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"CO2 se acumula na atmosfera mais rápido do que em qualquer outro período da existência humana", diz ONU

28/10/2024 11h38

A Organização Mundial de Meteorologia (OMM) publicou nesta segunda-feira (28) o relatório anual sobre os diferentes gases de efeito estufa presentes na atmosfera. Embora o CO2 represente 65% deles, o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O) também estão envolvidos nas mudanças climáticas. Outro relatório da ONU-Clima pede aos países que aumentem as metas de seus planos climáticos para se alinharem com os objetivos do Acordo de Paris.

Em 2023, devido às atividades humanas, as concentrações desses três gases na atmosfera bateram novos recordes e continuam a aumentar. Enquanto as emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis e de mudanças do uso da terra (desmatamento para agricultura e pecuária) persistirem, estes gases continuarão a se acumular, elevando as temperaturas, lamenta a OMM em seu boletim anual divulgado nesta segunda-feira (28).

"O CO2 está se acumulando na atmosfera mais rapidamente do que nunca na história da humanidade", alerta o relatório da OMM divulgado esta manhã. O índice aumentou 11,4% em apenas 20 anos. O nível de concentração é 51% mais alto em comparação a 1750, ano da Revolução Industrial usado como parâmetro. As causas incluem a queima de combustíveis fósseis, mas também os incêndios florestais no Canadá e na Austrália, além do fenômeno El Niño, que no ano passado reduziu a capacidade das plantas de absorver parte de nossas emissões.

Outro gás de efeito estufa, o metano, também atingiu um nível recorde. Em 2023, as bactérias nas áreas úmidas foram as que mais o produziram, segundo os especialistas. Embora o fenômeno seja natural, aumenta quando está mais quente, criando um ciclo vicioso de emissões e aquecimento global.

Por fim, o óxido nitroso também está em alta, devido ao uso de fertilizantes nitrogenados pela agricultura intensiva. "Mais um ano. Mais um recorde. Isso deveria ser um sinal de alerta entre os tomadores de decisão. Estamos claramente atrasados em relação à meta do Acordo de Paris" sobre o clima de 2015, declarou Celeste Saulo, secretária-geral da OMM.

Impactos

Considerando a duração de vida do CO2 na atmosfera, os níveis de temperatura atuais se manterão por décadas, mesmo que as emissões diminuam rapidamente para alcançar zero líquido. Em 2023, as concentrações de CO2 alcançavam 420 partes por milhão (ppm), as de metano 1934 partes por bilhão (ppb) e as de óxido nitroso 336 ppb. O que representa, respectivamente, 151%, 265% e 125% dos níveis de 1750 (+1 ponto em um ano para os três gases).

"São mais do que simples estatísticas. Cada parte por milhão e cada fração de grau de aumento de temperatura têm um impacto real em nossas vidas e em nosso planeta", afirmou Celeste Saulo em um comunicado. "Em relação ao CO2, o aumento de 2,3 ppm observado em 2023 é o 12º aumento anual consecutivo superior a 2 ppm. Isso se deve "às emissões de CO2 de combustíveis fósseis historicamente importantes nas décadas de 2010 e 2020", segundo o boletim.

"O CO2 está se acumulando na atmosfera mais rapidamente do que em qualquer outro período da existência humana", alerta a OMM. "A Terra já havia experimentado uma concentração semelhante de CO2 de 3 a 5 milhões de anos atrás, quando a temperatura era de 2 a 3°C mais alta e o nível do mar de 10 a 20 metros mais alto do que hoje", lembra.

"Estamos enfrentando um círculo vicioso", alerta Ko Barrett, secretária-geral adjunta da OMM. "A variabilidade natural do clima desempenha um papel importante no ciclo do carbono. Mas os ecossistemas podem em breve se tornar fontes mais significativas de gases de efeito estufa devido às mudanças climáticas. Incêndios florestais podem liberar mais emissões de carbono na atmosfera, enquanto o oceano mais quente absorverá menos CO2. Assim, mais CO2 pode permanecer na atmosfera e acelerar o aquecimento do planeta. Esses feedbacks climáticos são preocupações significativas para a humanidade", sublinha.

Planos de ação climática nacionais precisam ser "mais ambiciosos"

Em outro relatório publicado nesta segunda-feira, a ONU-Clima pede que os Estados reajam e iniciem a redução das emissões. As estratégias climáticas dos países "estão longe de atender às necessidades para evitar que o aquecimento do planeta paralise todas as economias e destrua bilhões de vidas e meios de subsistência", destacou Simon Stiell, secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC).

O relatório é a síntese anual dos últimos compromissos de redução de emissões - chamados de "contribuições determinadas nacionais" (NDC) - assumidos pelos 195 signatários do Acordo de Paris de 2015, que representavam 95% das emissões globais em 2019.

No entanto, se as NDC atuais fossem bem implementadas hoje, elas reduziram apenas 10% do total de emissões até 2030, segundo o relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), publicado na quinta-feira (24).

O aquecimento climático seria, então, de 2,6°C ao longo do século. O chefe da ONU-Clima pede para "pôr fim à era da insuficiência e desencadear uma nova era de aceleração, com novos planos de ação climática nacional muito mais audaciosos de cada país esperados para o próximo ano."

O ano de 2023 foi o mais quente já registrado na história, desde que a média das temperaturas anuais começou a ser medida. O aumento das temperaturas agrava, em escala planetária, a escassez de recursos hídricos.

Analisando dados de 33 anos, a organização constatou que os cursos d'água do planeta alcançaram, no ano passado, um nível de seca nunca visto nesse período. As altas temperaturas e a fraqueza generalizada das precipitações contribuíram também para secas prolongadas.

Por outro lado, as inundações também se multiplicaram pelo planeta: os eventos hidrológicos extremos foram favorecidos não apenas por fatores climáticos naturais, incluindo a transição de condições de La Niña para um episódio de El Niño em meados de 2023, mas também pela mudança climática de origem humana, indicou a OMM no início de outubro.

"A elevação da temperatura acelerou o ciclo hidrológico, que também se tornou mais irregular e menos previsível", explicou Celeste Saulo. As consequências se cruzam: "Uma atmosfera mais quente pode conter mais umidade, e o aquecimento climático aumenta o risco de fortes precipitações", enquanto "paralelamente, a aceleração da evaporação e o ressecamento dos solos agravam as secas."

Os relatórios anuais do PNUMA, da OMM e da ONU-Clima são um alerta aos Estados e aos tomadores de decisão e são publicados durante a COP16, em Cali, e a duas semanas da abertura da COP29, a próxima cúpula sobre clima da ONU, que ocorrerá de 11 a 22 de novembro em Baku, no Azerbaijão.

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