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Como o dólar alto impacta na meta de inflação?

do UOL

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

23/10/2024 05h30

Com uma alta de 4,86% em outubro (até o dia 22), o dólar caminha para uma valorização próxima de 20% neste ano. De janeiro até agora, a moeda já subiu 17,99% em relação ao real, segundo a Economatica.

Essa disparada da divisa é um dos fatores de maior pressão de subida da inflação. No último Boletim Focus, por exemplo, o câmbio levou os economistas e instituições financeiras consultados pelo Banco Central a elevarem a previsão de cotação do dólar para o fim do ano de R$ 5,40 para R$ 5,42. Com isso, a estimativa de taxa de juros para 2025 avançou de 11% para 11,25%.

Por que a alta da moeda dos EUA causa tanto estrago? O que acontece é uma reação em cadeia. "O dólar mais forte aumenta o preço das importações do Brasil e pressiona a inflação. Junta-se a isso a seca e o aumento de preços causado pela energia mais cara. Por isso há quem estime já uma taxa Selic acima de 13% no próximo ano", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

As principais importações do Brasil são adubos ou fertilizantes químicos (9,7%) e petróleo (8,5%), segundo a Comex Stat, portal para acesso gratuito às estatísticas de comércio exterior do Brasil. Os dois grupos causam efeito cascata de aumento de preços. Se o gasto com adubos cresce, os alimentos ficam mais caros. Com o petróleo, toda cadeia de distribuição de vários produtos fica economicamente mais pesada.

O grande problema é que esse é um círculo vicioso. Quando a inflação — ou a previsão dela — fica acima da meta estipulada, que para este ano é de 3% (com 1,5 ponto percentual de tolerância para cima ou para baixo) — o Banco Central sobe a taxa de juros, na tentativa de conter esse aumento de preços.

Mas a alta taxa de juros eleva os gastos do governo com despesas financeiras. "Especialmente os juros da dívida pública", diz André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.

O Brasil já gastou cerca de R$ 855 bilhões em juros nos doze meses encerrados em agosto deste ano, segundo o Banco Central. Isso corresponde a aproximadamente 7,55% do PIB (Produto Interno Bruto). "Esses elevados gastos com juros têm contribuído substancialmente para o aumento do endividamento público, o que, por sua vez, adiciona ainda mais volatilidade ao câmbio", diz Galhardo. E também pressiona a inflação.

Qual a saída?

Para Galhardo, a meta de inflação atual é impraticável. "Precisamos aplicar uma meta factível", afirma. Além de ter uma taxa de juros menor, é necessário que o governo corte despesas.

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