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Família de capixaba vítima de feminicídio na França arrecada dinheiro para repatriar corpo

28/10/2024 12h48

O caso da brasileira Juliana de Oliveira Salomão, 41 anos, morta a facadas em casa na frente dos filhos menores, perto de Paris, na quinta-feira (24), comoveu a comunidade brasileira na França e conterrâneos. Ela nasceu em Vila Valério e foi criada em Nova Venécia, Espírito Santo, onde vive uma parte dos familiares. Uma vaquinha online, organizada por um dos irmãos da vítima, contabilizava nesta segunda-feira (24) mais de R$ 11 mil em arrecadações. 

Luiza Ramos, da RFI 

Até o meio-dia de segunda-feira, hora de Brasília, já passava de 200 o número de participantes nas doações para custear o translado do corpo e dar apoio aos filhos, de 17 e 14 anos, que estão na França. Os adolescentes, que vivem na região parisiense há cinco anos, estão agora sob cuidados de assistentes sociais após presenciarem a morte da mãe. A meta da família é alcançar o valor de R$ 80 mil para também comprar as passagens dos dois menores e pagar custos hospitalares, além de tratamento psicológico e psiquiátrico.

O crime aconteceu na casa onde a família morava em Émerainville, cerca de 25 km a noroeste de Paris. O marido e pai dos garotos, Marcelo Salomão, é o principal suspeito de matar a esposa. Ele morreu no dia seguinte do crime após tentativa de suicídio por enforcamento no porão do prédio da casa de Juliana. Os dois estavam separados e ele morava a poucos metros de distância, em outro edifício.

O promotor responsável pelo caso, Jean-Baptiste Bladier, confirmou que "a morte (da brasileira) foi resultado de múltiplas facadas", principalmente no pescoço e na nuca.

A polícia teria sido acionada pelo filho de 17 anos, que presenciou o momento e ficou ferido ao tentar proteger a mãe. Após cometer o crime, o marido foi encontrado "pendurado no porão do prédio" em que a vítima morava e levado ao hospital, mas não resistiu e faleceu no dia seguinte.

Nas redes sociais, o casal tinha fotos de viagens juntos pela França e a maioria dos fmailiares de Juliana não sabia da recente separação. 

Os antecedentes do caso 

Contactada pela RFI, a irmã de Juliana, Danielle de Oliveira Pigatti, que mora na mesma cidade onde o casal se conheceu, Nova Venécia-ES, detalhou que a família da irmã foi para a França com o sonho de "tentar uma situação financeira melhor".

"Marcelo foi primeiro e Juliana foi com os filhos em fevereiro de 2019. Eram casados há 22 anos com mais três anos de namoro e tiveram três filhos. (...) Ele passou a agredi-la depois de irem para a França. Na última agressão, Juliana reuniu forças, fez a denúncia e tinha uma medida protetiva. Nós não sabíamos das agressões. Ultimamente desconfiamos que algo não estava certo, pressionei e ela contou tudo", recordou Danielle.

Segundo a irmã de Juliana, Marcelo Salomão já não vivia no mesmo apartamento que a esposa há cerca de três meses. Fato confirmado por uma vizinha. A artista plástica Cristiane Batista contou que o casal e os três filhos moravam juntos na casa onde o crime aconteceu, mas "o Marcelo veio morar no mesmo prédio que eu, por conta da separação. Então o que eu via eram os meninos vindo ver ele e poucas vezes ele interagiu com a gente", disse em entrevista à RFI.

Cristiane contou que alguns dias antes do crime, na segunda-feira (21/10), ela foi surpreendida com muitos policiais na porta de casa: "o apartamento dele é ao lado do meu, ele mesmo abriu a porta, a polícia entrou e ficou mais de uma hora lá. Havia bombeiros também que entraram depois. Parece que ele ameaçou se suicidar e ela [Juliana] chamou os bombeiros. Eles foram embora e só tivemos notícias do Marcelo quando a polícia bateu na nossa porta quinta-feira [dia do assassinato]. Eu estava no trabalho, mas minha filha estava em casa e pediram para ela testemunhar uma busca no apartamento dele. Recolheram algumas coisas, inclusive um rolo de corda. E informaram que ele tinha cometido um crime muito grave. Só depois ficamos sabendo o que houve", detalhou a artista plástica, associando à corda encontrada pelos policiais ao suicídio do homem.   

Os fatos indicam que a motivação do crime seria Marcelo não aceitar o fim da relação de 25 anos.

 

Mais uma família despedaçada pelo feminicídio

Nas redes sociais, os familiares da capixaba estão inconsoláveis. Élder Delatorre, irmão da vítima e pastor em Vitória-ES, fez um relato emocionado agradecendo a ajuda e as orações recebidas: "Esse momento tem sido muito difícil para todos nós. A gente escuta sobre essas coisas terríveis acontecendo em todos os lugares, mas a gente nunca imagina que isso pudesse acontecer com a nossa própria família. Peço que continuem orando e compartilhando", declarou. 

A irmã Danielle de Oliveira Pigatti relatou que a filha maior de idade de Juliana e Marcelo está com ela em Vitória desde janeiro, mas se encontra em estado de choque: "minha sobrinha não tem condições falar". Já o filho de 17 anos, que teria tentado defender a mãe das facadas proferidas pelo pai e acabou ferido, já estaria fora de perigo, segundo a tia.  

Danielle esclareceu ainda que o adolescente e o irmão mais novo de 14 anos, também presente na casa no momento do crime, estão sendo cuidados pelas autoridades francesas. De acordo com a tia, por precaução, os meninos estão "longe das redes sociais, não podem receber visitas e estão fazendo atividades físicas". Algum membro da família de Juliana deve viajar à França para agilizar a liberação do corpo, mas ainda não se sabe a data exata, tudo depende do andamento das investigações e as arrecadações financeiras da família no Brasil. 

A família de Juliana estabeleceu contato com o Consulado do Brasil em Paris para orientações sobre o processo de repatriação do corpo e sobre a intenção dos familiares de seguirem os cuidados dos filhos da capixaba no Brasil. Até o momento não houve contato de nenhum familiar de Marcelo Salomão com as autoridades francesas ou brasileiras.

Para doar clique no link da arrecadação virtual.

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