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Sem rivais, nem 'já ganhou': em Solidão, candidato vence eleição solitária

Djalma da Padaria, atual prefeito de Solidão, é padrinho político de Mayco da Farmácia - Arquivo Pessoal
Djalma da Padaria, atual prefeito de Solidão, é padrinho político de Mayco da Farmácia Imagem: Arquivo Pessoal
do UOL

Do UOL, em São Paulo

07/10/2024 15h19

Apesar de não contar vitória antes da hora, Mayco Pablo Santos Araújo, o Mayco da Farmácia (PSB), único candidato que disputava a prefeitura de Solidão (PE), se elegeu para a gestão da cidade a partir de 2025. Ele conquistou totalizou, 4.207 votos, 100% dos votos válidos.

Com o sugestivo nome que a cidade carrega, o cenário político de Solidão tem chamado a atenção na região. Além da candidatura solo de Mayco, todos os 14 candidatos que disputam as nove cadeiras para vereador são da mesma coligação.

A escolha de Mayco foi definida pelo atual prefeito de Solidão, Djalma Alves de Souza, o Djalma da Padaria, de 60 anos.

"O Mayco é o pregoeiro do nosso município, foi isso que me levou a colocar ele como prefeito. Lógico que os ex-prefeitos queriam ser, mas depositei essa confiança no Mayco por ver nele gestão pública, que é isso que os municípios brasileiros precisam", argumentou Djalma ao UOL, em agosto.

Por que um candidato só?

Para o prefeito, o fato de a eleição ter apenas um candidato é resultado de sua administração. "Eu mudei toda a estrutura de gestão. Até os opositores acharam que a nossa gestão estava corretíssima, então ficamos em um grupo só", avalia.

Segundo Djalma da Padaria, na hora de escolher o candidato, alguns vereadores cogitaram se opor, mas teriam entendido que não haveria condições mínimas de rivalizar. "Por isso não teve oposição. Eles não tiveram forças para se levantar porque não tinham apoio da população."

Mayco também segue o raciocínio do seu padrinho político e diz que a ausência de oposição se deve aos trabalhos recentes na administração da cidade. "Não é questão de ser ditadura, não é questão de ser algo imposto. Tem resultado e tem a resposta do povo", ele resume.

Antes dos registros de candidatura, ainda tinha um ou outro que falava que iria sair como candidato. Mas acho que o que pesou foi eles pensarem assim: 'Vou ser candidato para perder?'
Mayco da Farmácia

Questionado sobre a ausência de oposição também na disputa por vaga na câmara municipal, o postulante diz que não há mecanismos locais que impeçam a oposição de apresentar candidaturas.

"Aqui, inclusive, é uma cidade marcada por ter uma oposição. Por exemplo, digamos que a eleição termine hoje, até fevereiro do ano que vem já terá candidato lançado contra, porque já haverá os rachas no grupo e entre os vereadores. Aqui é uma cidade que tradicionalmente acontecia isso".

Com relação aos 16 anos de PSB na cidade, o candidato se mostra cauteloso sobre a necessidade de uma alternância de poder. "Se for um grupo que crie um formato de ditadura, que só beneficie certas quantidades de pessoas, realmente necessita a alternância. Agora, se for um grupo que trabalha em prol da população, então a própria população reconhece isso e dá as respostas nessa forma de apoio, sem querer uma mudança", diz.

Frio na barriga

Para o candidato, não dava para entrar no clima de "já ganhou" mesmo sem adversários. Ele disse ao UOL que o ritmo é praticamente o mesmo de um pleito com concorrentes.

O fato de não ter oposição só tira aquela pressão política que existe, aquelas ofensas, aquelas questões de ficar jogando conversa de um lado para o outro. Mas em relação ao trabalho em si, ele é praticamente o mesmo

"A gente tem que visitar os setores, tem que andar nas casas, encontrar com as famílias, fazer reuniões. O que muda é que não vai ter uma oposição pegando no seu pé em algum detalhe", completa.

Ele, que nunca disputou uma eleição antes, confessa estar sentindo um frio na barriga ao se imaginar como prefeito.

Tudo que é novo gera aquele frio na barriga, porque você nunca lidou com aquilo. Eu lidava com o meu setor, com minha equipe de trabalho, mas a área de atuação de um prefeito é muito mais ampla. Você vai ter que lidar com pessoas de diferentes pensamentos, com várias situações, favoráveis e desfavoráveis. Então gera aquele sentimento, aquele friozinho, mas, como em toda minha vida, eu nunca me abaixei para nada.

Mayco tenta contrapor o discurso de que é inexperiente na política apresentando um pouco da influência da sua família na região. "Apesar de eu não ter me engajado na política anteriormente, eu tenho pessoas ligadas à política em toda minha família. Tenho tio vereador, outro tio que hoje é pré-candidato a vereador, e familiares que já foram prefeitos, como Cida Oliveira, que é minha prima", conta. Cida foi prefeita de Solidão de 2009 a 2016.

A última opositora

Em 2020, Djalma da Padaria se reelegeu prefeito após derrotar nas urnas Maria Aparecida Vicente Oliveira Caldas, a Cida Oliveira, com 66,21% dos votos válidos (3.029 votos), contra 33,79% (1.546) da concorrente.

Naquele ano, Cida disputava o pleito pelo Podemos, partido do qual é filiada até hoje. Ela já havia sido prefeita da cidade de 2009 a 2016, quando era do PSB.

"A pessoa que tinha me apoiado em 2016 se levantou contra mim porque queria voltar ao poder. Não conseguiu. Ela levou 'dois por um', no nosso linguajar matuto. Ou seja, quando eu tinha dois votos, ela tinha um."

Naquela ocasião, por pouco Solidão já não teve sua primeira eleição com candidato único. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) chegou a pedir a impugnação da candidatura de Cida por ter as contas do seu mandato julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas, mas ela conseguiu se manter no pleito após entrar com recurso.

Cida, que é prima de Mayco, diz que se absteve de disputar a prefeitura em 2024 devido a problemas de saúde e por adesão ao candidato. "Eu tenho diabetes e é uma doença que maltrata muito a gente. Achei melhor ficar apenas apoiando o candidato", conta.

A ex-prefeita admite que é estranho haver apenas um candidato. "É diferente porque no nosso município a gente nunca viu isso. Essa é a primeira vez. Mas a gente que vive na política estranha um pouco, porém, acaba sendo normal porque os objetivos são os mesmos, de defender a população", ela declara. Cida não cogita voltar a disputar uma eleição.

A gente sabe que é importante para a democracia a questão de mais de um candidato para escolher. Mas aqui todo mundo se conhece e o candidato é um bom rapaz, então eu acho que está todo mundo de boa. Eu com certeza vou votar nele.

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