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BCE começa a debater se juros devem ficar abaixo do nível neutro, dizem fontes

23/10/2024 08h26

Por Balazs Koranyi

(Reuters) - Autoridades do Banco Central Europeu começaram a debater se as taxas de juros precisam ser reduzidas o suficiente para estimular a economia, pondo fim a anos de restrição econômica, indicaram conversas realizadas esta semana com fontes.

O BCE tem cortado os juros rapidamente este ano, mas as autoridades disseram até agora que a meta é um cenário neutro, no qual o banco central não está desacelerando nem estimulando o crescimento, na esperança de que isso mantenha a inflação estável.

Embora as fontes, que falaram sob condição de anonimato, tenham enfatizado que qualquer consenso ainda está longe de ser alcançado, isso marca uma mudança significativa no debate sobre a política monetária que, em última análise, pode levar o banco a cortar os juros mais cedo e mais do que o esperado atualmente.

A mudança ocorre em um momento em que a situação econômica do bloco está se deteriorando rapidamente e a inflação está bem abaixo das previsões, aumentando o risco de que o crescimento dos preços possa ficar abaixo da meta do BCE, como aconteceu por quase uma década antes da pandemia.

Isso está levando algumas autoridades - um grupo ainda pequeno, mas crescente - a argumentar que o BCE está atrasado em relação à curva e que serão necessários cortes mais profundos do que se pensava anteriormente para evitar que a inflação fique muito baixa.

Elas também estão defendendo que o BCE reveja sua orientação de uma abordagem "reunião por reunião" e abandone a referência a taxas restritivas como um sinal de que está levando a sério os riscos de queda.

"Acho que neutro não é suficiente", disse uma fonte com conhecimento direto da discussão. "Essa decisão ainda está a alguma distância, mas a economia está estagnada há dois anos e não há recuperação à vista."

Gediminas Simkus, chefe do banco central da Lituânia e membro do Conselho do BCE, foi um dos primeiros a discutir publicamente esse risco.

"Se os processos de desinflação se consolidarem... é possível que as taxas sejam mais baixas do que o nível natural. Temos isso há décadas", disse ele esta semana. "Neutro" às vezes é chamado de "natural".

Um porta-voz do BCE não quis comentar.

INCERTEZA

Uma incerteza no debate é que a taxa neutra é considerada não observável e, portanto, não há consenso sobre o que ela é.

"Se você me perguntasse hoje: 'Onde ela está?', a resposta honesta seria: 'Não sei1'", disse a presidente do BCE, Christine Lagarde, esta semana.

Mas há muitas estimativas. O Fundo Monetário Internacional a coloca em 2,5%, os observadores do BCE entrevistados pelo banco a veem em cerca de 2,25%, a equipe do BCE acha que ela está próxima de 2% ou um pouco acima disso, e a precificação do mercado sugere que ela está agora abaixo de 2%. Individualmente, as autoridades veem intervalos ainda maiores.

Uma dificuldade é que a diferença entre a parte superior e a inferior dessas faixas poderia ser de até três cortes nas taxas.

O principal argumento para reduzir os juros do BCE abaixo do nível neutro é que o crescimento econômico está lento e a tão esperada recuperação simplesmente não está chegando. Isso significa que o BCE está restringindo a economia muito mais do que imaginava e que as taxas altas estão deprimindo a demanda.

Sem essa retomada do crescimento, a inflação doméstica também desacelerará e o mercado de trabalho poderá se enfraquecer rapidamente, aumentando a pressão de baixa sobre os preços.

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