O que é ser de direita, esquerda ou centro na política?
Direita, esquerda ou centro? Sempre que o assunto é política, essas palavras rodeiam as conversas. Mas, afinal, você sabe qual é a diferença entre essas posições políticas e quando surgiram esses termos?
Não existem critérios absolutos que definem conceitualmente todo o campo da esquerda ou da direita.
Quando se fala direita e esquerda, muitas vezes é colocado no campo da direita o liberalismo e o conservadorismo. E, na esquerda, o socialismo ou o comunismo. Mas há liberais que são mais à esquerda e existem socialistas, social-democratas, que são mais liberais.
Os sentidos dos termos são diferentes para cada pessoa, em cada local e época. Não há como dividir a política em dois grandes blocos e o assunto é mais complexo do que se imagina.
Qual a origem dos termos esquerda e direita?
As posições políticas (esquerda e direita) se originaram em Paris no ano de 1789, após a Revolução Francesa.
No ano anterior, o rei Luís 16 havia convocado os estados gerais (composto por representantes de clero, nobreza e burguesia) que deveriam discutir a grande crise financeira do país. Os estados gerais acabaram se tornando a Assembleia Nacional e, ainda no mesmo ano, a Assembleia Nacional Constituinte.
Em uma das reuniões, surgiu a questão de qual seria o poder de veto e os limites do rei. Durante os debates, uma parte dos deputados ficaram do lado direito da Assembleia. Eles queriam que o rei tivesse mais poderes e que não houvesse ruptura com a ordem tradicional e a monarquia. Já à esquerda da Assembleia ficaram aqueles que queriam impor um limite aos poderes do rei —e os radicais que queriam a abolição da monarquia.
Desde então, esses termos passaram a ser associados para diferenciar ideias políticas entre grupos que defendem a manutenção do status quo ou querem transformações.
O que é centro na política?
Os partidos de centro são aqueles que conciliam visões de igualdade, uma bandeira mais à esquerda, com preocupações como liberdade individual. Eles procuram conciliar visões pró-mercado e crescimento econômico com justiça social.
É importante não confundir os partidos de centro com oportunismo, ser em cima do muro ou até mesmo com o "centrão" que existe aqui no Brasil.
O que é esquerda na política?
O livro "Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política", de Norberto Bobbio, diz que a esquerda defende a igualdade, uma distribuição de renda mais igualitária e maior justiça social. Neste contexto, seria papel do Estado atuar para a redução das injustiças.
Educação
A esquerda foca em uma educação mais emancipatória e contextualiza o ambiente que o aluno vive, as relações sociais. Ou seja, uma educação que tende para a cidadania e para valores. Já o conservadorismo também pode dar uma ênfase a esse tipo de educação, mas pensando em valores diferentes, mais tradicionais.
Além disso, a esquerda defende o investimento na educação pública.
Economia
A esquerda defende maior igualdade social, maior regulação do sistema financeiro e maior intervenção do Estado na economia. O desemprego é um pouco mais preocupante para a esquerda, em geral. Nos tempos modernos, a esquerda também pode favorecer o empreendedorismo, a facilidade de abrir e fechar empresas, por exemplo. Em países como Uruguai e na Escandinávia, governos de esquerda souberam aprimorar a facilidade de se fazer negócios, por exemplo.
Gastos públicos
A esquerda é mais favorável a aceitar déficits fiscais para que se possa investir em educação, saúde e políticas sociais.
Saúde
A esquerda acredita mais em saúde universal e gratuita para todos —modelos como o SUS, por exemplo.
O que é a direita na política?
A direita defende um papel do Estado mínimo, limitado à garantia da ordem pública, dando preponderância para o mercado na coordenação da vida social.
Educação
A direita, sobretudo a direita liberal, defende uma educação mais técnica, com profissões que possam ser mais úteis à economia. Defende ainda a educação privada, inclusive com a distribuição de vouchers do Estado, para o financiamento da educação dos mais pobres por meios privados.
Economia
A direita tende para um maior crescimento econômico, para o conceito laissez faire (deixe estar, em tradução livre), ou seja, o mercado deve funcionar livremente e sem interferência do Estado.
A direita tende a se preocupar mais com questões monetárias como a inflação. Também há a ideia de que as empresas devem ser menos objeto de regulação, podendo atuar mais livremente.
Gastos públicos
A direita tende a ser mais favorável ao corte de gastos.
Saúde
A direita até aceita um papel para o Estado, no entanto, é mais voltado para o investimento privado na saúde.
Fontes: Pablo Holmes, professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB); Guilherme Arbache, cientista político da Universidade de São Paulo (USP).