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Curitiba: Virada de chave e rejeição a bolsonarista dão vitória a Pimentel

Eduardo Pimentel (PSD), prefeito eleito de Curitiba - Reprodução/redes sociais
Eduardo Pimentel (PSD), prefeito eleito de Curitiba Imagem: Reprodução/redes sociais
do UOL

Katna Baran

Colaboração para o UOL, em Curitiba

27/10/2024 20h30Atualizada em 27/10/2024 23h20

Em uma disputa apertada desde o primeiro turno, Eduardo Pimentel (PSD) venceu a disputa contra Cristina Graeml (PMB) pela Prefeitura de Curitiba.

O que aconteceu

Atual vice-prefeito, Pimentel teve 57,6% dos votos, enquanto a jornalista e comentarista política atingiu 42,4%. A corrida eleitoral ficou concentrada no campo da direita, refletindo os quase 65% dos votos a Jair Bolsonaro (PL) em Curitiba em 2022.

Pimentel manteve a ponta nas pesquisas e em toda a apuração. Mas a campanha foi marcada pelo desempenho surpreendente de Graeml no primeiro turno, focando no discurso antissistema, e pelo índice recorde de abstenção. Os dados oficiais da Justiça Eleitoral mostram que 432 mil eleitores preferiram não ir às urnas —mais que os cerca de 390 mil votos dados a Graeml.

Após a vitória, Pimentel apostou no discurso de continuidade da gestão e de união, dizendo que vai governar para todos os curitibanos. Em coletiva de imprensa na sede do TRE-PR (Tribunal Regional Eleitoral do Paraná), ele atribuiu a vantagem na eleição ao interesse do eleitor na discussão da cidade, sem se preocupar com visões políticas nacionais.

Agora, serei o prefeito de toda Curitiba, de todos, de todas, de todas as famílias. Curitiba mostrou que o que vale na eleição municipal é o debate da cidade. É saber quem tem o conhecimento, quem tem o cuidado, quem viveu a cidade
Eduardo Pimentel (PSD), após vencer eleição em Curitiba

Já Cristina Graeml minimizou a derrota. Ela disse que sua candidatura mostrou a força de uma parcela da população, descontente com o atual sistema político, e que seu movimento não sai derrotado. Afirmou ser muito cedo para falar em pretensões políticas, mas não descartou uma futura candidatura.

"É só o começo", disse a candidata. "Vi que renasceu um sentimento no curitibano e no Brasil, porque esse movimento não é perdido, não só aqui. Renasceu uma esperança que estava adormecida. O curitibano entendeu, o Brasil entendeu que a gente precisa de novas lideranças, que qualquer um de nós que tem uma brecha, se coloca na sua cidade, no seu estado, no seu país, tem espaço", disse.

O último debate entre os candidatos resumiu o tom da campanha no segundo turno, marcado por ataques mútuos entre os adversários. Na RPCTV, afiliada da Rede Globo no Paraná, nesta sexta-feira (25), Pimentel explorou investigações contra parceiros políticos de Cristina e a falta de experiência dela em gestão, enquanto a candidata apostou no discurso "antissistema" e na posição de mulher vítima de investidas do grupo político oponente em toda a corrida eleitoral.

A vitória veio após uma virada de chave da campanha diante da reviravolta do desempenho de Graeml na primeira etapa. Sem histórico político, coligação e propaganda eleitoral, ela desbancou nomes tradicionais da cidade com o discurso de única candidata "conservadora" e de "direita raiz" e explorando os apoios de Bolsonaro e do candidato derrotado em São Paulo Pablo Marçal (PRTB).

Nos programas eleitorais, Pimentel passou a explorar denúncias contra o candidato a vice de Cristina, Jairo Ferreira Filho (PMB). Ele é investigado por fraude e estelionato. Explorou ainda contradições políticas entre aliados dela, citando que já foram filiados a partidos de esquerda. Também abordou propostas controversas da candidata, como a cobrança de passagem de ônibus por quilômetro rodado e a revisão financeira para o atendimento de pacientes do SUS da região metropolitana da capital.

Do outro lado, com poucos aliados tradicionais na política, Cristina investiu até em apoios de fora da cidade. É o caso de influenciadores de direita, como o economista Paulo Kogos, imitador do presidente da Argentina, Javier Milei, e o jornalista José Carlos Bernardi, demitido da Jovem Pan após declaração considerada antissemita.

Eles participaram de uma caminhada com ela no centro da capital na quarta-feira (23). O encontro, no entanto, acabou esvaziado e frustrado diante da esperada presença de Bolsonaro. A campanha recorreu a um boneco de papelão do ex-presidente para simbolizar seu suposto apoio.

Logo antes do primeiro turno, Cristina divulgou uma chamada de vídeo com Bolsonaro em que ele dizia "torcer" pela candidata. Formalmente, o PL apoiou Pimentel, inclusive indicando o vice dele, Paulo Martins. O vídeo gerou mal-estar na aliança, o que levou o ex-presidente a se manter neutro na reta final de campanha.

No debate da RPC, Graeml afirmou à imprensa que Bolsonaro havia lhe enviado um anúncio de apoio. Mas a postagem só constava nas redes sociais da candidata, e não nas do ex-presidente. Questionada, ela confrontou jornalistas e pediu para que eles confirmassem a informação com o próprio Bolsonaro.

Cristina também enfrentou dificuldades diante da rejeição, que ultrapassava os 40%, segundo pesquisas. Propostas ligadas à extrema direita, como a de criar um "instituto pró-vida" para a doação de bebês por mulheres sem condições de criar os filhos, incentivaram progressistas numa campanha pelo voto útil em Pimentel, que em tese representa a continuidade da gestão do atual prefeito, Rafael Greca (PSD).

Greca e o governador Ratinho Jr., cotado presidenciável do PSD para 2026, foram mais ativos no segundo turno. O governador colocou aliados e seu ex-marqueteiro de campanha para trabalhar por Pimentel. A vitória, mesmo mais apertada do que o previsto, representa um ganho para o grupo político, principalmente após a nacionalização da disputa da direita diante da postura de Bolsonaro.

Eduardo Pimentel iniciou a carreira política como vice de Greca em 2016, reeleito no primeiro turno em 2020 com quase 60% dos votos. Formado em administração de empresas, com 40 anos, ele é neto do ex-governador do Paraná Paulo Pimentel e é de família tradicional no cenário político do estado.

Mesmo com a derrota, Graeml sai da eleição com capital político. Aliados não descartam uma candidatura dela ao Senado ou à Câmara dos Deputados em 2026. Abraçando o perfil de "direita raiz", com pouca verba e apoios, ela foi testada nas urnas pela primeira vez, investindo numa campanha centrada nas redes sociais, onde ganhou popularidade por seus comentários políticos.

Entre os derrotados, estão os grupos progressistas e os remanescentes da operação Lava Jato, que nasceu na capital paranaense. O senador Sergio Moro, que tem pretensões políticas no Paraná para 2026, lançou a esposa, a deputada federal por São Paulo Rosangela Moro, candidata a vice do correligionário Ney Leprevost (União), amargando o terceiro lugar, com 6,4% dos votos. Após a derrota, Leprevost culpou Moro pelo fracasso, e os dois protagonizaram uma briga pública, trocando ofensas e ataques nas redes sociais.

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