Quem venceu o 1º debate entre Nunes e Boulos em SP? Colunistas opinam
O primeiro debate do segundo turno entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) na noite desta segunda (14) foi marcado pelo apagão na cidade e pela troca de alfinetadas entre os adversários.
Veja quem ganhou e quem perdeu, na avaliação de colunistas do UOL:
Andreza Matais
Os debates se livraram de Pablo Marçal, mas Marçal não saiu dos debates. Coube ao candidato Guilherme Boulos (PSOL) trazer as pautas do coach para o primeiro confronto da eleição para a prefeitura de São Paulo: máfia das creches, PCC, contratos superfaturados. Num flashback, Boulos chegou a repetir quatro vezes a mesma pergunta sobre o escândalo.
O debate virou uma entrevista de Boulos com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição. Nunes respondeu dizendo que queria falar da cidade e insistindo na falta de experiência de Boulos em cargos no Executivo.
Tirou a paciência de Boulos quando perguntou por que o PSOL em São Paulo votou contra a redução de impostos. "Quer falar da cidade e fica questionando meu partido?", respondeu Boulos, lançando uma acusação no ar ao estilo Marçal: "É de estarrecer o que tem de coisa do seu partido no país inteiro, mas não vou mencionar porque o Baleia (presidente nacional do MDB) ficará bravo comigo".
A vice de Boulos, Marta Suplicy (PT), foi para o MDB em 2015, quando era senadora. Quem ganhou o debate foi o prefeito, que, liderando as pesquisas, aproveitou melhor o tempo.
Leonardo Sakamoto
Guilherme Boulos, atrás nas pesquisas, foi para cima de Ricardo Nunes e conseguiu impor uma vitória, ainda que longe do nocaute. Ele pautou a falta de poda das árvores pela prefeitura como uma das causas do apagão ao lado da incompetência da Enel e bateu no suposto enriquecimento ilícito do adversário, desafiando-o a abrir o seu sigilo bancário. O prefeito passou recibo ao não topar.
O deputado diversas vezes tentou incorporar Kamala Harris, candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos, imitando suas caras de desaprovação no debate com Donald Trump, quando Nunes o criticava. Mas fez isso tão próximo do adversário que gerou um dos melhores momentos do debate: incomodado, o prefeito o abraçou, perguntando se estava tudo bem, e ambos riram.
O encontro foi duro, com acusações e denúncias, mas discutiu propostas e visões de mundo — coisa que era impensável no primeiro turno, quando os veículos de comunicação investiram no autoengano de convidar Pablo Marçal em nome da democracia.
Matheus Pichonelli
O primeiro embate entre os candidatos no segundo turno terminou sem um vencedor claro. O apagão em São Paulo, como esperado, pautou boa parte do encontro. Guilherme Boulos tentou a todo custo explorar as responsabilidades do prefeito na crise.
Mas Ricardo Nunes fez a lição de casa, se emancipou com números, não poupou a Enel e se desviou como pode das cascas de banana, tirando o corpo fora e terceirizando a culpa para a empresa e as amarras do contrato sob a esfera federal. Parecia mais liso do que em outros debates.
Em vantagem nas pesquisas e jogando para empatar, Nunes evitou responder a perguntas do rival sobre se abriria seu sigilo bancário, se andaria com celular em segurança nas ruas da capital ou se defenderia o trabalho do aliado Jair Bolsonaro (PL) na pandemia. Só desconversou. Se perdeu pontos, não foram suficientes para perder a vantagem apontada nas pesquisas sobre o adversário.
Raquel Landim
Guilherme Boulos (PSOL) é desenvolto, hábil com as palavras, explorava bem o palco, olhava para a câmera, conversava direto com o telespectador e fez perguntas muito objetivas sobre a situação de vida do paulistano.
Nunes, no entanto, estava melhor preparado do que esperado. Animado com as pesquisas, mostrou mais fibra e mais ironia do que em outros debates.
Em determinado momento, quando o candidato do PSOL aproximou-se fisicamente do prefeito, ele bateu no ombro de Boulos e afirmou: "Você não vai me intimidar. Eu vim da periferia do parque Santo Antônio, não tenho medo de nada, só de Deus", afirmou.
Em debates, a linguagem corporal conta muito. E o feitiço pode ter virado contra o feiticeiro.
Boulos pareceu agressivo e, provavelmente, pode ter aumentado sua rejeição, que já está em 58%, conforme o Datafolha.
Ronilso Pacheco
No primeiro confronto entre os dois candidatos, ficou claro que Boulos escolheu aproveitar cada minuto para estar na ofensiva e deixar Ricardo Nunes acuado.
O tema do apagão logo de largada privilegiou Boulos neste sentido. Apagão e vacina foram dois temas que mais deixaram Nunes fragilizado. É nítido que ele se preparou com respostas que buscaram fazer crer que ele não tinha nenhuma responsabilidade no caos, mas sim o governo federal. Mas provavelmente até Nunes mesmo sabia que isso não convenceria ninguém.
Nunes se saiu melhor com temas como educação, saúde e segurança, com respostas que davam alguma concretude a partir do que alegava serem suas realizações. Com um primeiro turno marcado pela apreensão da expectativa de episódios de violência e ataques verbais esdrúxulos, foi quase estranho ver um debate em que oponentes se abraçaram, se cumprimentaram e ofereceram trechos descontraídos.
Eu vi um empate, embora Nunes ainda possa sentir o efeito gradativo do apagão, a cada minuto que o caos perdure.
Tales Faria
O candidato do PSOL, deputado Guilherme Boulos, manteve o adversário do MDB, o prefeito Ricardo Nunes, nas cordas durante praticamente todo o debate.
O deputado adotou a tática de repetir com firmeza as perguntas que Nunes evitava responder. Até utilizando expressão corporal, o deputado conseguiu sublinhar com firmeza o hábito do prefeito de fugir dos temas mais delicados.
O ponto mais marcante desse embate foi quando o deputado insistiu em cobrar um pacto de quebra do sigilo bancário de ambos. Nunes desconversou seguidamente sem responder nem que sim, nem que não.
Ambos, no entanto, não conseguiram convencer quem, afinal, estava com razão sobre a responsabilidade da Prefeitura ou do governo federal pelo apagão produzido pela Enel em São Paulo.
Ficou parecendo apenas um jogo de empurra em que o eleitor, de um ou de outro, poderá acreditar no que quiser.