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Ocidente exige investigação sobre relatos de violações em eleição na Geórgia, Rússia nega interferência

28/10/2024 10h31

Por Felix Light e Lucy Papachristou

TBILISI (Reuters) - A presidente da Geórgia convocou protestos em Tbilisi na noite de segunda-feira, depois que o partido governista declarou vitória em uma eleição parlamentar marcada por relatos de violações que, segundo os países ocidentais, devem ser totalmente investigadas.

Os resultados da eleição de sábado são um golpe para os georgianos pró-Ocidente que viam o pleito como uma escolha entre um partido governista que aprofundou os laços com a Rússia e uma oposição que pretende acelerar a integração com a Europa.

O partido governista Sonho Georgiano obteve quase 54% dos votos, de acordo com a comissão eleitoral do país.

No entanto, os monitores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) disseram que registraram incidentes de compra de votos, intimidação de eleitores e enchimento de urnas que poderiam ter afetado o resultado. Mas eles não chegaram a dizer que a eleição foi fraudada.

A presidente georgiana, Salome Zourabichvili, ex-aliada do Sonho Georgiano e que se tornou sua principal crítica, pediu que a população saísse às ruas para protestar contra os resultados da votação.

Em um discurso no domingo, Zourabichvili -- cujos poderes são principalmente cerimoniais -- referiu-se ao resultado como uma "operação especial russa". Ela não esclareceu o que quis dizer com o termo.

Zourabichvili pediu aos georgianos que protestassem no centro da capital na noite de segunda-feira para mostrar ao mundo "que não reconhecemos essas eleições".

A Rússia negou com veemência as acusações de interferência nas eleições.

"Rejeitamos veementemente tais acusações -- como você sabe, elas se tornaram padrão para muitos países. À menor coisa, eles imediatamente acusam a Rússia de interferência... Não houve interferência e as acusações são absolutamente infundadas", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, nesta segunda-feira.

Peskov descreveu o resultado da eleição como "a escolha do povo georgiano" e disse que era o Ocidente, e não a Rússia, que estava tentando desestabilizar a situação.

"ORDEM CONSTITUCIONAL" DESAFIADA

O primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Kobakhidze, acusou a oposição nesta segunda-feira de tentar "abalar a ordem constitucional" do país, informou a mídia local. Ele também disse que seu governo continua comprometido com a integração europeia.

Mas entre as respostas mais fortes na Europa aos eventos em Tbilisi, o Ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, disse que os partidos de oposição da Geórgia estão "absolutamente certos" em contestar os resultados das eleições, e ele também apontou o dedo para Moscou.

"Todos nós sabemos quais são os sistemas de interferência russos", disse ele ao jornal italiano Il Messaggero em uma entrevista publicada nesta segunda-feira.

Na segunda-feira, a aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) acrescentou sua voz aos pedidos por uma investigação completa do que chamou de "campo de jogo desigual" na eleição da Geórgia, ecoando uma exigência anterior do Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken.

"(...) incentivamos os líderes políticos da Geórgia a respeitarem o Estado de Direito, revogarem a legislação que prejudica as liberdades fundamentais e resolverem juntos as deficiências do processo eleitoral", disse Blinken em sua declaração.

As ações dos bancos georgianos listados em Londres caíram nesta segunda-feira, com o TBC Bank caindo 9,8% e o Bank of Georgia caindo 7,3%, em meio a preocupações com uma possível instabilidade política.

A União Europeia também fez um apelo para a Geórgia investigar de forma rápida e transparente as supostas irregularidades na votação.

"A UE lembra que qualquer legislação que prejudique os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos da Geórgia e seja contrária aos valores e princípios nos quais a UE se baseia deve ser revogada", disse a Comissão Europeia em uma declaração conjunta com o chefe de política externa da UE, Josep Borrell.

Durante anos, a Geórgia foi um dos países mais pró-Ocidente a emergir da União Soviética, com pesquisas mostrando que muitos georgianos não gostam da Rússia por seu apoio a duas regiões separatistas de seu país.

A Rússia derrotou a Geórgia em sua breve guerra pela província rebelde da Ossétia do Sul em 2008.

O resultado da eleição representa um desafio para a ambição da UE de se expandir com a entrada de mais ex-estados soviéticos.

No início deste mês, a Moldávia aprovou por pouco a inclusão de uma cláusula na Constituição do país que define a adesão à UE como uma meta. As autoridades moldavas disseram que a Rússia se intrometeu na eleição, uma alegação negada por Moscou.

(Reportagem de Felix Light, Lucy Papachristou, Sabine Seibold e Costas Pitas)

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