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Candidato de centro-esquerda à presidência do Uruguai deve investir em relação com o Brasil

28/10/2024 11h08

O resultado do primeiro turno da eleição presidencial no Uruguai, neste domingo (27) foi de paridade entre governistas e opositores, com crescimento da política tradicional, e com esvaziamento de propostas extremistas ou antissistema. Apuradas 99,92% das urnas, o candidato opositor Yamandú Orsí obteve 43,94%, e o governista Álvaro Delgado ficou com 26,77%.
 

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

"Nossa Frente Ampla é novamente o partido mais votado do Uruguai", celebrou Yamandú Orsi no seu discurso de vitória parcial em um hotel próximo da chamada Cidade Velha de Montevidéu. "Somos o partido que mais cresceu nestas eleições", enfatizou. Orsi poderia visitar o presidente Lula em Brasília, já que o Brasil é o principal parceiro do Uruguai. "Não tenho dúvida de que o candidato da Frente Ampla vai mostrar que a relação com o Brasil é da alçada dele", aposta o analista internacional Álvaro Padrón. 

"A Frente Ampla foi muito bem. Em 2019, obteve 39%; agora 44%. São cinco pontos de crescimento. O problema foi as expectativas que construiu no eleitorado ao afirmar que ganharia no primeiro turno e que formaria maioria nas duas câmaras. Com isso, mesmo com uma boa votação, gerou frustração", explica à RFI o analista político e diretor da consultora Factum, Oscar Bottinelli, a maior referência em pesquisas de opinião do Uruguai.

Mas os analistas também advertem que a lógica de somar todos os resultados do primeiro turno, projetando-os linearmente para o segundo, só funciona para o Congresso porque depende apenas dos legisladores eleitos. Quando se trata de eleitores, quatro semanas depois, entram em jogo outros elementos.

"No primeiro turno, era uma disputa entre partidos. No segundo turno, são alianças partidárias que não necessariamente se refletem na vontade do eleitor. Vamos ver como funciona o papel aglutinador do presidente Luis Lacalle Pou na liderança da sua coalizão de governo. A lógica de partidos não é igual à de blocos. A tradução não é automática. A transferência de votos também não", diferencia a analista política Marcela Schenck, da Usina de Percepção Cidadã.

Nas sondagens da Usina, Yamandú Orsi ganharia no segundo turno com 49% dos votos, Álvaro Degado obtinha 41%, mas havia 10% de indecisos.

Após a divulgação dos resultados, o entusiasmo migrou para outro ponto da capital uruguaia, mais exatamente na praça Varela, a poucos passos da Embaixada do Brasil no Uruguai, onde comemorou o candidato do Partido Nacional, de centro-direita, Álvaro Delgado, apoiado pelo presidente Luis Lacalle Pou. "Esta noite o Uruguai disse que a coalizão (Republicana) é o projeto político mais votado do nosso país", interpretou Delgado.

Álvaro Delgado obteve 17,17 pontos a menos do que Yamandú Orsi, mas o terceiro colocado (Andrés Ojeda, Partido Colorado, 16,03%), o quinto (Guido Manini Ríos, Partido Cabildo Abierto, 2,45%), o sexto (Pablo Mieres, Partido Independiente, 1,71%) e o sétimo (Eduardo Lust, Partido Constitucional Ambientalista, 0,49%) formam parte da mesma coalizão governista. Todos juntos, somaram 47,45%, superando o partido mais votado em 3,51 pontos.

Para definir uma estratégia de campanha que aglutine ao máximo os votos e evite a dispersão de eleitores, os partidos da coalizão governista Republicana terão uma reunião nesta segunda-feira (28) às 14 horas.

Paridade legislativa

O Congresso também deve refletir essa paridade entre opositores e governistas. A Corte Eleitoral uruguaia não divulgou o resultado legislativo, mas a Frente Ampla teria conseguido a maioria do Senado com apenas um senador a mais. Dos 30 senadores, teria obtido 16, enquanto a coalizão teria conseguido 14 (Partido Nacional, 9; Partido Colorado, 5).

Na Câmara de Deputados, nenhum dos dois lados obteve maioria. Das 99 bancas, a Frente Ampla teria obtido 47 votos, enquanto os governistas teriam ficado com 49. O Partido Identidade Soberana, liderado pelo outsider Gustavo Salle, um antissistema e antivacina, teria conseguido dois deputados.

Radicais perdem votos

Os dois plebiscitos foram rejeitados (abaixo de 40%). No primeiro, as operações policiais de busca e apreensão noturnas vão continuar proibidas. No segundo, a ameaça de quebra do sistema previdenciário foi afastada. Os uruguaios votaram contra a proposta de reduzir a idade de aposentadoria de 65 para 60 anos, contra a eliminação da previdência privada e contra a equiparação de salários e aposentadorias mínimas.

A proposta de uma reforma previdenciária foi impulsionada pela central sindical única do Uruguai, a poderosa Plenário Intersindical de Trabalhadores - Convenção Nacional de Trabalhadores (PIT-CNT), integrante da ala radical da Frente Ampla.

Esse é um exemplo de como as propostas e os candidatos mais radicais perderam espaço nestas eleições. O ex-comandante do Exército, Guido Manini Rios, passou dos 11% dos votos de cinco anos atrás a apenas 2,5%. Cresceram as opções ao Centro do espectro político como o Partido Colorado.

Assim, o Uruguai vai sem surpresas, com dois moderados, para o segundo turno em 24 de novembro.

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