Topo
Notícias

Dólar passa de R$ 5,70 e Bolsa cai com déficit dos EUA

do UOL

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL

21/10/2024 10h29Atualizada em 21/10/2024 16h02

Nesta segunda-feira (21), a Bolsa de Valores de São Paulo operava com instabilidades por volta das 16h. O Ibovespa tinha leve queda de 0,15%, indo a 130.307, ajudado pelo corte de juros na China. Mas a alta da moeda americana no mundo causa preocupações hoje.

Aqui, o dólar vinha sendo negociado em alta de 0,06%, indo a R$ 5,702. O dólar turismo ia a R$ 5,92.

O que está acontecendo?

O dólar começou o dia ameaçando bater o recorde de 2024, ao chegar a R$ 5,733 pela manhã. Em 5 de agosto, data da máxima do ano até agora, o mercado temia recessão nos Estados Unidos e a cotação atingiu R$ 5,75. Nesta segunda, o mercado está muito preocupado com o aumento da dívida americana, segundo Cristiane Quartaroli economista chefe do Ouribank. No momento, entretanto, a divida opera quase estável.

O déficit orçamentário dos Estados Unidos subiu para 6,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024. No ano passado, estava em 6,2%. As receitas adicionais não compensaram o forte aumento dos custos do serviço da dívida durante um período de juros elevados.

Desta maneira, a dívida chegou a US$ 1,833 trilhão em 30 de setembro — 8% a mais que no ano anterior. O déficit é o terceiro maior na história dos Estados Unidos, depois dos de 2020 e 2021, devido à crise da pandemia de covid-19, informou o Departamento do Tesouro nesta sexta-feira (18).

Esse déficit influencia a cotação do dólar no mundo todo, e no Brasil também. "Quando o governo dos EUA aumenta seu déficit, ele geralmente emite mais títulos da dívida pública, os Treasuries. Esses títulos são considerados ativos seguros, e investidores de todo o mundo os compram, principalmente em tempos de incerteza. Isso aumenta a demanda por dólares, pois esses títulos são emitidos e pagos em dólar, elevando seu valor de forma global", explica Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.

Há também o "risco Trump". "O aumento do clima de incerteza em relação ao conflito no Oriente Médio e uma eventual vitória do candidato Republicano à presidência dos EUA, Donald Trump, ajudam a fortalecer o dólar", diz André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.

Os conflitos geopolíticos também atrapalham. "Globalmente, as tensões geopolíticas continuam: avanço russo na Ucrânia, movimentação militar chinesa em torno de Taiwan e o conflito entre Israel e o Hezbollah, após o ataque de 7 de outubro de 2023", diz Gusmão.

Cotação afeta Bolsa

O aumento do risco fiscal nos Estados Unidos pode levar o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) a aumentar as taxas de juros. É o que diz Ariane Benedito, cofundadora e economista-chefe da Eai Invest. "Talvez o Fed não consiga fazer o ciclo de cortes que se esperava", diz ela. Gusmão, da Ourominas, concorda. "A possibilidade de juros mais altos nos EUA torna o dólar mais atraente para investidores que buscam retornos melhores. Isso aumenta a entrada de capital estrangeiro lá e também aumenta a demanda por dólares no mundo", diz Gusmão. Ou seja: mais moeda americana deixa o Brasil e o real perde valor.

China

Mais um capítulo da novela chinesa saiu hoje: o Banco do Povo da China (PBoC, banco central do país) cortou as principais taxas de juros em 0,25 pontos percentuais (p.p.), segundo comunicado divulgado pela instituição.

Há quase um mês, a China vem tomando medidas para estimular a economia e tentar chegar a 5% de crescimento este ano. Desta vez, a taxa de juros de referência para empréstimos (LPR) de 1 ano foi reduzida de 3,35% para 3,1%, enquanto a de 5 anos passou de 3,85% para 3,6%. É o terceiro corte este ano. A perda de ritmo da economia chinesa tem potencial para inibir investimentos e afetar as exportações nacionais. Mas o pacote tem ajudado o Ibovespa nesta segunda.

Embora esperado, o corte não é suficiente para animar o mercado chinês. O custo e a oferta de dinheiro não são o problema real na China. O problema real é a falta de demanda. Por isso, especialistas acreditam que mais estímulos fiscais são necessários.

Petróleo

O aumento das tensões no Oriente Médio faz o preço subir nesta segunda-feira. No momento, a alta se aproximava de 2%.

Focus

A estimativa de inflação do Boletim Focus subiu de 4,39% para 4,50%, exatamente no teto da meta. Um mês antes, ela estava em 4,35%. A pesquisa do Banco Central com cerca de 100 instituições financeiras também aponta que o dólar deve chegar ao final do ano em R$ 5,42, interrompendo uma sequência de três semanas de estabilidade. A estimativa anterior era de R$ 5,40.

Notícias