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Eleições na Geórgia não se resumem a voto "a favor da UE ou da Rússia", diz especialista

26/10/2024 11h48

A população da Geórgia vai às urnas neste sábado (26) para participar das eleições legislativas, essenciais para o futuro do país, dividido entre a oposição pró-Europa e o partido no poder, Sonho Georgiano, próximo da Rússia. A votação, que começou às 8h no horário local, está sendo marcada por vários incidentes.
 

Da redação da RFI em Paris e agências

A presidente da Geórgia, Salomé Zourabichvili, pró-Ocidente, denunciou neste sábado atos violentos que ocorreram durante a votação. "Quero destacar os incidentes violentos e preocupantes que estão ocorrendo em diferentes seções eleitorais", escreveu em uma mensagem postada nas redes sociais, após vídeos de brigas serem compartilhados na internet.

As pesquisas mais recentes mostram que uma aliança inédita dos partidos da oposição pode derrotar o Sonho Georgiano, legenda conservadora do magnata Bidzina Ivanishvili, que comanda o país há cerca de uma década.

As forças de oposição conseguiram chegar a um consenso e estabeleceram uma frente inédita contra o governo, formada, entre outros, pelo Movimento Nacional Unido do ex-presidente detido Mikheil Saakashvili. Mas o resultado é imprevisível devido ao elevado número de pessoas que se recusaram a responder às pesquisas ou se declararam indecisas.

A União Europeia (UE) já alertou que o resultado da votação para renovar as 150 cadeiras do Parlamento determinará as chances de adesão da Geórgia ao bloco, um objetivo que está na Constituição do país.

Em caso de vitória, a aliança da oposição promete aprovar reformas eleitorais e judiciais, além de revogar diversas leis promulgadas recentemente. A intenção é formar um governo de coalizão e organizar novas eleições no prazo de um ano.

Imigrantes se mobiilizam no exterior

Em entrevista à RFI, o especialista em investimentos Paata Gugulash Vili falou sobre a mobilização da comunidade georgiana na França, pró-Europa. "O governo está tentando impedir os imigrantes de votar. Estamos organizando as comunidades georgianas em vários países. Na França, por exemplo, só dá para votar no Consulado", disse. Segundo ele, um ônibus foi disponibilizado para levar eleitores de Lyon a Paris.

O partido Sonho Georgiano, no poder desde 2012, é acusado por seus oponentes de uma guinada autoritária pró-russa, o que aumenta os temores de violência em caso de derrota, segundo Jean Radvanyi, professor emérito do Instituto de Línguas Orientais de Paris (Inalco).

"O mais preocupante é que no discurso dos representantes do Sonho Georgiano há muitos slogans provocativos e ameaças de prisão de parlamentares da oposição, para expulsá-los de seus cargos", disse à RFI. "Houve prisões recentes, manifestações que deram errado. Existe também o medo de que, se os resultados das eleições forem contestados, haja um aumento das ameaças e da violência."

Embora essa votação seja comparada a uma espécie de referendo a favor da Europa ou da Rússia, há muitas outras questões, ressalta. "Esta é uma das questões, mas não é a única. Há muitas desigualdades entre a capital e as províncias e questões econômicas, como a ajuda financeira europeia e o comércio com a Rússia, que continua a ser importante", lembra.

Invasão russa marcou país

A Geórgia ainda é marcada pela invasão russa em 2008, quando Moscou instalou bases militares em duas regiões separatistas georgianas, Abkhazia e Ossétia do Sul, que reconheceu como Estados independentes.

O governo espera obter 75% das cadeiras do Parlamento, uma ampla maioria que permitiria mudar a Constituição e proibir os partidos opositores pró-Ocidente. A Geórgia ainda foi palco em maio de grandes manifestações contra uma lei sobre a "influência estrangeira", inspirada na legislação russa utilizada para reprimir a oposição.

Bruxelas congelou o processo de adesão do país à UE e o governo dos Estados Unidos adotou sanções contra autoridades georgianas acusadas de autorizar uma "repressão brutal" contra os manifestantes.O foco mais recente de tensão entre Bruxelas e Tbilissi foi a promulgação, no início do mês, de uma lei que restringe os direitos das pessoas LGBTQIA+.

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