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Investigado por estupro, Evo Morales recebe apoio de sindicatos mas perde credibilidade na Bolívia

16/10/2024 16h04

Centenas de partidários de Evo Morales bloquearam as principais estradas do departamento boliviano de Cochabamba nesta terça-feira (15), no segundo dia de protestos contra a possível prisão do ex-presidente, acusado de ter abusado de um menor durante seu mandato. Morales, que alega que o caso faz parte de uma perseguição planejada pelo governo do ex-ministro e agora adversário Luis Arce, permanece sob proteção na província de Chapare, produtora de coca, em Cochabamba.

Evo Morales está sendo investigado por estupro, tráfico de seres humanos. De acordo com a promotoria de Tarija, Morales teve um relacionamento em 2015 com uma adolescente de 15 anos que, um ano depois, deu à luz a uma menina. O ex-presidente boliviano chama o caso de mais uma mentira contra ele e lembra que esse mesmo caso foi investigado e arquivado pela justiça em 2020.

De acordo com Morales, o governo de Luis Arce, seu ex-aliado e agora rival político, reativou o caso para impedi-lo de concorrer à presidência em 2025. "É mais uma das ações do governo para prejudicar a imagem de Evo Morales, que já está abalada. No caso de uma sentença executória, ele não poderia ser candidato à presidência. "A validade do status legal do partido MAS, de Morales, também está em risco. Morales insiste em ser o único candidato da sigla", analisa o sociólogo e cientista político Fernando Mayorga para a RFI.

Na quinta-feira passada, Evo Morales se recusou a comparecer perante o Ministério Público. Diante de sua recusa, a promotora advertiu que poderia emitir um mandado de prisão contra o ex-presidente boliviano.

Morales optou pela ação direta por meio de um bloqueio de estradas. "O presidente tem uma defesa da questão que, na verdade, é evitá-la. Ele não se apresentou para depor", diz Mayorga, que considera que o mais conveniente seria "esclarecer publicamente" a situação.

Sindicatos de plantadores de coca mobilizados

De acordo com Mayorga, professor da Universidade Pública de Cochabamba, Morales está reforçando "sua liderança no núcleo mais duro do MAS", com um "protesto bem-sucedido para ele". No entanto, ele considera que tanto Morales quanto Luis Arce estão perdendo em termos de opinião pública. "O MAS como partido está sendo enormemente desacreditado como um todo", afirmou.

As bases que apoiam Evo Morales nas ruas não estão fazendo exigências que dizem respeito a amplos setores. Na opinião do especialista, também não se trata de uma defesa cega do líder diante de seu apelo.

"Morales é o principal líder dos sindicatos de plantadores de coca. Desde 1989, ele é presidente da coordenação das seis federações de trabalhadores da planta. Há um grau de controle do mandato sindical que limita sua liderança. Na medida em que seu principal líder, que teria sido o presidente, é processado ou preso, todo o setor se torna vulnerável. Essa defesa corporativa une de forma coesa essa base social, mas não gera simpatia na opinião pública", conclui Fernando Mayorga.

Movimentos camponeses defendem Morales

Os bloqueios para impedir uma eventual prisão de Morales são organizados pelo Pacto de Unidade, uma coalizão de movimentos camponeses liderados por indígenas e partidários de Morales. O governo de Arce convocou Morales para discussões na segunda-feira, mas sem sucesso.

Durante o segundo dia de protestos, o ministro do Interior, Eduardo del Castillo, anunciou que a polícia desbloquearia as estradas. "Todos os pontos (de protesto) sofrerão intervenção", advertiu.

Além de "salvaguardar a liberdade e a integridade" do ex-presidente, o Pacto de Unidade se mobilizou para protestar contra a crise econômica resultante da escassez de dólares e combustível. "O governo definitivamente resolverá esses problemas em um diálogo sincero ou deixará definitivamente o país", disse o líder Humberto Claros.

(Com AFP)

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