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Em debate inflamado, Nunes e Boulos se acusam de 'extremista' e 'bandido'

Do UOL, em São Paulo*

19/10/2024 22h01Atualizada em 20/10/2024 00h24

Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), que disputam a Prefeitura de São Paulo, subiram o tom em ataques pessoais e tentaram ligar o adversário a casos criminosos no penúltimo debate antes do segundo turno. Destaque do primeiro bloco, o apagão acabou em segundo plano no decorrer do confronto promovido pela Record e pelo Estadão neste sábado (19).

O que aconteceu

Os candidatos lembraram respectivas ocorrências policiais do adversário. O prefeito citou a atuação do psolista como líder do MTST e contra a cassação do deputado André Janones (Avante-MG), e citou um acidente de carro que envolveu Boulos em 2017. O deputado federal mencionou a ligação de Nunes com as investigações da máfia das creches, o parentesco de um aliado com o líder do PCC e até um caso de 1996 em que o emedebista deu um tiro para o alto na porta de uma boate.

Nunes acusou Boulos de ser "a favor da bandidagem" e o oponente respondeu que "bandido tem que estar preso, não em debate". O prefeito afirmou que o adversário era a favor da chamada "saidinha" de presos, e Boulos rebateu ligando Nunes ao caso da máfia das creches. Nunes não é alvo direto do inquérito, mas é ligado a empresários investigados.

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O prefeito tentou retratar Boulos como extremista em temas de segurança e costumes. Nunes disse mais de uma vez que o adversário defende o fim da Polícia Militar e também questionou Boulos sobre temas como drogas e legalização do aborto. Além disso, insistiu em retratar o oponente como invasor de propriedades.

Boulos contra-atacou. Ele afirmou que é a favor de polícia armada, mas lembrou que o candidato a vice de Nunes, coronel Mello Araújo (PL), já afirmou que a PM deve fazer abordagens diferentes se a pessoa mora na periferia ou nos Jardins, bairro de alta renda. Boulos também acenou ao público evangélico, lembrando que o presidente Lula (PT) sancionou o Dia da Música Gospel.

Ao todo, os candidatos pediram oito direitos de resposta no debate. Nunes fez cinco pedidos, dos quais três foram concedidos, e Boulos pediu três vezes, das quais duas foram atendidas.

Este foi o segundo debate entre os dois candidatos do segundo turno. Ambos já haviam se enfrentado na Band, no dia 14, mas Nunes deixou de ir a outros dois encontros: da rádio CBN, no dia 10, e do UOL/Folha/Rede TV!, na última quinta (17). Agora resta apenas o debate da TV Globo, marcado para a próxima sexta (25), antes do dia da eleição, no domingo (27).

A gente precisa ter essa tranquilidade de saber que aqui na campanha ele aparece um ator, mas na vida real, o que sempre fez, o que faz lá na Câmara, é exatamente isso. Contra a polícia, a favor da bandidagem e todas as ações e discursos sempre foram nesse sentido
Ricardo Nunes (MDB), sobre Boulos

Eu concordo com o Ricardo que bandido tem que estar preso, não em debate. Inclusive bandido de máfia da creche, e de tantos outros esquemas de corrupção que tem acontecido hoje em São Paulo
Guilherme Boulos (PSOL), em resposta a Nunes

Acusações de extremismo e ligação com crime

Nunes voltou a chamar Boulos de "invasor de propriedades". Ele mencionou ocupações que o psolista liderou quando era líder do MTST, e que atuou em um protesto com depredação à sede da Fiesp, em 2016. Boulos, que tem sido atacado por esse assunto desde o início das eleições, voltou a defender sua atuação no movimento e disse que "nunca invadiu a casa de ninguém".

Boulos citou um caso de porte ilegal de arma que Nunes enfrentou em 1996. Ele rebateu as acusações de "extremista" relembrando que o prefeito deu um tiro para cima na porta de uma boate em Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo. Nunes defendeu-se afirmando que foi separar uma briga.

O psolista ligou Nunes à criminalidade. Ele mencionou que Eduardo Olivatto, chefe de gabinete da secretaria de obras, é ex-cunhado de Marcola, chefe do PCC (Primeiro Comando da Capital). Na última sexta (18), a Justiça Eleitoral condenou Boulos a dar direito de resposta a Nunes por ligar o prefeito ao caso, porque Olivatto é servidor concursado do município há mais de 30 anos.

Boulos voltou a desafiar Nunes a abrir seu sigilo bancário, como fez no debate da Band na última segunda. Nunes reagiu afirmando que o psolista "não tem moral" para pedir isso, porque votou contra a cassação do deputado Janones, indiciado por suspeita de rachadinha. Inicialmente, Nunes não respondeu se abriria o sigilo, mas no segundo bloco afirmou que pode, sim, colocar seus dados à disposição das autoridades.

'Crianças brincando na praça da Sé'

Nunes defendeu medidas que tomou na área da segurança. Ao citar números que apontariam redução de furtos e roubos de celulares, o prefeito esteve recentemente na Praça da Sé, no centro da cidade, e que viu crianças brincando no local às 22h. Boulos ironizou a fala, afirmando que Nunes apresenta "uma fantasia".

Nunes rebateu dizendo que Boulos votou contra um projeto de lei que aumenta a pena para furto e roubo. "Aquilo que cabia a você como deputado federal para aumentar a pena de quem comete esse tipo de crime, você não votou", disse, antes de admitir que a segurança precisa melhorar na cidade. "É lógico que tem muita coisa para fazer".

Comparação com casal Nardoni

Boulos comparou Nunes ao casal Nardoni. Em uma discussão sobre corrupção no serviço funerário, o psolista disse que o prefeito falar de corrupção é como "o casal Nardoni falando dos filhos". Ele se referia ao assassinato de Isabella Nardoni, morta em 2008 pelo pai, Alexandre Nardoni e pela madrasta, Anna Carolina Jatobá. A mãe da menina, Ana Carolina Oliveira, foi eleita vereadora de São Paulo pelo Podemos no último dia 6, com a segunda maior votação da cidade.

Nunes condenou a comparação e prestou solidariedade à família de Isabella Nardoni. "É um debate tão importante, da maior cidade da América Latina, aonde o prefeito interfere na vida de 12 milhões de pessoas, que é tão necessário alguém equilibrado, respeitoso, atingir a memória de uma mãe é triste. Minha solidariedade a Ana Carolina", falou.

Boulos rebateu, citando falsidade do adversário. "Gente, vocês viram isso? Ele ataca, ataca, ataca, e, de repente, o marqueteiro deu ali um toque nele, aí ele baixa o tom, muda até o tom de voz, cita um negócio que aconteceu há dois blocos atrás. Vocês percebem?", perguntou.

Essa não é a primeira vez que o candidato do PSOL usa figuras de linguagem desse tipo. No último debate do primeiro turno, na TV Globo, Boulos disse que Pablo Marçal (PRTB) acusar alguém de ser extremista, era "igual a Suzane von Richthofen acusar alguém de assassinato".

Novo jogo de empurra sobre apagão

Os candidatos voltaram a atribuir culpas sobre a falta de luz em São Paulo. Assim como fez no debate da Band, na última segunda-feira (14), e em declarações na semana passada, o psolista voltou a afirmar que a Enel é "a mãe do apagão", e que Nunes é o "pai". O prefeito, por sua vez, acusou novamente o governo federal de não agir contra a concessionária.

Boulos culpa Nunes pela falta de retirada de árvores. Ele mencionou um convênio firmado entre a Prefeitura e a Enel, em junho, que estabeleceu que a gestão municipal é responsável por remover árvores podres, uma função que antes era compartilhada com a empresa. O documento previu, de fato, que a Prefeitura passou a ser responsável pelo serviço.

Nunes rebateu dizendo que esse convênio trata apenas da remoção, e não da poda das árvores. A manutenção regular, segundo lembrou o prefeito, deve ser feita pela Enel quando os galhos estiverem tocando os fios elétricos, devido aos riscos de acidente para os funcionários do município. A informação também é verdadeira, mas a Prefeitura deveria, em tese, fazer a poda antes que os galhos toquem a fiação elétrica.

Boulos voltou a puxar o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para a crise. Assim como havia feito em sabatina UOL/Folha/Rede TV!, na última quinta (17), o deputado lembrou que a Arsesp, a agência reguladora de serviços públicos do governo estadual, é responsável por fiscalizar o serviço da Enel. Nunes rebateu lembrando que apenas a Aneel, a agência reguladora federal, é que pode pedir a caducidade (rompimento) do contrato com a concessionária.

A mãe do apagão, vocês sabem, é a Enel, que presta um serviço horroroso e que eu, como prefeito, vou trabalhar de noite para que não continue em São Paulo. Mas o pai do apagão está aqui do meu lado: Nunes, que é o Ricardo, que não fez o básico, a poda e o manejo de árvores, sobretudo a remoção
Guilherme Boulos

Aqui a gente não quer jogar a culpa para ninguém. Eu quero ver as pessoas com os seus problemas resolvidos. E é por isso que eu fui à Justiça contra a Enel
Ricardo Nunes

Participaram dessa cobertura: Anna Satie, Bruno Luiz, Laila Nery, Rafael Neves e Wanderley Preite Sobrinho, do UOL

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