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20 ações estão com dividendos em queda; é hora de vender ou comprar?

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Imagem: istock/Ja_inter
do UOL

Colunista do UOL

24/10/2024 05h30

O ano de 2024 caminha para ser recorde em dividendos, mas nem todas as empresas listadas na Bolsa brasileira estão aumentando a remuneração aos seus acionistas. Um levantamento da Elos Ayta Consultoria para a coluna revela 20 empresas que tiveram queda constante no retorno em dividendos (dividend yield) nos últimos três anos.

Na lista há nomes conhecidos do investidor que busca gerar renda passiva com ações, entre eles: Petrobras (PETR4), CPFL Energia (CPFE3), Banrisul (BRSR6), Unipar (UNIP6), Telefônica Brasil (VIVT3) e Ferbasa (FESA4).

Na Petrobras, por exemplo, a redução é nítida. Em 2022, a companhia vivia tempos de bonança e chegou a ter um retorno em dividendos de 56,22%. A fartura não durou muito tempo, e, em 2023, o dividend yield da petroleira já tinha caído praticamente pela metade, para 27,68%.

Em 2024, o retorno em dividendos é ainda menor, de 17,36%. Para analistas, a expectativa é que o dividend yield da Petrobras recue mais um pouco nos próximos anos. O levantamento considerou os últimos 12 meses de cada ano até o dia 16 de outubro.

Veja abaixo as empresas que apresentaram queda consistente nos proventos nos últimos três anos:

Uma questão de commodities

Em companhias como Petrobras e Unipar, a queda no preço das commodities às quais as empresas estão expostas influenciou na redução dos dividendos.

Em 2022, por exemplo, o preço do petróleo tipo Brent chegou até US$ 125 o barril, impulsionando a lucratividade da Petrobras. Atualmente, negocia perto de US$ 75 o barril. Além disso, o governo da época teve uma maior necessidade de equilibrar as contas públicas, favorecendo, assim, o pagamento de dividendos extraordinários da petroleira, lembra Victor Bueno, analista da Nord Research.

Foi tanta a fartura que, no segundo trimestre de 2022, a Petrobras se tornou a maior pagadora de dividendos do mundo. Mas claramente dividendos de 56% eram um patamar insustentável para o longo prazo. Foi dessa forma que o dividend yield recuou para patamares mais "normais" nos anos seguintes. O apetite por investimentos do governo também aumentou.

Com a mudança de governo, a preferência é priorizar investimentos ou comprar ativos, sobrando menos dinheiro para ser distribuído.
Gabriel Duarte, analista da Ticker Research

As ações PETR4 também apresentaram forte valorização nos últimos três anos, reduzindo assim o dividend yield entregue pelos papéis, aponta Renato Reis, analista da Blue3 Research. O motivo é que o indicador representa a divisão entre os dividendos pagos e o preço do ação.

Analistas consultados pela coluna acreditam que, nos próximos 12 meses, a Petrobras entregue um dividend yield entre 11% e 16%. Ou seja, a empresa vai continuar recuando no seu retorno em dividendos, mas ainda oferece um dividend yield bem acima da média histórica da Bolsa brasileira, de 6%. A boa notícia é que a empresa pode se estabilizar nesse patamar de retorno em dividendos nos próximos anos, se tornando uma alternativa de investimentos para o longo prazo, na visão de Duarte.

Na avaliação da Nord Research, existem melhores opções com um dividend yield semelhante e sem o risco estatal de investimento, como a Petroreconcavo (RECV3), com um dividend yield de cerca de 11% para os próximos 12 meses.

Na Unipar, o pós-pandemia teve um momento positivo para as commodities cloro e soda cáustica, que tiveram uma alta expressiva nos seus preços. Foi dessa forma que a companhia conseguiu entregar dividendos elevados, de 21,43%, em 2022.

Enquanto a empresa estava muito lucrativa, eles pagaram muito dividendo, até porque o mercado sabia que esse ciclo de alta não duraria para sempre.
Renato Reis, da Blue3 Research

Porém, em 2023 e 2024, a queda no preço do cloro e soda cáustica trouxe como consequência baixa no lucro e nos dividendos. Além disso, com a queda da demanda por produtos da companhia, algumas das fábricas ficaram com uma ociosidade maior, enquanto os custos fixos não conseguiram ser diluídos, explica Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest.

Com o yield no patamar de 3,94% em 2024, ainda não há perspectivas claras de melhoria nos dividendos. "Segundo comunicado da diretoria no 2° trimestre de 2024, o pior do ciclo já passou. Mas ainda existe incerteza em relação ao momento em que os resultados possam voltar a crescer", comenta Biz.

Para o analista do GuiaInvest, se os preços do cloro e soda cáustica permanecerem nos patamares atuais, sem uma demanda crescente pelos produtos, os dividendos da Unipar devem continuar abaixo da média da Bolsa nos próximos 12 meses.

A projeção dos analistas consultados pela coluna é de que a Unipar entregue dividendos entre 3% e 6% nos próximos 12 meses. Por conta da ciclicidade dos resultados, eles não aconselham o investimento em Unipar com foco em uma estratégia de renda passiva no longo prazo.

No Banrisul, um fase ruim

No Banrisul, a principal deterioração dos dividendos aconteceu no ano de 2024, considerado um período desafiador para a instituição financeira. Segundo Reis, o banco sofreu os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul e vem apresentando um retorno sobre patrimônio líquido (ROE) mais fraco do que o dos pares.

Além disso, a carteira de crédito não tem entregado resultados interessantes. Segundo Bruno de Oliveira, analista do Projeto Vida de Acionista, o banco passa por uma fase de reformulação e tem readequado a carteira de crédito para pessoa física e jurídica, ainda sem obter os resultados esperados.

O Banrisul também reduziu seu payout (parcela do lucro destinada a proventos) neste ano, de 50% para 40%. Para Oliveira, o banco está tentando se mexer e fazer ajustes, mas isso ainda não se traduziu em aumento de rentabilidade e lucros. O analista acredita que a recuperação do banco possa ainda demorar alguns trimestres.

Oliveira aconselha ao investidor prestar atenção no discurso da diretoria sobre o 3° trimestre para verificar se há alguma confirmação de que essa etapa de reformulação foi superada.

Mas, diante dos fundamentos atuais, Oliveira não recomenda investir no Banrisul para quem busca dividendos de bancos. O analista afirma que há oportunidades melhores e mais baratas no segmento. Em relação ao dividend yield, Oliveira projeta um retorno em dividendos de 6,3% para os próximos 12 meses.

Já Reis, da Blue3 Research, é mais otimista e acredita que nos próximos 12 meses o Banrisul já deva ter recuperado a sua rentabilidade e superado esta fase ruim. Ele espera que o banco pague dividendos de 9% a 10%.

Na Telefônica, uma oportunidade

A Telefônica Brasil apresentou um dividend yield mais alto em 2022, impulsionado pelo crescimento forte do lucro da companhia. Victor Bueno, da Nord Research, lembra que naquele ano o negócio móvel da empresa teve expansão, recebendo 10 milhões de novos clientes, que vieram da venda dos ativos da Oi Móvel. Além disso, a Telefônica tinha vencido o leilão da Anatel do 5G, o que também fortaleceu os resultados.

Já nos anos seguintes, 2023 e 2024, ocorreu uma estabilização nos lucros da Telefônica, o que acabou levando a uma redução nos dividendos. No entanto, segundo Bueno, as expectativas são positivas, com aumento dos proventos nos próximos dois anos.

O motivo é que a companhia se comprometeu a distribuir 100% do seu lucro líquido via dividendos, juros sobre capital próprio, reduções de capital e recompra de ações até 2026. Com isso, a tendência é ver dividendos cada vez maiores a partir de agora, pontua Bueno.

A Telefônica Brasil é recomendação da Nord para quem busca uma ação para ter na carteira com foco no longo prazo. O dividend yield projetado para VIVT3 para os próximos 12 meses é de 8%.

As empresas que não pagaram nada neste ano

No levantamento da Elos Ayta, também é possível identificar companhias que ainda não fizeram nenhum pagamento de dividendos em 2024. São estas Marfrig (MRFG3), Minerva (BEEF3), Movida (MOVI3), Portobello (PTBL3), Simpar (SIMH3), Carrefour (CRFB3), Qualicorp (QUAL3), Dasa (DASA3), Ambipar (AMBP4) e Assai (ASAI3).

Duarte, da Ticker, elenca Minerva, Simpar e Movida, como empresas que possuem uma dívida muito alta e acabam sentindo na pele os efeitos dos juros elevados, o que também contribui para a redução ou a ausência de dividendos.

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