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Revolta de agricultores franceses contra acordo UE-Mercosul coloca país na contramão do bloco

24/10/2024 10h48

Uma reportagem do jornal Libération desta quinta-feira (24) repercute o assunto abordado em outros diários franceses ao longo da semana: a raiva dos agricultores europeus, principalmente os franceses, quanto à possibilidade da conclusão favorável a um tratado entre a União Europeia e o Mercosul. O acordo, que já causa incômodo há bastante tempo em solo francês, poderá ser ratificado por Bruxelas em meados de novembro. 

Uma reportagem do jornal Libération desta quinta-feira (24) repercute o assunto abordado em outros diários franceses ao longo da semana: a raiva dos agricultores europeus, principalmente os franceses, quanto à possibilidade da conclusão favorável a um tratado entre a União Europeia e o Mercosul. O acordo, que já causa incômodo há bastante tempo em solo francês, poderá ser ratificado por Bruxelas em meados de novembro. 

Para a Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França (FNSEA) e os Jovens Agricultores, o acordo comercial entre as duas entidades representa uma espécie de "alerta vermelho". Dez meses depois de uma crise violenta, os agricultores do país comunicaram uma nova mobilização nacional para meados de novembro contra o acordo comercial. No mesmo período, o texto poderá ser ratificado por Bruxelas, como explica a publicação. 

O acordo entre a UE e o bloco comercial estabelecido entre Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia, chamado de "o mais importante tratado europeu de livre comércio" pelo Libé, prevê uma zona de comércio livre que abrange um total de 780 milhões de consumidores e mais de € 40 bilhões (R$ 245 bilhões) em importações e exportações. 

O projeto é facilitar o comércio entre a Europa e a América do Sul através da eliminação quase total dos direitos aduaneiros entre as duas zonas, por exemplo, na importação de mel, arroz, açúcar ou carne bovina, justamente os pontos que causam as tensões entre os agricultores franceses, que criticam a produção dos países do Mercosul com uso de hormônios e aceleradores de crescimento.

"Como podemos impor aos consumidores europeus um alimento que nos recusamos a produzir na Europa?", protesta o presidente da FNSEA, Arnaud Rousseau, nas colunas do Le Parisien, e reproduzido pelo jornal de esquerda. 

"Oportunidade de ouro" 

O Libération explica que "Berlim vê uma oportunidade de ouro no Mercosul: a exportação de mais automóveis". O que enerva ainda mais os agricultores franceses, que alegam que "acordos de comércio livre são um risco para o mundo agrícola na França" por empurrar os "preços para baixo, e não pagar aos agricultores".  

O jornal de esquerda evoca dados de que, sozinho, "o Mercosul produz um quarto da carne bovina do planeta e já representa um terço das exportações mundiais". E reitera que "a posição francesa clara, firme e definitiva" de não aceitar o tratado, posicionamento corroborado por Sophie Primas, ministra Delegada responsável pelo Comércio Exterior, pelo primeiro-ministro francês, pelo ministro da Europa e dos Negócios Estrangeiros e até do presidente da República, Emmanuel Macron, que afirma considerar o tratado "inaceitável tal como está", detalha o jornal. 

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A França, segundo o chefe de Estado, diz ter "três batalhas" para justificar sua posição contra o tratado UE-Mercosul: o respeito pelos acordos climáticos de Paris, o espelhamento de cláusulas, ou seja, disposições que imporiam as mesmas regras às importações de produção apenas em solo francês, e "a proteção dos interesses das indústrias e dos agricultores europeus".

No entanto, o governo Macron sofre críticas pesadas de deputados de esquerda sobre sua inércia em confrontar a aliança formada pela Alemanha, e apoiada pela Itália e Espanha sobre o acerto do tratado. 

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