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No debate da TV Globo, foi Boulos quem tirou Marçal do sério

Marçal e Boulos em debate da TV Globo - Reprodução
Marçal e Boulos em debate da TV Globo Imagem: Reprodução
do UOL

Matheus Pichonelli

Colunista convidado

04/10/2024 01h24

Pablo Marçal (PRTB) entrou no debate da TV Globo com 24% das intenções de voto e 53% de rejeição no Datafolha divulgado horas antes.

Tinha apenas uma missão: (tentar) mostrar que não mordia e se posicionar como o único candidato de direita na disputa.

Era uma forma de tirar Ricardo Nunes (MDB) do páreo e já aplainar o terreno para um eventual segundo turno contra Guilherme Boulos (PSOL), numericamente à frente dos adversários no Datafolha, com 26% das preferências.

Foi com ele que o ex-coach protagonizou os maiores embates da noite. Quase sempre, se exaltando - como queria o rival. Isso depois de performar serenidade e propor "jejum de crime" para questões como segurança pública.

De novo, a fantasia não durou muito.

"Eu estou achando esquisito esse perfil que o Marçal adotou hoje. Agora ele quer pagar de bonzinho", disse Boulos após ser chamado de "extremista".

"O Marçal acusar alguém de extremista é a mesma coisa que a Suzane von Richthofen acusar alguém de assassinato", provocou o deputado.

Em seguida, Boulos trouxe ao baile declarações misóginas do influencer e questionou: "Por que você odeia tanto as mulheres?"

Foi o que bastou para Marçal rasgar a fantasia de cordeiro e trazer o lobo novamente à tona, conforme ironizou Boulos.

Marçal só faltou dizer que não tinha nada contra mulheres, era até casado com uma, e chamou o candidato do PSOL de "esquerdopata maluco". De quebra, relembrou o boletim de ocorrência registrado pela companheira de Ricardo Nunes contra o prefeito.

Nunes, que não estava na história, ficou tão desconcertado que ao fim do embate só conseguia dizer que Marçal era uma "pessoa maldosa, uma pessoa ruim". E dá-lhe competição para mostrar quem amava mais a companheira.

O deputado, em certo momento, pediu aos eleitores para observarem se havia sinceridade nas propostas dos oponentes. "Olhe para os olhos do Marçal. Você vê alguma coisa que não seja vaidade ali?"

Com a vaidade ferida, Marçal praticamente chamou o rival para a briga: "Quer tirar onda aqui no debate, quer falar que eu tenho olhar de vaidoso. Quer fazer gracinha? Se quiser fazer gracinha me chama."

Tabata Amaral (PSB) criticou a baixaria, relembrou o histórico de ataques do influencer recém-convertido e disse que ele mentia até quando usava um "gesso cenográfico".

O item virou a marca do empresário desde que foi golpeado pela banqueta de José Luiz Datena (PSDB) no debate da TV Cultura no começo do mês.
Marçal, que passou boa parte da campanha acusando Boulos de ser usuário de cocaína, chegou a dizer que o psolista deveria conhecer "todas as biqueiras da cidade".

Foi a deixa para o deputado apresentar um exame toxicológico, tomar um puxão de orelha do mediador, o jornalista César Tralli, e anunciar que postaria o documento nas redes sociais.

Deixou assim a resposta a Marçal para a última (e maior) exposição na TV aberta antes da votação.

"Faça o seu, Marçal, faça o psicotécnico", disse Boulos.

Marçal e seu gesso cenográfico ficaram sem resposta.

Num jogo em que todos entram pra não perder, é difícil pensar que alguém tenha mudado o voto em razão do desempenho dos candidatos no último debate do primeiro turno.

Ganhou quem podia jogar pelo embate.

Para quem precisava decolar — ou conter a queda, caso de Nunes — foi uma chance jogada fora.

A tensão entre Marçal e Boulos ganhou ares de uma prévia do que ainda vem por aí. O segundo turno, no caso.

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