Infectada por HIV após transplante pede punição: 'Erro de irresponsáveis'
Uma das pacientes infectadas com HIV após a realização de transplantes com órgãos de doadores com o vírus, no PCS Lab, no Rio de Janeiro, pede a punição dos responsáveis pela falha. Ela falou ao programa Fantástico, da TV Globo.
O que aconteceu
Paciente, que preferiu não ser identificada, afirmou que sua vida "mudou completamente" devido ao "erro de irresponsáveis". "Vai mudar a minha vida completamente, e eu não fiz nada para adquirir isso [o HIV]. O erro foi de pessoas irresponsáveis, porque quem lida com a vida de outra [pessoa] tem que ter responsabilidade. Eles não estão lidando com a nossa vida só... Foi só dinheiro que eles viram. Eu quero punição", declarou a mulher em entrevista exibida neste domingo (13).
Mulher submetida a um transplante de rim afirma ter se emocionado após o procedimento. "Que felicidade que eu fiquei, meu Deus, quando eu recebi meu rim. Quando o médico falou que não precisaria fazer hemodiálise fui nos céus", relembrou.
Agora, a sensação que antes era de alívio, transformou-se em revolta, diz ela. "É como se o chão se abrisse... Porque é a minha vida, e, daqui pra frente, a minha vida mudou. A minha família está revoltada porque a gente entra lá com a maior confiança de que vai dar tudo certo."
A paciente também nega que, até o momento, tenha recebido suporte psicológico após o diagnóstico. Ela relatou que descobriu estar infectada com HIV no dia 3 deste mês, mas que, até a divulgação do erro na imprensa, ela não havia sido procurada pela Secretaria Estadual de Saúde do RJ.
Secretária de Saúde do RJ admite que houve erro. "É evidente que a falha ocorreu e, para mim, é uma falha inadmissível. Fiquei indignada com o ocorrido, e esse caso será apurado com rigor", afirmou a chefe da pasta, Claudia Mello.
Entenda o caso
Seis pacientes que receberam transplantes de órgãos foram infectados pelo vírus HIV no RJ. Os casos foram revelados pela rádio BandNews FM e confirmados pelo UOL junto à SES-RJ (Secretaria Estadual de Saúde do RJ).
Exames feitos nos doadores apresentaram "falso negativo". Todos os testes foram realizados pela PCS Saleme, de Nova Iguaçu (RJ), que havia sido contratada em caráter emergencial pela SES-RJ em dezembro. Novos exames feitos pelo Hemorio comprovaram, porém, que as amostras estavam infectadas com HIV.
Caso foi descoberto após paciente passar mal. Ele havia recebido um coração nove meses antes e chegou ao hospital com sintomas neurológicos, segundo a BandNews FM. Exames foram feitos, e o paciente teve diagnóstico positivo para HIV.
O laboratório tem duas unidades no estado: em Nova Iguaçu e em Belford Roxo, segundo o site oficial da empresa. Os exames que apresentaram erroneamente "falso negativo" teriam sido feitos na unidade em Nova Iguaçu. Segundo o Ministério da Saúde, a unidade operacional do laboratório fica no IECAC (Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro).
Todos os testes feitos pelo laboratório foram encaminhados para nova análise no Hemorio, hemocentro fluminense. Além da retestagem e da interdição do laboratório, o que já havia sido divulgado pela Secretaria de Saúde do RJ, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou auditoria "urgente" pelo Denasus (Departamento Nacional de Auditoria do SUS) e assistência especializada aos pacientes e familiares.
Nísia Trindade classificou o episódio como "grave situação adversa". "Prestaremos toda a assistência a essas pessoas e a seus familiares, e quero, além da solidariedade, reforçar esse compromisso do Ministério da Saúde. Ao mesmo tempo, temos o compromisso de garantir a segurança, efetividade e qualidade que são marcas indiscutíveis do Sistema Nacional de Transplantes do Brasil."
Secretaria de Saúde do RJ disse que está realizando "um rastreio com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório". Uma sindicância também foi instaurada para identificar e punir os responsáveis, segundo o órgão em nota enviada ao UOL.
A PCS LAB receberia quase R$ 11,5 milhões em um ano pelos serviços de "análise clínica e anatomia patológica" em unidades de saúde do RJ. Segundo o contrato firmado em dezembro com o governo estadual, seriam pagos R$ 9.799.836,03 ao laboratório pelos serviços, que durariam 12 meses. Em fevereiro, porém, foram incluídas outras duas unidades de saúde no contrato, e o valor foi reajustado em R$ 1.679.459,04. O total acordado ficou em R$ 11.479.295,07.