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Autor de 'Gomorra' fica de fora de Feira de Frankfurt e denuncia 'intimidação' de governo italiano

16/10/2024 10h39

A Feira do Livro de Frankfurt abre nesta quarta-feira (16) com uma polêmica italiana. Embora o país seja convidado de honra da maior feira literária internacional, Roberto Saviano, um dos autores mais célebres da Itália, não foi convidado. Conhecido por suas revelações sobre a máfia italiana e por seus confrontos com a primeira-ministra de extrema direita Giorgia Meloni, o jornalista e escritor foi excluído da delegação italiana enviada à Alemanha.

Blandine Hugonnet, correspondente da RFI em Roma

Apesar de estarem presentes cerca de 90 autores italianos na delegação oficial, é a ausência de Roberto Saviano na lista de convidados que chama a atenção. O autor ficou conhecido por seu livro de investigação sobre a máfia, Gomora, de 2006, e por seu incansável engajamento público contra Matteo Salvini e Giorgia Meloni.

A associação de editores italianos não convidou o escritor, multado no ano passado por difamação contra os dois líderes da extrema direita.

A expulsão de Roberto Saviano do grande evento literário na Alemanha despertou a revolta do escritor, que atacou nas redes sociais o que classificou de o "governo mais ignorante da história italiana".

"É uma forma de intimidação enviar uma mensagem", denunciou o jornalista que continua a acusar o governo de censura.

Apoio de outros escritores

Em sinal de protesto contra a exclusão de Saviano da seleção oficial, 41 escritores italianos assinaram uma carta aberta denunciando "uma interferência política cada vez mais sufocante no campo cultural" e uma degradação da liberdade de expressão no país.

Não houve "interferência externa" na constituição de "Raízes no Futuro", nome da seleção italiana de 2024, rebateu a associação de editores italianos.

Esta não é a primeira polêmica envolvendo a feira. No ano passado, vários editores de países predominantemente muçulmanos retiraram-se do evento, confrontados com o apoio a Israel demonstrado pelos organizadores, logo após o ataque do Hamas, em 7 de outubro.

Apesar da polêmica, o diretor da feira, Jürgen Boos, considera legítimo que a Itália continue sendo a convidada de honra.

"Acredito que é muito importante mostrar o que está acontecendo neste momento na Itália nos âmbitos cultural e político", garantiu. A delegação italiana incluirá muitos dos escritores mais proeminentes da literatura italiana contemporânea.

Convidado pela sua editora alemã, Roberto Saviano finalmente confirmou sua presença na feira de Frankfurt e apresentou sua participação como forma de resistência, em nome da democracia.

Inteligência artificial e Tik Tok

O evento literário anual, imperdível para os profissionais do setor, reúne autores, editores e outros membros importantes do meio durante cinco dias na cidade alemã.

Outros temas deverão dominar a maior feira editorial do mundo, com mais de mil autores e palestrantes programados em cerca de 650 eventos em quinze palcos diferentes.

Um grande espaço será dedicado à literatura do "novo adulto" e do "novo romance", versão 2.0 do romance "água com açúcar", rico em subgêneros com nomes muitas vezes extravagantes, como "Romantasy" - a meio caminho entre o romance e a fantasia - ou "dark college", com intrigas envolvendo estudantes universitários.

Estes gêneros literários tornaram-se essenciais para os jovens leitores, sobretudo graças à rede social TikTok, na qual os autores lançam suas obras e recebem opiniões dos leitores.

A inteligência artificial também estará no centro da feira do livro de Frankfurt, com várias conferências que abordam os receios do setor diante da avalanche de livros de baixo custo escritos por algoritmos ou dos temores de violação de direitos autorais.

"Em relação aos direitos autorais, é uma grande bagunça", opina Jürgen Boos.

Autores proeminentes como John Grisham e Jodi Picoult processaram recentemente a OpenAI, acusando a empresa americana de usar ilegalmente seus trabalhos para alimentar sua interface ChatGPT.

Mas para o diretor da feira de Frankfurt, a IA também pode trazer aspectos positivos para o mundo editorial, melhorando os "fluxos de trabalho nas editoras" e ajudando a escrita no setor editorial, na investigação e na ciência.

Outro destaque será a entrega do "Prêmio da Paz da Livraria Alemã", atribuído este ano a Anne Applebaum, jornalista e historiadora polonesa-americana cujo último livro, "Autocracy Inc.", analisa como os Estados autoritários estreitam relações.

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