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Tratamento capilar conhecido como 'alisamento brasileiro' pode ter causado intoxicação na França, alertam autoridades

16/10/2024 16h24

Quatro mulheres foram hospitalizadas na França em 2024 vítimas de insuficiência renal aguda que, segundo os médicos, pode ter sido provocada pela presença no organismo de ácido glioxílico. A substância estava presente nos cosméticos usados para tratamentos capilares conhecidos na Europa como "alisamento brasileiro". Os casos estão sendo investigados e as autoridades francesas desaconselham o uso desse tipo de produto.

O alerta foi lançado após o registro de "quatro casos de insuficiência renal aguda" em pessoas com idade entre 28 e 42 anos, "ligados ao uso de vários produtos capilares contendo ácido glioxílico", segundo informou a Agência francesa de segurança sanitária (Anses na sigla em francês). Essas quatro pessoas, que foram hospitalizadas após serem envenenadas entre janeiro e agosto de 2024, "se recuperaram após o tratamento", de acordo com a agência, que lançou uma investigação sobre a toxicidade renal dessa substância química em aplicações capilares.

Os casos ocorreram após a aplicação de produtos de alisamento em salões de cabeleireiros na França. Sandrine Charles, gerente de projetos de cosméticos da Anses, informou que, além das quatro ocorrências, "cerca de 20 casos foram relatados em Israel nos últimos anos, e um na Suíça".

Segundo Juliette Bloch, diretora dos alertas de vigilância sanitária da Anses, o ácido glioxílico entra na corrente sanguínea por meio do couro cabeludo. E, nesse caso, a substância "pode se transformar em cristais de oxalato de cálcio", que bloqueiam os rins.

Em março deste ano um estudo científico francês mostrou que o ácido glioxílico presente em praticamente todos os cosméticos usados nos tratamentos de alisamento capilar podia ter um impacto negativo nos rins. Desde junho, a Academia Francesa de Medicina vem recomendando, baseada nesses dados, que "mensagens de alerta e informação sejam enviadas aos profissionais de saúde, salões de cabeleireiro e varejistas de cosméticos".

A entidade enfatiza "um risco à saúde que pode estar sendo subestimado por ser pouco conhecido" e ressalta "a importância de não alisar o cabelo se houver lesões no couro cabeludo, que aumentam a penetração" da substância.

Na maior parte das ocorrências, não há sequelas graves e o organismo pode eliminar a substância após um consumo importante de água. No entanto, as autoridades aconselham que um médico seja consultado em caso de sinais de insuficiência renal - dor abdominal ou nas costas, náusea e/ou vômito - algumas horas após a aplicação de um produto capilar contendo ácido glioxílico. Três das pessoas intoxicadas puderam deixar o hospital após serem submetidas a um tratamento. A quarta mulher continua internada.

Alerta aos cabeleireiros

Como precaução, a Direção Geral de Concorrência, Assuntos do Consumidor e Controle de Fraudes e o Ministério da Saúde estão aconselhando salões de cabeleireiro e pessoas físicas a não usarem esses produtos. As autoridades também preconizam que os varejistas de cosméticos deixem de vender esse tipo de cosmético enquanto aguardam as conclusões da avaliação da Anses, no final de 2024.

Na quarta-feira (16), a associação profissional francesa de fabricantes de cosméticos, Fébéa, procurou tranquilizar os usuários. Em um comunicado, a entidade declarou que apesar dessas "suspeitas relativas à toxicidade" do ácido glioxílico, "as evidências atuais não nos permitem tirar conclusões definitivas". Contatada pela AFP, a gigante da indústria L'Oréal disse que "não adiciona o ácido glioxílico como ingrediente em nenhum de seus produtos, em nenhum mercado do mundo".

O ácido glioxílico substituiu o formaldeído, que foi classificado como carcinogênico e é proibido na França.

(Com agências)

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