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Onças sobrevivem a piores incêndios na região do Pantanal

23/10/2024 11h13

Por Sergio Moraes

PORTO JOFRE, Mato Grosso, 23 Out (Reuters) - Ela é chamada de Ousado e é a onça-pintada mais famosa do Brasil, vista nas redes sociais mergulhando em rios para capturar jacarés e lutar com suas presas em terra firme.

Ousado e suas companheiras onças estão sobrevivendo aos piores incêndios a atingir o Pantanal, a maior área úmida de água doce o mundo.

Ao contrário de outros animais que morreram queimados, as onças sabem como buscar refúgio nas margens dos rios, onde há alimento disponível nos jacarés e capivaras que elas caçam.

Ousado sobreviveu a um incêndio devastador em 2020, quando foi resgatado com queimaduras de segundo grau nas patas, levado de helicóptero para um centro de reabilitação e devolvido à natureza um mês depois.

"Ele está indo muito bem, super saudável e caçando todos os dias", disse a zoóloga Abbie Martin, chefe do Jaguar ID Project, um grupo sem fins lucrativos.

"Ele passou por muita coisa. Eu digo aos turistas: 'Se vocês o virem, aplaudam-no'", afirmou Abbie por telefone.

Até agora neste ano, mais de 16% do Pantanal já foi queimado, cerca de 25.000 quilômetros quadrados.

Enquanto seu bioma está secando e sendo queimado, transformando-se em um cemitério para macacos, pássaros, cobras e antas, a população de onças-pintadas aumentou nos últimos anos, de acordo com Abbie Martin, uma nova-iorquina que estuda o maior felino do Brasil há mais de uma década.

A população masculina de onças-pintadas pode estar estável, mas o número de fêmeas e filhotes está crescendo no parque estadual Encontro das Águas, um refúgio onde quatro rios se encontram perto de Porto Jofre, no Mato Grosso.

"Em 2021, o ano seguinte aos mega-incêndios, vimos 17 fêmeas com seus filhotes no parque, onde as presas são abundantes e há muitos machos para acasalar", disse Abbie, cuja equipe registra de 90 a 120 onças diferentes a cada ano e estima a população no parque em cerca de 1.670.

"No ano passado, vimos 21 novos filhotes", afirmou ela.

A onça-pintada é o terceiro maior felino do mundo, depois do tigre e do leão, e o maior das Américas. Eles crescem até 170 cm de comprimento.

Os machos podem pesar até 150 kg, mas o tamanho varia entre as regiões. As onças-pintadas da Amazônia são mais numerosas, mas menores do que as do Pantanal, que precisam de volume para superar presas grandes, como um jacaré.

O futuro das onças-pintadas depende dos rios que são seu último refúgio, algo que pode desaparecer se os níveis de água caírem durante as secas ou se forem construídas represas, destacou Abbie Martin.

Cristina Gianni, que dirige o centro de reabilitação de onças-pintadas NEX, onde Ousado recebeu tratamento com células-tronco para suas queimaduras, disse que o Pantanal está ameaçado pelo desmatamento feito por fazendeiros e pelos constantes incêndios intensificados pelas mudanças climáticas.

Ela ficou feliz em ver que Ousado se tornou uma visão comum para os visitantes do Pantanal, facilmente identificado por uma coleira de couro que ele ainda tem, desde seu resgate há quatro anos.

"Ele está caçando como nunca", disse ela.

(Reportagem de Sergio Moraes; reportagem adicional de Anthony Boadle em Brasília)

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