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Por que é difícil Boulos repetir neste ano a virada de Haddad em SP em 2012

Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (PSOL) em ato de campanha do psolista, em setembro deste ano - Leandro Paiva/Divulgação
Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (PSOL) em ato de campanha do psolista, em setembro deste ano Imagem: Leandro Paiva/Divulgação
do UOL

Do UOL, em São Paulo

14/10/2024 12h00Atualizada em 14/10/2024 20h39

A alta rejeição a Guilherme Boulos (PSOL) e a avaliação do governo Lula dificultam a possibilidade de o psolista vencer Ricardo Nunes (MDB) no segundo turno e repetir o feito de Fernando Haddad (PT) em 2012, segundo avaliação de especialistas consultados pelo UOL.

O que aconteceu

Um dia após o primeiro turno, Boulos minimizou a dificuldade de atrair votos dos adversários, comparando sua situação à vivida por Haddad em 2012. Na ocasião, o petista foi para o segundo turno em segundo lugar, mesma posição que o psolista alcançou no domingo (6). Mas Haddad acabou virando e vencendo a disputa municipal contra José Serra (PSDB).

A diferença em relação àquele cenário está no perfil dos candidatos e no momento político de seus apoiadores. Adversários de Boulos tentam colar nele a pecha de invasor e radical pelo seu histórico no MTST, seu berço político. "Essa ideia do Boulos como radical cola muito na população, e isso jamais poderia ser dito contra o Haddad", afirma Eduardo Grin, cientista político e professor na FGV. Ele diz também que o ex-prefeito sempre foi considerado "o mais tucano dos petistas".

Repetir a pecha de invasor tem sido uma das estratégias da campanha de Nunes na reta final. No discurso após o resultado do primeiro turno, o candidato à reeleição disse que a disputa no segundo turno representava a "diferença entre ordem e desordem", "equilíbrio e radicalismo".

Na época das eleições de 2012, o governo federal, na época sob Dilma Rousseff (PT), era aprovado por mais da metade dos eleitores. Segundo o Datafolha, em abril daquele ano, 64% dos entrevistados avaliaram como bom ou ótimo o governo da petista. Já o governo Lula hoje é aprovado por apenas 36%, de acordo com pesquisa do mesmo instituto divulgada nesta sexta-feira (11).

O presidente é o principal fiador da campanha de Boulos e peça importante para atrair votos de eleitores das periferias. Em 2012, o apoio de Lula, então ex-presidente, ajudou Haddad a crescer nas pesquisas do primeiro turno, de 7% para 24%. Já o psolista saiu de 23% e terminou a primeira etapa com 29%.

Lula estava em um momento que não existia a Lava Jato, não tinha a crise do governo Dilma. O contexto era completamente diferente, e o arco de apoio político que o Haddad conseguiu também era maior do que o de Boulos é hoje, ele não estava isolado
Marco Antonio Teixeira, cientista político e doutor em ciências sociais pela PUC-SP

A virada de Haddad ocorreu na primeira sondagem do Datafolha para o segundo turno. O ex-prefeito atingiu 47% das intenções de voto contra 37% de Serra —a pesquisa apontou que o petista era o preferido dos eleitores dos candidatos derrotados no primeiro turno Celso Russomanno (Republicanos) e Gabriel Chalita.

O cenário vivido por Haddad é o mesmo do adversário de Boulos, Ricardo Nunes, hoje. O primeiro Datafolha do segundo turno apontou Nunes na dianteira, com 55% das intenções de voto, e Boulos com 33%. Aliados do psolista minimizam a pesquisa e afirmam que o resultado era esperado. A campanha, afirmam, começou de fato nesta sexta-feira (11), com a propaganda eleitoral na TV e no rádio.

Apoios e racha na esquerda

Boulos também enfrenta dificuldade de ampliar o arco de alianças políticas na reta final. Até o momento, a candidata derrotada Tabata Amaral (PSB) anunciou apoio ao psolista, mas disse que não subirá em palanque. A campanha do deputado espera contar com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) em comícios.

"Se for perder tempo buscando aliança partidária com quem não vai vir, a campanha vai passar e daqui a pouco chega o segundo turno", diz Teixeira. Para o cientista político, Boulos deve focar nos debates e sabatinas, nos quais tem desempenho melhor que o adversário. "É tentar, de certa forma, avançar na fragilidade do candidato. Nunes tem pouco carisma", afirma.

Em 2012, Grin lembra que a esquerda teve uma união mais forte para a vitória de Haddad. "A militância do PT, junto do PCdoB, que indicou a vice, fez campanha extensiva", afirma o professor. Na disputa deste ano, setores do PT foram resistentes à decisão de Lula de não lançar cabeça de chapa e apoiar a candidatura de Boulos.

Eu me lembro que todas as análises que faziam --matemática simples como essa--diziam que Haddad estava derrotado, porque o eleitor do Russomanno era de direita, rejeitava o PT e a esquerda, somando os votos do Serra, que tinha ficado em primeiro lugar no primeiro turno, com os do Russomanno. Acabou, o Haddad ganhou a eleição, porque a política não é matemática simples
Guilherme Boulos (PSOL), um dia após o primeiro turno

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