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Por que a saúde mental será a 'grande causa nacional' da França em 2025?

04/10/2024 15h48

O novo primeiro-ministro francês, Michel Barnier, apresentou nesta semana seu programa de governo. Entre vários anúncios, ele previu que a grande questão da França em 2025 será a saúde mental da população, afetada por sucessivas crises, entre elas, a pandemia de Covid-19.

Todos os anos, o governo francês anuncia uma questão considerada urgente no país. A escolha é feita desde 1977 por meio de um concurso público do qual do qual participam organizações e associações.

Para 2025, a saúde mental foi contemplada, o que permitirá, além do debate e da apresentação de novas medidas, a difusão de uma campanha de sensibilização pelas mídias públicas francesas.

O anúncio de Barnier chega em um momento em que a questão da saúde mental é considerada uma emergência. Cerca de 13 milhões de franceses sofrem de doenças psicológicas ou psiquiátricas, o que representa uma em cada cinco pessoas no país.

Segundo Barnier, o foco será a prevenção e envolverá diversas instâncias: "o Estado, as administrações regionais, empresas e associações". Para o primeiro-ministro, a saúde mental "é responsabilidade de todos".

Pandemia afetou a saúde mental dos franceses

"Crises sucessivas e principalmente a da Covid-19" tiveram um impacto expressivo na saúde mental da população francesa, lembrou o primeiro-ministro. De fato, vários estudos e pesquisas relacionam a degradação do bem-estar na França como um efeito da crise sanitária.

A Agência Nacional de Saúde Pública, registrou um aumento de casos de depressão durante a pandemia. A faixa etária mais penalizada foi a dos 18 aos 24 anos, que sofreu um salto de mais de 20% em episódios depressivos.

Já uma pesquisa realizada na rede pública de hospitais de Paris e publicada no último 20 de setembro na revista científica Molecular Psychiatry associa casos graves de Covid-19, principalmente os que necessitaram de hospitalização, ao desenvolvimento de psiquiátricas. Cerca de 35 mil pacientes foram avaliados, entre os quais cerca de 10% foram vítimas de depressão e ansiedade após as internações.

No primeiro semestre deste ano, o instituto Ipsos também quantificou a importância da saúde mental na França. De acordo com a sondagem, 55% dos franceses pensa frequentemente na questão. Um quarto da população afirma ter se sentido deprimido durante várias semanas ao menos uma vez no ano, em 2023.

A pesquisa ainda mostra que a faixa etária dos 18 anos 24 anos é a que menos reage ao perceber um distúrbio mental, por não saber como agir ou a quem recorrer. Além disso, o balanço do Ispos mostra que as mulheres têm a tendência de considerar que não têm tempo para cuidar da saúde mental. Já os homens, em geral, são resistentes em buscar uma ajuda profissional por considerá-la inútil.

Gastos anuais de € 23 bilhões em saúde mental

A França gasta atualmente mais de € 23 bilhões anuais no atendimento e tratamento de doenças e distúrbios psicológicos e psiquiátricos, o que representa 14% das despesas totais na saúde. Por isso, para o primeiro-ministro, a estratégia da prevenção pode resultar em economias no futuro na diminuição da quantidade de consultas médicas, hospitalizações e reincidência.

As patologias psicológicas e psiquiátricas são o segundo motivo de atestados médicos atualmente nas empresas francesas. Já os afastamentos do trabalho de longa duração, superiores a um mês, estão em primeiro lugar, principalmente devido à depressão e ao burn out.

A urgência e a gravidade da questão da saúde mental na França leva profissionais do setor a expressar ceticismo sobre as promessas de Barnier. Para eles, o governo deve se concentrar em quatro pontos: o fim da estigmatização das doenças mentais, a prevenção, formação de outros setores da saúde para aliviar a pressão sobre psicólogos e psiquiatras e um maior recrutamento de profissionais especializados em saúde mental.

O Sindicato dos Psiquiatras de Hospitais da França afirma que 48% das vagas de profissionais especializados em saúde mental não estão ocupadas e que o setor está submerso. Ao mesmo tempo em que a quantidade de pacientes quase triplicou em pouco mais de 20 anos nos ambulatórios psiquiátricos da França, 88 mil leitos foram fechados. Nos hospitais públicos, médicos afirmam que se veem obrigados a triar pacientes para dar prioridade aos casos mais graves.

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