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Exposição precoce à violência sexual e de gênero impacta saúde mental de meninas francesas

11/10/2024 17h25

As autoridades francesas se mobilizam neste Dia Internacional da Menina, celebrado nesta sexta-feira (11), um dia depois do Dia Internacional da Saúde Mental, para sensibilizar a sociedade a respeito de uma injustiça persistente. As adolescentes francesas têm desenvolvido transtornos psíquicos mais cedo do que os meninos, por ficarem expostas à violência sexual e de gênero em idades mais precoces do que eles, acumulando um duplo prejuízo para sua saúde mental.

Na França, as meninas têm a chance de não precisar trabalhar. Todas vão à escola pelo menos até os 16 anos. O ensino é obrigatório, gratuito e em período integral, independentemente da situação econômica da família, o que já é uma vantagem em relação a muitos países.

O problema, na atualidade, é que as atividades nas redes sociais passaram a interferir demasiadamente no desenvolvimento das crianças e adolescentes, e a questão da sexualização das meninas na internet tem tirado o sossego de muitas jovens francesas.

Em entrevistas ou entre amigas, elas reclamam que as fotos do cotidiano que postam nas redes sociais, inteiramente vestidas, no caminho da escola ou fazendo alguma atividade que nada tem a ver com a sexualidade, acabam recebendo comentários de natureza sexual.  

Na era do smartphone acessível a crianças, o assédio às meninas foi banalizado. Desde novinhas, elas ficam sujeitas ao bullying, muitas vezes ligado à aparência física, a pedidos de nudes e a chantagens de colegas expostos à pornografia. Algumas mais vulneráveis são identificadas por criminosos que as induzem à prostituição. Esse contexto inadequado a um desenvolvimento sadio tem tido impacto na estruturação psíquica das adolescentes francesas. Algumas conseguem se proteger saindo das redes - e elas são cada vez mais numerosas. Mas isso pode levar a um isolamento igualmente prejudicial.

O ministério da Saúde francês lançou nessa quinta-feira (10) uma campanha preventiva de saúde mental focada nas meninas. Os casos de depressão, ansiedade, transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, e automutilação têm aumentado entre meninas. Esses transtornos podem evoluir na idade adulta, se não forem diagnosticados e tratados corretamente. Na campanha, o site da Seguridade Social fala explicitamente dos riscos ligados à exposição a agressões sexuais na infância. 

Automutilação e pensamentos suicidas em alta

O boletim mensal da agência nacional de Saúde que registra as passagens em pronto-socorro psiquiátrico e os chamados de atendimento de urgência a domicílio confirma essa tendência. O levantamento de setembro, divulgado ontem, mostra que o número de consultas de adolescentes de 11 a 17 anos, que procuraram o pronto-socorro por automutilação e pensamentos suicidas, aumentou 70% em relação ao mesmo período em 2021, 2022 e 2023.

Em comparação com o mês de agosto de 2024, houve 101% de aumento nas consultas por pensamentos suicidas. Um relatório publicado em maio já tinha alertado que as hospitalizações de meninas francesas com idades de 10 a 19 anos, seja por automutilação ou tentativa de suicídio, estava alcançando níveis muito preocupantes. 

Atendimento para adolescentes

O primeiro-ministro Michel Barnier anunciou no final de setembro que queria fazer da saúde mental a "grande causa nacional" de 2025. Em discurso nesta quinta-feira na Assembleia dos Deputados, Barnier informou que pretende dobrar nos próximos três anos o número de Casas dos Adolescentes, uma estrutura multidisciplinar onde os jovens e suas famílias podem consultar um psiquiatra para uma avaliação gratuita e, em seguida, serem encaminhados para o atendimento adequado.

Essas unidades ficam perto ou dentro de hospitais da rede pública. Já existem 125 estruturas desse tipo em todo o país, 13 apenas na região parisiense. Barnier disse que era preciso "acabar com a estigmatização do transtorno mental".

Cerca de 13% dos franceses de 6 a 11 anos sofrem de algum tipo de transtorno mental, meninos ou meninas, e muitos deles não são tratados. A ministra da Saúde anunciou um programa de diagnóstico precoce para crianças. Os professores do ensino fundamental serão formados para detectar os sinais o mais cedo possível.

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