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Sem estratégia para deixar Gaza, Israel pode permanecer no enclave por tempo indeterminado

25/10/2024 16h57

Por Jonathan Saul e James Mackenzie

JERUSALÉM (Reuters) - O general israelense da reserva Giora Eiland acredita que Israel se encaminha para mais meses de guerra na Faixa de Gaza, a não ser que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aproveite a brecha surgida com a morte do líder do Hamas, Yahya Sinwar, para encerrar o conflito.

Desde a morte de Sinwar, neste mês, Eiland tem sido uma das principais vozes de ex-oficiais do Exército que questionam a estratégia do governo israelense no enclave, onde neste mês soldados voltaram a invadir regiões no norte que já tinham sido declaradas como áreas livres duas outras vezes.

Em vez de usar o método israelense de tomar rápidas ações decisórias, ex-oficiais creem que o Exército pode estar sendo arrastado para uma ofensiva aberta, que pediria a presença permanente de tropas.

“O governo israelense está agindo em total oposição ao conceito de segurança de Israel", disse Tov Samia, ex-chefe do Comando Militar do Sul, à rádio pública Kan.

Parte da operação envolvia tirar milhares de pessoas da região, em esforço para separar civis dos combatentes do Hamas.

O setor militar israelense afirma ter retirado mais de 45 mil civis da região de Jabalia, além de ter matado centenas de militantes durante a operação. As forças armadas têm, contudo, sido criticadas pelo grande número de civis mortos, com crescentes pedidos para que distribua mais ajuda humanitária para aplacar a crise na região.

Eiland, ex-chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, foi o principal autor da proposta, conhecida como o “planos dos generais”, que teria o objetivo de retirar rapidamente civis do norte da Faixa de Gaza, fazendo combatentes do Hamas morrerem ao cortar seus suprimentos de água e alimentos.

Os militares negam que haja um plano nesse sentido, e Eiland crê que a estratégia adotada não é nem um plano, nem uma ocupação clássica.

“Não sei exatamente o que está acontecendo em Jabalia”, afirmou Eiland à Reuters. “Mas creio que as IDC (Forças de Defesa de Israel) estão fazendo algo entre essas duas alternativas, o ataque militar ordinário e meu plano”, afirmou.

Desde o início da guerra, Netanyahu diz que Israel traria os reféns para casa e acabaria com o Hamas como força militar e governamental, e que não pretendia permanecer na Faixa de Gaza.

Israel já matou quase 43 mil palestinos na guerra, segundo autoridades de Saúde da Faixa de Gaza. O enclave foi, em grande parte, reduzido a escombros, que exigirá bilhões de dólares em ajuda internacional.

Há meses desentendimentos abertos ocorrem entre Netanyahu e o ministro da Defesa, Yoav Gallant. Eles refletem uma divisão mais ampla entre a coalizão governante e os militares, que defendem um acordo para acabar com os combates e trazer os reféns para casa.

Sem uma estratégia, Israel corre o risco de ficar preso em Gaza, sem prazo para sair, disse Ofer Shelah, diretor do programa de pesquisa da Política de Segurança Nacional de Israel, no Instituto de Estudos de Segurança Nacional em Tel Aviv.

O governo israelense não respondeu imediatamente a um pedido para que comentasse as opiniões de militares de que os soldados estão sem saída da Faixa de Gaza.

Com o foco militar de Israel agora direcionado contra o Hezbollah, no Líbano, há apenas duas divisões do Exército participando de operações na Faixa de Gaza, contra cinco no início da guerra. Fontes de segurança calculam entre 10 e 15 mil soldados em cada divisão.

Os militares de Israel calculam que os 25 batalhões que o Hamas teria no início da guerra foram destruídos há tempos, e que cerca de metade de sua força -- 17 a 18 mil combatentes -- foi morta. Bandos continuam, contudo, conduzindo ataques contra tropas israelenses.

"Nós não combatemos tanques no solo, nós escolhemos nossos alvos", disse um combatente do Hamas por um aplicativo de bate-papo. "Estamos agindo de forma que nos manterá lutando pelo maior tempo possível."

O gabinete de Netanyahu disse na quinta-feira que negociadores israelenses iriam ao Catar neste fim de semana para negociações sobre um acordo de cessar-fogo e a libertação de reféns.

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