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Gayer mantinha escola de inglês e loja bolsonarista com verba da Câmara, diz PF

O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) - Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) Imagem: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

São Paulo

25/10/2024 17h26

O deputado federal Gustavo Gayer mantinha, em um espaço locado e custeado pela Câmara dos Deputados em Goiânia, uma escola de inglês e uma loja de camisetas e acessórios políticos, que seguiam a linha bolsonarista do parlamentar. O parlamento paga R$ 6,5 mil referente ao espaço, que deveria ser um escritório político. Também arca com salários dos secretários que, segundo a PF, acabam prestando serviços para as empresas de Gayer.

Nas redes sociais, o deputado destacou o fato de a operação ser aberta dois dias antes do segundo turno das eleições, "da qual seu candidato participa em Goiânia". Segundo o parlamentar, as buscas visam "claramente prejudicar seu candidato". "Vieram na minha casa, levaram meu celular, meu HD. Essa democracia relativa está custando caro", bradou, dizendo não saber do que trata a investigação.

Os achados sobre as empresas de Gayer mantidas com dinheiro público constam do inquérito da Operação Discalculia, aberta nesta sexta-feira, 25, no encalço do parlamentar e de seus assessores. O que a Polícia Federal descobriu é que os aliados do deputado sabiam da gravidade dos desvios (detalhes mais abaixo).

Segundo a Polícia Federal, Gayer é o "autor intelectual" de um esquema de desvio de cota parlamentar, inclusive via uma organização social criada com documentos falsificados. O nome da operação faz referência inclusive a essa empresa constituída com suposta fraude.

Discalculia é o nome de um "transtorno de aprendizagem relacionado a números". A PF escolheu a expressão para batizar a ofensiva porque um erro no registro da organização usada para desvios fazer com que quadro social da empresa fosse formado por crianças de 1 a 9 anos.

No caso das suspeitas envolvendo as empresas mantidas pelo deputado com dinheiro público, os investigadores destacam por exemplo, que a loja Desfazueli - registrada em nome do filho de Gayr - era uma continuação das operações realizadas anteriormente sob o nome de Bolsonarius.

Segundo a Polícia Federal, Gayer tinha "postura de comando frente ao empreendimento", orientando a equipe e monitorando o desempenho das vendas, "demonstrando um compromisso com o sucesso do negócio". Em uma conversa com João Paulo, Gayer ordena que este 'leve as camisetas e adesivos para escola'.

Ao requerer a abertura da Operação Discalculia, os investigadores argumentaram que a atividade privada de Gayer "internaliza a integralidade dos bônus e somente parcialmente os ônus".

"Internalizar os custos de um empreendimento significa levar em conta os custos ambientais e administrativos, incluindo especialmente as despesas básicas com os serviços essenciais (água, energia elétrica, internet, tributos, etc.) na elaboração dos custos de produção e, consequentemente, assumir esses custos, sendo certo que esse expediente é elementar no universo da atividade privada. Ocorre que, ao direcionar a verba parlamentar para assunção de tais encargos, para além da irrefutável tredestinação da res publica, o parlamentar acaba por desequilibrar o ambiente concorrencial do setor, ante a matemática e objetiva posição de vantagem que se colocou", anotou a PF.

Assessor temia que Gayer vivesse meme do 'senhora, senhora'

Um assessor do deputado federal Gustavo Gayer, investigado por desviar cota parlamentar para bancar suas empresas, reconheceu a gravidade das irregularidades que aconteciam no escritório político do parlamentar e Goiânia. Ele temia que, se as suspeitas de peculato viessem à tona, Gayer vivesse situação semelhante a uma investigada que, em 2015, fugiu nas ruas de Goiás, criando o meme 'senhora, senhora'.

A referência ao meme 'senhora, senhora' aparece na mensagem trocada entre João Paulo Cavalcante, que atua como assessor do deputado, e Marco Aurelio Nascimento, secretário parlamentar. "A escola está sendo paga com recuso público e tá sendo usada para um fim totalmente que tipo num existe né, num tem como ser assim e aí eles vão levando ou seja ainda não entenderam a gravidade sabe", diz João.

Em seguida, vem a brincadeira: "Moço, pra esse povo já vai ter alguém ali na porta fiscalizando... filmando... vai ser igual o caso aquela mulher do popular né na assembleia.... senhora, senhora, senhora. Num tem jeito vei o povo vai pra cima mesmo".

O diálogo faz referência a uma reportagem de 2015, exibida pela TV Anhanguera, afiliada da TV Globo de Goiás, que viralizou nas redes sociais e é relembrada até hoje. Na época, uma repórter pediu explicações a uma funcionária pública que havia batido ponto e deixado o trabalho, mas a mulher fugiu. A repórter então correu atrás dela dizendo: "Senhora? Senhora?".

João chega a dizer que Gayer seria um "alvo" fácil e reconhece a ilegalidade. "O Gustavo hoje ele é uma vidraça ele é um alvo e se for pra cima moço infelizmente a gente tá tipo errando né. Nesse sentido a gente tá pregando uma coisa e tá vivendo outra... infelizmente a gente tem muitas coisas erradas acontecendo aí".

Os diálogos foram encontrados no celular de João, que foi preso sob suspeita de ter financiado, incitado e participado do 8 de janeiro. Segundo a PF, no aparelho do assessor foram colhidos "elementos informativos do desvio de recursos públicos para a prática dos atos antidemocráticos, prática levada a efeito conjuntamente com Gustavo Gayer".

Segundo a Polícia Federal, João Paulo teria usado uma empresa de marketing, contratada pelo gabinete de Gayer, para "burlar vedação legal à sua contratação como Assessor Parlamentar, uma vez que não preencheria os requisitos exigidos". João gerenciava a agenda do deputado federal, contrariando os termos das notas fiscais emitidas em nome de sua empresa, segundo a PF.

O inquérito aponta que João Paulo de Sousa Cavalcante recebeu pelos serviços, por intermédio de sua empresa, o valor total de R$24 mil, em 3 parcelas mensais de R$8 mil, nos meses de março, abril e maio.

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