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Dependência excessiva da terra ameaça metas para zerar emissões, diz estudo

Restauração de ecossistemas degradados é uma das formas de uso da terra para captura de carbono - Bruno Kelly/Reuters
Restauração de ecossistemas degradados é uma das formas de uso da terra para captura de carbono Imagem: Bruno Kelly/Reuters
do UOL

De Ecoa

24/10/2024 05h30

Um estudo recente revelou que os compromissos climáticos dos países podem precisar de cerca de 1 bilhão de hectares de terra, ou um terço das terras agrícolas globais, até 2060 para a remoção de dióxido de carbono da atmosfera para chegar ao net zero (a neutralidade das emissões líquidas de carbono). A análise conclui que há uma disparidade entre o que os governos esperam em relação à terra e o papel que ela pode, de fato, desempenhar na mitigação climática.

De acordo com a pesquisa, mais de 40% dessa área precisaria ser convertida em florestas. Os outros 60% seriam usados para a restauração de ecossistemas degradados, com o reflorestamento sendo uma das principais estratégias. No entanto, a dependência da terra para a mitigação climática levanta questões sobre os impactos socioambientais dessas mudanças.

A terra é uma das principais apostas das promessas climáticas feitas por 194 países no âmbito do Acordo de Paris, com foco em remover o carbono da atmosfera por meio de sumidouros naturais. Porém, a quantidade de terra necessária e o tempo necessário para isso trazem incertezas. Estima-se que 990 milhões de hectares de terra seriam necessários para atender aos compromissos de remoção de dióxido de carbono nas promessas climáticas até 2060, um área maior que a dos Estados Unidos (983 milhões de hectares), ou dois terços das terras agrícolas globais (1,56 bilhão de hectares em 2020).

Os esforços de remoção de dióxido de carbono por meio de abordagens baseadas em terra, como reflorestamento em grande escala e captura e armazenamento de carbono de bioenergia (BECCS, na sigla em inglês), poderiam reduzir indiretamente as futuras perdas de biodiversidade, contribuindo para a mitigação climática.

No entanto, tais iniciativas podem também agravar a crise da biodiversidade devido à demanda adicional por terra e outros recursos, com impactos negativos na biodiversidade concentrados em regiões com alta mudança no uso da terra. A captura de carbono baseada em terra também pode comprometer os meios de subsistência de comunidades vulneráveis e dependentes da terra.

Outro ponto de destaque do estudo é a falta de transparência nas promessas climáticas. A maioria dos países não detalha como pretende alcançar essas metas, o que levanta preocupações sobre a viabilidade dessas estratégias e os efeitos que terão sobre o meio ambiente e as populações locais. Muitas das promessas climáticas são consideradas metas aspiracionais, e não compromissos políticos concretos. No entanto, mesmo as metas futuras podem ter implicações no presente, ao adiar ações de mitigação mais imediatas.

A Rússia, por exemplo, comprometeu-se a regenerar 350 milhões de hectares de florestas, o equivalente a 21% de suas terras. A Arábia Saudita, por sua vez, planeja plantar 40 bilhões de árvores, cobrindo 200 milhões de hectares em países vizinhos. Já os Estados Unidos dependem fortemente do reflorestamento e de tecnologias como o BECCS (Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono) para atingir suas metas.

O estudo também destaca que, embora o reflorestamento e o plantio de árvores sejam as estratégias mais comuns para a remoção de gás carbônico, as nações mais pobres tendem a focar na regeneração de terras agrícolas, evitando grandes mudanças que possam prejudicar a segurança alimentar e o desenvolvimento local.

Essas descobertas reforçam a necessidade de maior clareza e consistência nas políticas climáticas globais, para garantir que as metas de emissões zero sejam alcançadas de forma sustentável e sem agravar outros desafios ambientais e sociais, concluem os cientistas.

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