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Manifestantes bloqueiam reduto político de Evo Morales para evitar sua prisão

15.out.2024 - Apoiadores de Evo Morales bloqueiam vias no segundo dia de protestos contra a provável prisão do ex-presidente boliviano - Fernando Cartagena/AFP
15.out.2024 - Apoiadores de Evo Morales bloqueiam vias no segundo dia de protestos contra a provável prisão do ex-presidente boliviano Imagem: Fernando Cartagena/AFP

AFP

15/10/2024 16h15

Centenas de apoiadores de Evo Morales bloquearam, nesta terça-feira (15), as vias de comunicação com o departamento de Cochabamba, no centro da Bolívia, no segundo dia de protestos contra a provável prisão do ex-presidente pelo suposto abuso de uma menor durante seu mandato.

Morales, que afirma que a ação do Ministério Público é parte de uma perseguição orquestrada pelo governo do ex-ministro e hoje adversário Luis Arce, permanece resguardado na província de Chapare, em Cochabamba, onde fica a base política do ex-presidente, segundo informações de seu partido à AFP.

"Se tocarem no irmão Evo, esse bloqueio será pior; por dois meses, três meses, até o fim do ano", disse o dirigente camponês Ricardo Cardozo diretamente de Parotani, cidade localizada entre Cochabamba e La Paz e fechada pelos manifestantes em meio aos confrontos com a polícia.

Os manifestantes bloquearam com pedras e terra as estradas que ligam Cochabamba às cidades de La Paz, Sucre (sul) e Santa Cruz (leste), de acordo com a Autoridade Boliviana de Estradas (ABC).

Duas novas rotas foram bloqueadas nesta terça e se somam às três de segunda, indicou a ABC.

"É uma indecência o que estão fazendo contra o irmão Evo Morales (...), um processo absolutamente montado, ensaiado, planejado às escondidas", afirmou Humberto Claro, outro líder do protesto. 

Confrontos entre manifestantes e autoridades ocorreram pelo segundo dia seguido em Parotani. 

Os apoiadores de Morales lançaram pedras e fogos de artifício e fizeram fogueiras. A polícia respondeu com gás lacrimogêneo, mas não conseguiu desbloquear a via, observaram repórteres da AFP.

Seis manifestantes foram já haviam sido detidos neste mesmo local na segunda-feira, informou a polícia.

Esses bloqueios são a "mostra de que o 'evismo' busca a impunidade" de seu líder, afirmou a vice-ministra de comunicação, Gabriela Alcón.

- O caso -

Morales, o primeiro indígena a governar a Bolívia, entre 2006 e 2019, está sendo investigado pelos crimes de "estupro, exploração e tráfico de pessoas". 

O Ministério Público do departamento de Tarija (sul) afirma que Morales se relacionou em 2015 com uma menor de 15 anos, e que um ano depois nasceu uma filha de ambos.

Na quinta-feira, ele não cumpriu uma intimação do Ministério Público do Ministério Público para depor, o que poderia levar as autoridades a ordenar sua prisão. 

Agora um opositor do governo de seu ex-ministro Luis Arce, o ex-presidente chama o caso de "mais uma mentira" que foi investigada e arquivada pelo Poder Judiciário em 2020.

De acordo com o MP, os pais inscreveram sua filha na "guarda juvenil" de Morales "com a única finalidade de escalar politicamente e obter benefícios", o que configuraria o crime de exploração e tráfico de pessoas. O pai da suposta vítima do estupro foi preso na sexta-feira

Se o processo avançar, o ex-mandatário poderá ser condenado a uma pena de até 20 anos de prisão.

Em sua defesa, Morales sustenta que a administração de Arce reativou o caso para impedir que ele concorra nas eleições presidenciais de 2025, apesar de um tribunal superior ter sentenciado no final do ano passado que ele estava constitucionalmente inelegível para um terceiro mandato.

Ambos os líderes mantêm uma acirrada disputa pelo controle do Movimento ao Socialismo, o partido governante, e sua indicação para as eleições.

À frente dos bloqueios está o Pacto de Unidade, uma coalizão de organizações próximas ao ex-presidente de 64 anos que tenta impedir que ele seja preso. 

O governo convocou conversas com Morales na segunda-feira, mas não obteve sucesso.

Além de "proteger a liberdade e a integridade" do ex-presidente, o Pacto de Unidade também se mobilizou para protestar contra a crise econômica provocada pela escassez de dólares e de combustível.

"Ou o governo resolve definitivamente esses problemas em um diálogo sincero ou definitivamente se retira do país", afirmou Humberto Claros.

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© Agence France-Presse

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