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De jornalista premiada a negacionista da pandemia: quem é Cristina Graeml?

Cristina Graeml, candidata a prefeita em Curitiba - Reprodução/redes sociais
Cristina Graeml, candidata a prefeita em Curitiba Imagem: Reprodução/redes sociais
do UOL

Katna Baran

Colaboração para o UOL, em Curitiba

13/10/2024 05h30Atualizada em 24/10/2024 13h11

Autointitulada cristã e de direita raiz, descrita como conservadora e defensora dos valores familiares, a jornalista Cristina Graeml (PMB), que avançou para o segundo turno na disputa pela Prefeitura de Curitiba, ganhou popularidade nas redes sociais por sua carreira de comentarista política no jornal Gazeta do Povo e na Jovem Pan.

O que aconteceu

Ela diz que decidiu se candidatar ouvindo o "sentimento do eleitorado conservador". Principalmente após ser dispensada da Jovem Pan após a derrota de Bolsonaro para Lula (PT) em 2022. "Fui uma das jornalistas que sofreram censura", disse ao UOL.

Segundo ela, o desejo de mudança dos conservadores foi ainda mais represado a partir do 8 de janeiro. "[Houve] uma perseguição absurda a manifestantes que sequer tinham depredado, não há um único vídeo provando que aquelas pessoas depredaram algo, ao passo que os vândalos estão soltos até hoje", afirmou. Ao contrário do que diz a candidata, há diversos vídeos mostrando as depredações e seus autores.

Além de atacar ministros do STF, ela defende que não houve tentativa de golpe. Chegou a escrever um livro com histórias de investigados pelos atos golpistas.

"Foi surpresa pra quem não sabe fazer análise política", disse sobre sua ida ao segundo turno. Em entrevista à Mercosul FM na quinta-feira (10), afirmou que ficou surpreso "quem não consegue ouvir a sociedade e entender essa demanda por mudança".

Estamos dizendo na urna não ao PT, não à esquerda, não ao comunismo e não à imposição dos que uma hora estão lá e outra estão cá e querem se dizer agora conservadores, quando são de esquerda
Cristina Graeml (PMB), em entrevista à Mercosul FM

Na Gazeta do Povo desde junho de 2018, ela só se afastou para a campanha, em maio. Além do discurso bolsonarista na política, durante a pandemia, Graeml passou a questionar no jornal os dados que apontavam para a ineficácia do uso da cloroquina contra a covid-19. A narrativa seguiu depois contra a vacinação, usando estudos não comprovados cientificamente.

Em agosto de 2020, um vídeo da jornalista na Gazeta do Povo foi desmentido pelo portal Aos Fatos. Ela dizia que o portal da transparência do Registro Civil indicava uma queda acentuada de mortes por covid na época, enquanto a trajetória de óbitos seguia constante.

A candidata já disse que chamará a médica baiana Raissa Soares, conhecida na pandemia como "Doutora Cloroquina", para a Secretaria de Saúde do seu governo. Também promete anistiar empresários por multas impostas por desrespeito às regras de lockdown e deixar a critério dos curitibanos a opção de vacinar ou não contra a covid-19.

Ainda seguindo a cartilha bolsonarista, vem ressaltando que acabará com a "ideologia de gênero" na rede municipal de ensino.

As posturas e opiniões atuais de Graeml assustam ex-colegas de profissão e de faculdade. Formada em 1992 na UFPR (Universidade Federal do Paraná), ela trabalhou por 20 anos como repórter de televisão, principalmente na RPCTV, afiliada da Rede Globo no Paraná, com passagens pela emissora no Rio de Janeiro e em São Luís.

Participação em equipe, que em 2010, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo é contestada. A série de reportagens Diários Secretos denunciou um esquema de contratação de funcionários fantasmas e desvios de verbas na Assembleia Legislativa do Paraná. Ouvidos pelo UOL, um ex-diretor e jornalistas da RPC, afiliada da TV Globo no Paraná, disseram que Cristina não teria participado da investigação, apenas da gravação de vídeos exibidos na Globo. Ela nega e diz ter feito parte da investigação. "Essa é uma difamação violenta que está sendo feita em cima da minha idoneidade como jornalista que passou 34 anos buscando a verdade", afirmou a candidata em sabatina UOL/Folha no dia 23 de outubro.

"Ótima repórter, temperamento e personalidade fortes, gostava de discutir", resume seu ex-editor Fernando Rodrigues.

Todos os outros ouvidos pelo UOL, na condição de anonimato, descrevem a hoje candidata como uma pessoa totalmente diferente da que conheceram na época. Inteligente, com ótimo texto e impecável na cobertura política foram alguns dos elogios citados.

A postura à direita se mostrou para alguns em comentários nas redes sociais. Primeiro, em posições pró-operação Lava Jato, a partir de 2014. Depois, a favor das manifestações contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que sofreu impeachment em 2016.

O radicalismo posterior levou ao afastamento de vários amigos. Muitos não foram à comemoração de 30 anos de formatura, em 2022, na casa de Cristina. Alguns questionam se ela foi "tomada pela própria bolha" ou se tem se aproveitado da onda bolsonarista para se autopromover.

Segundo as fontes, a virada de chave coincide com a visão política do atual companheiro dela, o oficial de Justiça Anderson Sabara, com quem está há cerca de dez anos. Descrito atualmente como "bem à direita", ele já foi suplente de vereador em Cachoeira Paulista (SP) pelo PT, em 2004, e de deputado estadual por São Paulo, em 2006, já no PV.

Nas redes sociais, Sabara promove sessões e cursos de constelação familiar, método de terapia não comprovado cientificamente e condenado por psicólogos. Ele também consta em registros como sócio na empresa de Cachoeira Paulista, ocultada da declaração de bens de Cristina, segundo denúncia do partido Cidadania.

Antes de Sabara, Cristina teve um primeiro relacionamento, do qual nasceram seus dois filhos, hoje com 18 e 22 anos.

Além das posições ideológicas, ela tem ressaltado sua origem curitibana durante toda a campanha. Filha de professores, tem como pai um ex-diretor do tradicional Colégio Estadual do Paraná, Eraldo Graeml. A candidata também destaca ser trineta de Trajano Reis, médico e militar baiano radicado em Curitiba, nome de rua na cidade.

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