À espera de definições, Ibovespa segue aos 130,6 mil, perto da estabilidade
A confiança manifestada nesta quarta-feira, 30, pelo ministro Fernando Haddad na sustentabilidade do arcabouço fiscal e na ancoragem das expectativas teve o efeito oposto a declarações do titular da Fazenda na terça, quando ele tinha indicado não haver data definida para o anúncio de cortes de gastos - pacote que o mercado esperava, anteriormente, que pudesse ser entregue tão logo encerrado o segundo turno das eleições municipais, no domingo. Assim, o dia ainda foi de avanço do dólar e da curva de juros doméstica em parte da sessão, mas em padrão mais discreto.
Na B3, o Ibovespa operou nesta quarta-feira em variação estreita, entre mínima de 130.472,60 e máxima de 131.026,92 pontos, saindo de abertura aos 130.729,93. O giro financeiro se manteve acomodado na sessão, a R$ 17,0 bilhões, e o índice de referência fechou bem perto da estabilidade (-0,07%), aos 130.639,33 pontos. Na semana, o Ibovespa mostra ganho de 0,69%, mas segue no negativo no mês (-0,89%), faltando a sessão de quinta-feira para o encerramento de outubro. No ano, cede 2,64%.
"Há conforto ainda do investidor com relação à renda fixa, considerando o nível atual da Selic - que deve voltar a subir na decisão do Copom na semana que vem. Um primeiro momento de retomada do interesse pela renda variável pode emergir quando vier a concretização de iniciativas favoráveis, como a redução de gastos públicos prometida pelo governo, com efeito na ponta longa da curva de juros, que tem se mantido pressionada", observa Isabel Lemos, gestora de renda variável do Fator.
A mediana do mercado indica que haverá corte de R$ 25,50 bilhões nas despesas do governo, no âmbito das medidas de ajuste fiscal atualmente em discussão pelo Ministério da Fazenda, conforme levantamento dos jornalistas Daniel Tozzi Mendes, Gabriela Jucá e Anna Scabello, do Projeções Broadcast.
O volume de cortes previsto pelo mercado, porém, ainda deverá ficar aquém do necessário para o cumprimento das regras fiscais do ano que vem. A mediana do mercado indica necessidade de cortes de R$ 49,50 bilhões em 2025 para cumprimento dos limites de gastos definidos no novo arcabouço fiscal.
Para Lucas Moreira, especialista em investimentos do Grupo Fractal, "incertezas fiscais e inflação resiliente continuam pressionando o real", e "a confiança na política monetária e na estabilidade fiscal será crucial para conter uma desvalorização mais acentuada da moeda". Afora as questões domésticas, "a proximidade das eleições nos EUA e possíveis mudanças na política econômica americana podem aumentar a volatilidade cambial até o final do ano", acrescenta. Nesta quarta-feira, o dólar à vista subiu 0,03%, a R$ 5,7634, com máxima na sessão perto dos R$ 5,80, a R$ 5,7927.
"Após divulgação do PIB dos EUA, que veio abaixo do esperado, investidores refazem projeções, com a possibilidade de um resultado menor para a atividade econômica estimular um corte de juros mais acentuado na próxima reunião do Federal Reserve", na próxima semana, diz Robert Machado, analista da CM Capital.
Além dos desdobramentos em torno do cenário macroeconômico - o que envolve também a definição eleitoral nos Estados Unidos, também aguardada para a próxima semana -, Isabel, do Fator, destaca a temporada doméstica de resultados corporativos do terceiro trimestre, com foco em segmentos como os de bancos, construção civil e consumo discricionário, para os quais mantém perspectiva positiva. "O Ibovespa tem peso grande de bancos e commodities, e é importante olhar fora desses setores."
Nesta quarta-feira, com a relativa estabilização da curva doméstica, parte do setor de consumo e construção, sensível a juros, mostrou recuperação. Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque para nomes como CVC (+4,35%), Magazine Luiza (+4,01%), Carrefour (+3,32%), MRV (+3,02%) e Cyrela (+3,01%). No lado oposto do índice, WEG (-5,16%), Embraer (-2,08%), IRB (-1,73%) e Rede D'Or (-1,69%).
Entre as blue chips, tanto Petrobras como Vale mostraram perdas no fechamento, em sessão mista para os grandes bancos - ao final, majoritariamente positiva -, com destaque para a recuperação parcial de Santander Brasil, que na terça havia cedido pouco mais de 5% e nesta quarta subiu 2,04%, em ajustes posteriores ao balanço do terceiro trimestre, na abertura da temporada de resultados das maiores instituições financeiras. Petrobras ON e PN recuaram respectivamente 0,87% e 0,44% (mínima do dia no fechamento), na sessão desta quarta, enquanto Vale ON cedeu 0,30%.
"Somente em julho e agosto registramos um leve fluxo positivo na Bolsa: o ano, no geral, tem sido de saída de capital, o que preocupa, considerando a necessidade de um fluxo estrangeiro consistente para expansão de negócios. Esse cenário é agravado por uma taxa de juros elevada, com os juros futuros em torno de 12,70% ao ano, em níveis vistos apenas em 2022 no contexto pós-pandemia", aponta Anilson Moretti, head de câmbio da HCI Invest.