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Ex-diretor da Globo contesta participação de Graeml em reportagem premiada

 Cristina Graeml (PMB), candidata bolsonarista à Prefeitura de Curitiba - Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo
Cristina Graeml (PMB), candidata bolsonarista à Prefeitura de Curitiba Imagem: Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo
do UOL

Diego Sarza

Do UOL, em São Paulo

17/10/2024 13h15

Ex-diretor e jornalistas da RPC, afiliada da TV Globo no Paraná, contestam a participação de Cristina Graeml (PMB), candidata à prefeitura de Curitiba, em série de reportagens premiada. Ela disputa o segundo turno com o vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD).

A informação foi divulgada pelo Jornal Plural, do Paraná, e confirmada pelo UOL. Procurada, a candidata não se manifestou até a publicação. Caso envie posicionamento, o texto será atualizado.

Publicada em 2010 em conjunto pela RPC e pela Gazeta do Povo, a série "Diários Secretos" revelou um esquema de desvio de dinheiro público por meio da contratação de funcionários fantasmas pela Assembleia Legislativa do Paraná. O rombo aos cofres públicos foi de R$ 200 milhões, segundo investigação posterior do Ministério Público (MP-PR).

A série teve grande repercussão no Paraná, com protestos que reuniram mais de 30 mil pessoas, e resultou na prisão de diretores do legislativo paranaense. Também venceu o Prêmio Esso, um dos mais importantes do jornalismo brasileiro, e é considerada um marco no jornalismo baseado em dados no Brasil.

Cristina Graeml, que é jornalista, não teria participado da investigação, apenas da gravação de vídeos exibidos na Globo.

Mas, durante a campanha, Cristina Graeml tem dito que participou, sim, da investigação.

Em um vídeo compartilhado em suas redes sociais nesta quarta-feira (16), Cristina Graeml enalteceu sua participação na série "Diários Secretos".

Participei da equipe que fez a investigação. Depois das reportagens, 'teve' vários diretores da Assembleia, aliás todos, foram demitidos: diretores de RH, administrativo, financeiro. (...) A gente continua vendo isso acontecer, né. O povo tá cansado justamente disso.
Cristina Graeml (PMB), candidata a prefeita de Curitiba, em vídeo de 16 de outubro

O discurso está em sintonia com a imagem que Graeml pretende apresentar ao eleitor curitibano, de candidata "antissistema".

Mas ex-diretores da RPC e jornalistas que participaram da série dizem que não é bem assim.

Wilson Serra, ex-diretor da afiliada paranaense da Globo, contou que, quando o material estava pronto para ser publicado, a empresa avaliou que entregar a série para um só repórter gravar poderia representar um risco à segurança do profissional.

Por isso, vários repórteres foram convocados e gravaram, cada um, no máximo duas matérias para serem exibidas na Globo. Eles receberam textos praticamente prontos, faltando apenas alguns detalhes para finalização. Foi o caso de Cristina Graeml.

Já a equipe de investigação foi formada por James Alberti, Karlos Kohlbach, Katia Brembatti e Gabriel Tabatcheik.

Gabriel Tabatcheik contou para o UOL que as matérias da série "Diários Secretos" saíram de uma base de dados construída pelos quatro autores da série.

Montamos uma tabela eletrônica com os nomes de centenas de funcionários comissionados, com a minuciosa digitação das informações dos diários oficiais e o cruzamento com folhas de pagamento do legislativo paranaense. É fácil decifrar a polêmica. Diários Secretos é um trabalho de jornalismo investigativo de dados e nessa área a Cristina nunca teve atuação.
Gabriel Tabatcheik, um dos quatro jornalistas investigativos responsáveis pela série "Diários Secretos"

Cristina Graeml trabalhou como repórter de TV por 26 anos, grande parte deles na RPC/Globo. Depois, começou a escrever análises políticas para a Gazeta do Povo, veículo que passou a abrigar nomes da extrema-direita. Também foi comentarista da Jovem Pan no período em que a emissora deu eco a comentários anti-vacina e favoráveis a movimentos antidemocráticos.

Entenda o que foi a série 'Diários Secretos'

A série recebeu este nome porque a Assembleia Legislativa do Paraná dificultava a livre consulta aos seus diários oficiais. Os documentos traziam, entre outras informações, os nomes dos funcionários comissionados do legislativo.

Existiam inúmeras suspeitas do uso de cargos para o desvio de dinheiro com funcionários fantasmas, em uma prática conhecida hoje como "rachadinha".

Por meio de uma fonte, James Alberti conseguiu acesso a vários desses diários e começou a preparar uma tabela eletrônica. Como o trabalho era vasto, convidou os também jornalistas Gabriel Tabatcheik, Kátia Brembatti e Karlos Kohlbach para a investigação.

Organizando os dados coletados, os quatro jornalistas descobriram que a Assembleia mantinha uma estratégia para ocultar atos públicos. Na prática, isso permitia nomeações secretas de servidores e desvio de dinheiro, sem chance de fiscalização externa.

Além das reportagens, os quatro jornalistas também digitalizaram e divulgaram os diários oficiais que coletaram. Pessoas mortas, indivíduos que moravam fora do estado e até mesmo crianças foram constavam como funcionários do legislativo.

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