Daniella Franco, enviada especial da RFI a Boston
"Vamos fazer o que pudermos para levar Kamala Harris à presidência", diz Gevans, 20 anos, estudante de finanças na prestigiosa Boston College. Para esse jovem americano descendente de haitianos, votar no candidato republicano está descartado, por um principal motivo: "as declarações de Trump sobre os imigrantes são muito tristes para mim".
No mesmo campus, a estudante de ciência política Lixi, 21 anos, tem outra justificativa para não votar em Trump. "Há muitos debates sobre os direitos das mulheres ocorrendo, então quero um candidato à presidência que reflita o que eu quero ver para a minha geração e principalmente para o meu gênero", explica.
As pesquisas são unânimes em apontar Harris na liderança da preferência do eleitorado em Massachusetts. Uma das sondagens mais recentes, divulgada na terça-feira (29) pelo Emerson College para o canal de TV local 7News, aponta que, neste Estado, a democrata tem 59% das de intenções de voto contra 36% para Trump.
A previsão não é surpreendente: Massachusetts participou de todas as 59 eleições presenciais americanas desde a independência do país, em 4 de julho de 1776. Em toda a história dos Estados Unidos, os republicanos venceram em Massachusetts apenas quatro vezes, duas com Dwight Eisenhower, em 1952 e 1956, e duas com Ronald Reagan, em 1976 e 1980.
Estado vanguardista
Massachusetts foi o primeiro Estado americano a estabelecer uma constituição, em 1780, que se tornaria mais tarde base da primeira Carta Magna dos Estados Unidos. Foi também o primeiro Estado a abolir a escravatura, em 1781. Em 1852, adotou leis sobre a educação compulsória a crianças. Mais recentemente, em 2004, foi o primeiro a descriminalizar o casamento entre as pessoas do mesmo sexo. Em 2021, protegeu em sua legislação o direito das mulheres a interromper uma gestação indesejada, meses antes do cancelamento do decreto Roe vs Wade pela Suprema Corte.
A cientista política Daniela Melo, professora da Universidade de Boston, lembra que Massachusetts é também o bastião da família Kennedy, "que continua sendo uma grande influência em toda a estrutura do Partido Democrata". O Estado também abriga algumas das maiores universidades e centros de pesquisa do mundo, como a Harvard e o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), sendo um importante polo intelectual, científico e tecnólogico. Não por acaso esse também é o Estado com a maior população com estudos superiores.
No entanto, Daniela Melo lembra que o governo do Massachusetts, atualmente a cargo da democrata Maura Healey, oscila frequentemente entre os dois partidos. O Estado segue a tendência nacional em que os meios urbanos votam no Partido Democrata. Já as áreas rurais, no centro, tendem a votar à direita. "Trump é muito mais forte nessas zonas e lidera as intenções de voto em algumas cidades do interior", diz.
Disputa eleitoral decidida
Massachusetts conta com 11 membros no Colégio Eleitoral americano, de um total de 538. A disputa no Estado está praticamente decidida em prol de Kamala Harris. Essa definição afastou Massachusetts dos grandes comícios e eventos de campanha.
O foco dos dois principais candidatos nos eleitores indecisos dos chamados Estados-pêndulo, que devem decidir a corrida eleitoral para a Casa Branca, suscita uma experiência particular ao eleitores de Massachusetts, na avaliação de Filipe Campante, economista e professor de economia política da universidade Johns Hopkins.
"Para eles, a campanha eleitoral é vista como algo que está ocorrendo em outro lugar, na Pensilvânia ou na Carolina do Norte", observa. "Os eleitores de Massachusetts estão extremamente envolvidos, mobilizados, mas desta forma estranha, porque o voto deles acaba valendo muito pouco no final", conclui.