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PT se aliou ao centro contra bolsonaristas em 4 capitais no 2º turno

Lula e prefeito Fuad Noman (PSD), candidato à reeleição apoiado por PT no 2º turno em Belo Horizonte - Reprodução
Lula e prefeito Fuad Noman (PSD), candidato à reeleição apoiado por PT no 2º turno em Belo Horizonte Imagem: Reprodução
do UOL

Manuela Rached Pereira

Do UOL, em São Paulo

26/10/2024 05h30

As disputas pelas prefeituras de quatro capitais brasileiras no segunto turno foram marcadas pelo apoio do PT a candidatos de centro e centro-direita contra nomes ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O que aconteceu

PT oficializou apoio a adversários de bolsonaristas em Belém (PA), Belo Horizonte (MG), João Pessoa (PB) e Palmas (TO). Nas quatro capitais, o partido declarou apoiar sem ressalvas os candidatos de centro e centro-direita contra nomes do PL.

Para o segundo turno, PT nacional orientou seus diretórios a não apoiarem a extrema-direita, confirmou ao UOL um assessor do partido.

Em Belém, Igor Normando (MDB) e Delegado Eder Mauro (PL) disputam o segundo turno. Por lá, a Federação Brasil da Esperança, formada por PT, PV e PC do B, declarou apoio a Normando, que terminou o primeiro turno como o mais votado. O emedebista também é apoiado pelo governador Helder Barbalho (MDB), de quem é primo, e tem em sua coalizão predominantemente partidos de centro e centro-direita.

Normando recebeu "apoio crítico" e "estratégico" do PSOL, que também se posicionou contra a "extrema-direita" na disputa. "Deixamos claro que nosso apoio não é incondicional. Não ocuparemos cargo no novo governo, fazemos isso com o compromisso de que continuaremos sempre vigilantes. Este é um apoio estratégico, uma escolha para impedir que forças reacionárias utilizem nossa cidade como um trampolim para o retrocesso em todo o país", divulgou o diretório de Belém em nota após o primeiro turno.

Em Belo Horizonte, Lula apoia a reeleição de Fuad Noman (PSD) contra bolsonarista. Segundo apuração do UOL, o presidente buscava se coligar a Fuad já no primeiro turno. Nos bastidores, sabia-se que seu desejo pessoal era que o PT abrisse mão de candidatura própria e apoiasse o atual prefeito para vencer o bolsonarismo e sair na frente na disputa pelo apoio em 2026 do PSD, partido com mais prefeitos no Brasil.

PT mineiro não acatou ideia do presidente e lançou nome próprio à prefeitura. Rogério Correia (PT), porém, deixou a disputa na sexta posição. No dia seguinte ao primeiro turno, Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, ratificou o apoio do partido a Fuad (veja abaixo).

Em João Pessoa, partido rachou após o primeiro turno. Outra apuração do UOL mostrou que petistas históricos da Paraíba se recusaram a seguir a posição oficial do PT, que apoiou o prefeito Cícero Lucena (PP) contra o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga (PL), muito ligado ao bolsonarismo. O diretório do PT na capital anunciou que apoiaria Lucena no segundo turno por "rechaçar" Queiroga, classificado como um político de "ultradireita, de teor autoritário, negacionista e ultraliberal".

Na capital do Tocantins, apoio a candidato centrista foi tímido. Disputam a etapa final em Palmas Eduardo Siqueira Campos (Podemos) e Janad Valcari (PL). Campos recebeu apoio da federação integrada pelo PT, que o considera uma "alternativa com capacidade de diálogo" com o "campo democrático". No primeiro turno, Valcari garantiu 39,22% dos votos válidos, ante 32,42% do adversário. As últimas pesquisas eleitorais apontam para um cenário mais acirrado entre os dois.

Em outras duas capitais, PT rechaça voto em nomes do PL, mas sem apoio explícito a opositores. Em Manaus, onde disputam os direitistas Capitão Alberto Neto (PL) e David Almeida (Avante), o PT não oficializou apoio a Almeida no segundo turno, mas recomendou a filiados que não votem no candidato do PL apoiado por Bolsonaro. O mesmo ocorreu em Goiânia, onde o adversário de Sandro Mabel (União) é Fred Rodrigues (PL), considerado pelos petistas um candidato que "coloca em risco a democracia", "nega a ciência" e "dissemina o ódio", segundo nota divulgada pela sigla.

Apoio velado do partido também é visto em Santos. No município paulista, Rogério Santos (Republicanos) foi ao segundo turno com Rosana Valle (PL). Sobre a disputa, o diretório petista de Santos afirmou, em nota: "As pautas defendidas pelo PT, no primeiro turno, não estão nas duas candidaturas do segundo turno. No entanto, recomendamos que se evite o bolsonarismo e o fascismo nas urnas, votando contra a extrema-direita, destacando que o Partido dos Trabalhadores é oposição a ambas as candidaturas e não tem qualquer vínculo programático com tais propostas".

"Apoios da esquerda têm muito mais a ver com adversário do que com apoiado", diz professor. Para o cientista político e professor-adjunto do Departamento de Gestão Pública da FGV Marco Antônio Teixeira, "não interessa para a esquerda ver esses candidatos avançando porque eles não apenas fortalecem o PL, como reforçam, sobretudo, o chamado bolsonarismo raiz".

Preocupação do partido e aliados é com disputas eleitorais de 2026, mas não apenas, avalia Teixeira. "A preocupação central nesse processo é com 2026, mas obviamente que o avanço do bolsonarismo implica também na disputa pela agenda de políticas públicas pelo país", diz. "No caso de São Paulo, por exemplo, é nítido que uma possível vitória do Ricardo Nunes [MDB] vai tornar o governo mais conservador, e isso já tem surtido efeitos. A cidade hoje já dificulta o acesso ao aborto legal e pode ter alterada a sua agenda climática nos próximos anos", exemplificou o professor.

Veja como o PT se manifestou sobre as disputas nas capitais:

Belém

A polarização do segundo turno das eleições em Belém nos coloca em confronto com um projeto que representa a destruição do ideário de nação iniciado em 2003, a liquidação dos direitos sociais e econômicos da grande maioria da população e o incentivo ao ódio e à intolerância como método de disputa política. Trata-se de uma disputa pela defesa da democracia contra o autoritarismo, pela civilização contra a barbárie, pela preservação dos direitos sociais e pela manutenção do governo nacional de reconstrução do Brasil. (...) Assim, acolhendo os pontos centrais do nosso programa de governo, (...), deliberamos apoiar a candidatura de Igor Normando no segundo turno das eleições para a Prefeitura de Belém. Executivas Municipal e Estadual do PT Belém e Pará, em nota

João Pessoa

O quadro se apresenta como preocupante, visto que a presença do candidato Marcelo Queiroga (PL) significa a possibilidade da nossa capital ser governada por uma gestão de ultradireita, de teor autoritário, negacionista, ultraliberal, cujo candidato foi ministro da Saúde do governo Bolsonaro, responsável por centenas de milhares de mortes, por negar vacina às pessoas. (...) O Diretório Municipal do PT de João Pessoa resolve: Chamar o conjunto de sua militância a rechaçar nas urnas, em nome da democracia e sem vacilações, a candidatura bolsonarista e apoiar o nome de Cícero Lucena, do Progressistas, para prefeito de nossa capital. Diretório Municipal do PT de João Pessoa, em nota

Belo Horizonte

O Fuad apoiou o presidente Lula [em 2022]. Agora que foi ao segundo turno, já inclusive conversou com ele [o presidente]. Lula reforçou o apoio ao Fuad, que estará no segundo turno contra um ícone dessa extrema-direita. Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, em declaração à imprensa um dia após o primeiro turno

Palmas

A Federação Palmas/Brasil da Esperança decidiu (...) apoiar no segundo turno das eleições em Palmas o candidato a prefeito Eduardo Siqueira Campos, por representar neste momento a alternativa com capacidade de diálogo com as políticas públicas que defendemos no nosso campo democrático. Federação Brasil da Esperança, composta por PT, PC do B e PV, e PDT, em nota

Goiânia

Temos clareza de que os progressistas, que amam Goiânia, não votarão em candidato que coloca em risco a democracia, a soberania nacional, cria fake news, nega a ciência, o direito às vacinas, destrói as políticas sociais, dissemina o ódio e a divisão do nosso país e da nossa cidade. Munidos/as da mais absoluta responsabilidade com a democracia e com nossa capital, especialmente com sua classe trabalhadora e com as camadas mais vulnerabilizadas, entendemos que o voto nulo, o voto branco ou a abstenção representariam injustificável omissão política. Nosso dever cívico e democrático é derrotar a extrema direita. Federação Brasil da Esperança, composta por PT, PC do B e PV, e PDT, em nota

Manaus

Decidimos deixar livres os militantes para votar ou não no outro candidato [David Almeida]. É importante essa questão que você entenda: extrema direita, não. Nós queremos nossos direitos garantidos. Presidente do PT em Manaus, Valdemir Santana, em vídeo divulgado nas redes sociais.

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