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Peças recicladas são mais baratas para reparar veículos, mas exigem cuidado

Depósito de peças recicladas ou remanufaturadas, removidas de veículos sinistrados ou no fim da vida útil - Divulgação
Depósito de peças recicladas ou remanufaturadas, removidas de veículos sinistrados ou no fim da vida útil Imagem: Divulgação
do UOL

Wandick Donett e Alessandro Reis

Colaboração para o UOL e do UOL, em São Paulo (SP)

20/10/2024 05h30

Com o aumento da frota e a preocupação com o meio ambiente, as peças automotivas recicladas ou remanufaturadas têm seu espaço no mercado, oferecendo uma alternativa mais econômica aos consumidores na comparação com as peças originais novas e até as paralelas.

Componentes reciclados com procedência legal são originais, geralmente provenientes de carros batidos, dos quais são posteriormente removidos, limpos, inspecionados, preparados e comercializados por empresas devidamente credenciadas pelos órgãos públicos.

Peças recicladas podem ser até cerca de 60% mais baratas do que partes novas e originais, oferecendo total funcionalidade e trazendo outra vantagem óbvia: reaproveitamento de componentes diante da escassez de matéria-prima.

Desmanches legalizados

No Brasil, a legislação federal sobre veículos sinistrados é bastante rigorosa.

Carros com danos considerados "grande monta" não podem voltar a circular e são destinados a centros de desmonte autorizados. Nestes locais, os veículos são desmontados e suas peças são inspecionadas e preparadas para a revenda.

No Estado de São Paulo, está em vigor, desde 1º de julho de 2014, a Lei 15.276, mais conhecida como "Lei do Desmanche", criada para controlar a atividade de depósitos, oficinas e empresas especializadas no comércio de peças retiradas de outros veículos.

A iniciativa, que regulamenta lei federal de mesmo teor, busca reduzir a incidência de furtos e roubos de automóveis e motocicletas para desmontagem e abastecimento do mercado ilegal de componentes veiculares usados.

Dentre outras coisas, a lei determina que as empresas sejam cadastradas anualmente no Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo) e na Secretaria da Fazenda e Planejamento do governo paulista.

Além disso, todas as peças comercializadas têm de trazer um adesivo dotado de QR Code, o código bidimensional que possibilita o respectivo rastreio - ou seja, dá para identificar o tipo, a marca, o modelo e o ano do veículo de onde foi retirada.

O código, que pode ser lido por meio de aplicativos de QR Code, incluindo o programa do próprio Detran-SP, permite identificar a empresa responsável pela desmontagem e comércio da peça. Também dá para ter acesso a fotos do carro ou da motocicleta, quando estão disponíveis.

Todo o processo, incluindo a movimentação do estoque e e emissão de notas fiscais, pode ser monitorado. As empresas flagradas desrespeitando as regras são impedidas de seguir atuando no setor, informa o departamento estadual.

Vale destacar que a legislação não permite o comércio de qualquer tipo de componente: itens de segurança como airbags, ABS e sistema de freios não podem ser vendidos após sua remoção de outro veículo.

Estes devem ser encaminhados para remanufatura ou reciclagem, mesmo que ainda estejam operacionais.

Vantagens das peças recicladas

Sustentabilidade: a reutilização de peças contribui para a redução do consumo de recursos naturais e diminui a quantidade de lixo eletrônico.

Economia: as peças recicladas costumam ser mais baratas do que as novas, o que as torna uma opção atraente para quem busca economizar. Tais componentes representam uma economia significativa para os consumidores, custando entre 40% a 60% menos que as peças novas originais. O gerente de oficina Aurélio Santos afirma que consegue comprar muitas peças com desconto significativo, de cerca de 50% do valor da peça nova, em perfeito estado: "Sai muito mais barato e o cliente fica satisfeito".

Qualidade: muitas peças recicladas estão em excelente estado de conservação e podem oferecer o mesmo desempenho das peças novas.

Disponibilidade: a oferta de peças recicladas é cada vez maior, o que facilita a encontrar a peça certa para o seu veículo.

Como funciona o desmanche legalizado

Renova Ecopeças - Reprodução - Reprodução
Instalações da Renova, na capital paulista, onde empresa da Porto Seguro faz a desmontagem dos veículos
Imagem: Reprodução

Paralelamente aos benefícios ao consumidor, o mercado legalizado de peças recicladas enfrenta alguns desafios.

A complexidade técnica dos veículos modernos, especialmente os híbridos e elétricos, exige um alto nível de conhecimento e equipamentos especializados para a desmontagem e reutilização das peças. Além disso, a logística é fundamental para garantir a disponibilidade das peças em todo o território nacional.

A Renova Ecopeças, uma empresa do Grupo Porto, especializou-se na desmontagem e reciclagem de veículos de acordo com a legislação e assegura a origem legal das peças recicladas, provenientes de carros sinistrados ou em fim de vida útil.

S matéria-prima da Renova são os veículos "irrecuperáveis", cuja documentação é baixada no Detran e se tornam um "amontoado de peças".

Segundo Daniel Morroni, diretor da Renova Ecopeças, o processo de reciclagem da Renova Ecopeças é meticuloso: as peças são desmontadas, avaliadas e catalogadas para garantir que mantenham sua qualidade e segurança.

Após a chegada do carro, ele passa por um "estande de descontaminação", onde são removidos todos os fluidos, como óleo, combustível e outros, acondicionados em tanques específicos para cada tipo de produto e adotando procedimentos para evitar a contaminação do solo.

Esses fluidos são encaminhados para empresas especializadas no respectivo descarte.

O veículo é registrado e a Renova informa os componentes que serão recuperados ao Detran-SP, que envia o QR Code a ser fixado em cada peça. Trata-se de uma etiqueta que não pode ser removida, pois ela é destruída se houver a tentativa.

Após essa etapa, começa a desmontagem.

Itens como bancos, faróis, lanternas, sistema de som, painel e lataria são retirados, registrados e devidamente etiquetados.

Chassi e outras partes metálicas não aproveitáveis têm borrachas e peças plásticas removidas antes de serem compactados para posterior venda como sucata.

As peças reutilizáveis são comercializadas presencialmente no balcão da Renova ou por meio de sites de classificados parceiros, informa Pereira.

Com algumas exceções, como partes da lataria, os componentes são comercializados com garantia de três a seis meses.

A empresa já reciclou cerca de 25 mil veículos e reintroduziu mais de 600 mil peças no mercado, com uma taxa de reciclagem de 95% do material dos carros com peças legalizadas, acessíveis e confiáveis e apenas 5% são, de fato, sucata.

Leilão de carros sinistrados

Muitos veículos dos quais são removidos componentes para posterior revenda são provenientes de leilões.

Adiel Avelar, presidente da Copart, empresa especializada no leilão de veículos batidos e avariados, afirma que, nos últimos dez anos, o Brasil desenvolveu uma legislação extremamente técnica que classifica os veículos sinistrados em três tipos de dano: pequena monta, média monta e grande monta.

"No caso da grande monta, o veículo não pode voltar a circular e deve ser vendido apenas para centros de desmonte veicular certificados pelo respectivo Detran (Departamento Estadual de Trânsito).

Apenas desmanches licenciados podem realizar a compra nos leilões automotivos. Para facilitar a compra dos motoristas que buscam peças para carros, a Copart conta com o serviço Achar Peças", afirma.

Segundo ele, a plataforma permite que os veículos comprados por desmanches legalizados participem de uma "vitrine online" no site da companhia.

"Asseguramos a integridade dos vendedores de peças automotivas, conectando os consumidores a fornecedores confiáveis e garantindo que todas as peças sejam originais dos respectivos modelos".

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