Condomínio em SP fica dias sem luz pela 2ª vez em um ano: 'Pesadelo'
Moradores conjunto habitacional Verde Oliva, no bairro Santo Amaro, que relataram os prejuízos do apagão do ano passado ao UOL, sofreram pela segunda vez em menos de um ano com falta de energia elétrica.
O que aconteceu
Moradores do conjunto habitacional Verde Oliva perderam comida, medicamentos, ficaram sem banho e tiveram que se virar à luz de velas. A realidade se repetiu por São Paulo, onde milhares de pessoas sofreram pela segunda vez em 11 meses com apagão elétrico. O UOL falou com os mesmos moradores que ficaram quase uma semana sem luz no ano passado — os problemas continuam os mesmos, relatam.
Desta vez, foram quatro dias sem energia elétrica. A energia voltou na madrugada desta terça-feira (15). No entanto, os moradores ficaram às escuras desde sexta-feira (11), quando um temporal atingiu a cidade de São Paulo provocando quedas de árvores e apagão.
Moradores já haviam ficado seis dias no escuro no ano passado. Em novembro de 2023, durante outro temporal de grande escala na capital paulista que deixou mais de 1,5 milhão de pessoas sem luz, os moradores relataram ao UOL prejuízos e pessoas vulneráveis sem poder fazer uso de medicamentos por falta de refrigeração.
Cerca de 60% dos condôminos são idosos. De acordo com o síndico do conjunto, Rogério Sousa, boa parte dos moradores é composta por idosos. São cerca de 1.500 pessoas residindo no conjunto habitacional de 50 blocos. A vendedora Claudia Pessoa, disse à reportagem que "nada mudou" desde o último trauma, no ano passado.
Voltou hoje às 3h. Foi um estresse muito grande, um pesadelo. As pessoas perderam muita alimentação e tiveram muito custo, isso quem pôde comprar. Minha filha precisando fazer inalação, a bronquite dela atacou e sem energia não conseguiu, ficou com febre altíssima.
Claudia Pessoa, moradora
Eles mandam protocolos. A gente mandava o protocolo, vinha o carro e dava baixa nas demandas, mas não resolvia o problema. Esse ano não se compara ao ano passado, mas na nossa área de lazer, caíram algumas árvores. Alguns galhos caíram na fiação e gerou o apagão. Quando restabeleceu, veio a luz das vias, mas não dos blocos.
Rogério Sousa, morador e síndico
Tudo isso mexe com a gente. Despesa com compras que estragaram, prejuízo para saúde. A gente entende que existe imprevisibilidade. Porém, eu vejo uma questão de descaso da Enel, que não reparou a experiência passada.
Claudia Pessoa, moradora
A mesma moradora relatou ao UOL no ano passado que teve crise de pânico com o barulho dos fios estourando. À época, o carro dela foi danificado.
A vendedora diz que já solicitou inúmeras vezes que a prefeitura resolvesse o problema com as árvores. Contudo, o órgão relata que em locais com presença de fiações elétricas, a responsabilidade da poda e manutenção das árvores é da Enel. A empresa, por sua vez, posterga as manutenções — relata.
A reportagem tenta contato com a Enel. Caso haja manifestação, o texto será atualizado.
Síndico foi nove vezes pedir ajuda na Enel
O responsável pelo conjunto residencial disse que foi ignorado várias vezes ao procurar a distribuidora. Rogério disse ao UOL que foi obrigado a se deslocar a uma sede da Enel, já que o problema não era solucionado por telefone.
Com experiência do último ano, condomínio desvinculou o fornecimento de água à energia elétrica. De acordo com o síndico, por saberem dos problemas de fornecimento, o condomínio tomou a decisão de ligar e desligar as redes de distribuição de água dos prédios manualmente. Na falta de energia, o sistema que leva a água das caixas até os moradores não depende da rede elétrica.
Fui à base da Enel, onde ficam os carros. Consegui falar com um supervisor de segurança, contei as histórias: tem muito idoso, os medicamentos. Falaram que iam aparecer e nada. Fui no sábado, domingo, falei com outro supervisor. Segunda a noite fui de novo e eles falaram que dali a uma hora iria alguém lá, sendo que o pátio fica até perto daqui.
Rogério Sousa, morador e síndico
Vieram carros pequenos, não solucionaram. Precisava de um carro maior, já que as árvores eram grandes. No final, quem ajudou foi uma equipe aleatória que passou e a gente chamou. Tivemos que parar um carro.
Rogério Sousa, morador e síndico
Moradores temem novos temporais
Claudia disse que no grupo do condomínio os moradores já se preparam para um novo temporal. A previsão é que uma frente fria com chuva atinja a capital na sexta-feira (18) novamente.
Além dos problemas com as árvores, moradores denunciam um poste torto dentro do conjunto. Segundo relatos, a estrutura do poste está prejudicada e pode ceder.
A moradora conclui dizendo que não sabe o que esperar para outros temporais. De acordo com ela, entre vizinhos, já são discutidos métodos para minimizar os estragos, como armazenar gelo e protocolos de segurança para os mais vulneráveis.
Sexta tem previsão de tempestade, e a gente fica cismado com o trauma. No ano passado ficamos seis dias sem luz, e agora por volta de quatro, cinco dias. Isso aí acontece sempre. E quando acontece às vezes, mais de 24 horas sem luz. Estamos em uma região não tão afastada e ainda assim isso acontece, é uma vergonha. Não precisa ser uma catástrofe para cair a energia, está sendo uma coisa contínua.
Claudia Pessoa, moradora
A gente tem medo sabendo que vai ter ventania no fim de semana. É uma coisa que é direito nosso, mas não acontece de religarem quando a gente precisa. Tenho receio por terem muitos idosos com medicações que precisam ser tomadas no condomínio. Tem pessoa que precisa de oxigênio. Tem uma senhora que é acamada e precisa de um colchão especifico que precisa de energia. Medicações que precisam ser refrigeradas.
Rogério Sousa, morador e síndico
Minha mãe idosa de 72 anos mora comigo. Idosos com problemas de locomoção moram aqui. Imagina o risco de acidente sem luz e sem o básico. Imagina tantas pessoas mexendo com vela, o perigo. Existe a questão emocional, muitas pessoas em choque.
Claudia Pessoa, moradora
Milhares de imóveis continuam sem energia
Na noite de terça (15), 158 mil imóveis continuavam sem energia elétrica desde o apagão da sexta-feira (11) em São Paulo e Grande São Paulo segundo boletim do início da noite. A Prefeitura de São Paulo aponta que acionou a Aneel (Agência Reguladora de Energia Elétrica) e o TCU (Tribunal de Contas da União) sobre as "deficiências do serviço público prestado pela Enel", conforme cita a petição.
Prefeitura de São Paulo acusou a Enel de "inércia". Na petição, a gestão municipal alega que 386 árvores caíram devido aos temporais e, por estarem próximas à fiação elétrica, causaram a interrupção no fornecimento de energia. "Por inércia da Enel, com manejos em atraso, conforme exaustivamente demonstrado ao longo desta demanda, causaram a interrupção no fornecimento de energia elétrica para mais de 1,6 milhão de pessoas", diz a prefeitura.