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Marçal é evangélico? Candidato já disse não pagar dízimo 'nem a pau'

Pablo Marçal durante culto em 2023. Candidato busca crescer entre os eleitores evangélicos na disputa pela prefeitura de São Paulo - Reprodução/Facebook
Pablo Marçal durante culto em 2023. Candidato busca crescer entre os eleitores evangélicos na disputa pela prefeitura de São Paulo Imagem: Reprodução/Facebook
do UOL

Colaboração para o UOL*

04/10/2024 05h30

Candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) tem mirado a população evangélica em busca de votos. Em meio a polêmicas e conflitos com seus adversários, Marçal cresceu entre os eleitores evangélicos de São Paulo e passou a representar ameaça ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com quem mantinha bom relacionamento até sua atual posição nas eleições municipais.

A relação de Marçal com a religião

Candidato liga imagem à religião. Em sua descrição nas redes sociais, uma das características destacadas por Marçal é justamente de cunho religioso: o candidato se declara cristão em sua conta no Instagram.

O primeiro emprego registrado na carteira de trabalho de Pablo Marçal é como técnico de som na Igreja Videira, em Goiânia, sua cidade natal, nos anos 2000. A denominação é uma das principais a usar o sistema de igreja em células, com reuniões nas casas dos fiéis, mesmo método do QGR.

Marçal, porém, costumava dizer que não era religioso. E que o cristianismo, para ele, era um "lifestyle". O mesmo discurso, de que a igreja seria uma forma de conter a religiosidade, aparece em uma entrevista de Marçal à Rádio Jovem Pan Goiânia, em dezembro de 2021. "O religioso, ele tem o quartel-general dele lá no prédio da igreja, e ele acha que é um templo. Jesus derrubou o templo tem dois mil anos, não tem templo. Se você é general do reino, você tem um quartel-general, que é sua casa."

Mas, afinal, é evangélico? No fim de setembro, o empresário fez uma reunião online com pastores, e se pôs como o único evangélico entre os candidatos. "Nunca na história de São Paulo um evangélico sentou na cadeira de prefeito", falou.

Há vídeos de 2022 em que ele diz não ter religião e se define cristão. Em outros, de 2024, diz frequentar um templo há mais de 20 anos. "Desde 2021 eu estou na Igreja Videira, do pastor Aloízio", afirma ele, que diz ter se convertido aos 9 anos. A mudança coincide com a disputa de Marçal e Nunes pelos eleitores evangélicos.

O dízimo

Pablo Marçal declarou que não paga dízimo. Em vídeos que vêm circulando nas redes sociais, o candidato diz que não voltaria a pagar o dízimo "nem a pau". "Aquilo que você acha que te faz prosperar faz você ficar [preso] a uma bola de ferro".

A interrupção na contribuição com o dízimo aconteceu em 2018, segundo Marçal. Para o candidato, a suspensão do pagamento à Igreja teve papel importante em sua "prosperidade".

Desdém com Rei Salomão

Marçal já ironizou Rei Salomão. Em outra compilação de declarações de Marçal sem data definida, o candidato questiona a riqueza do Rei Salomão, uma das figuras centrais da Bíblia. "O Salomão tinha jato? Salomão já acalmou piloto de helicóptero?", questionou.

Marçal chama ainda o rei de Israel de "neném". "Salomão escreveu três livros, eu escrevi 45. Eu tenho só uma mulher, Salomão tinha mil e não encontrou a paixão da vida dele. Salomão não tem 2,4 bilhões de marcações no TikTok [...] Ele não está na lista da Forbes apesar de ter sido o cara mais rico", disse.

A religião nas eleições

Marçal disputa votos evangélicos com o atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB). Segundo pesquisa Datafolha divulgada no último dia 26, Marçal estava na liderança nesse segmento, com 30% das intenções de voto, empatado tecnicamente com Ricardo Nunes, que tem 29%. A margem de erro é de cinco pontos percentuais para mais ou para menos. Nunes conta com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, que tenta desvincular sua imagem à figura de Marçal e evitar que o candidato do PRTB cresça ainda mais entre essa parcela de eleitores.

Em sua campanha, Marçal se posiciona como defensor dos valores cristãos. A figura de Marçal, segundo especialistas, pode ser considerada como uma alternativa à direita paulistana, até então seguidora de Bolsonaro. Em entrevista ao UOL, Eduardo Grin, cientista político e professor da FGV em São Paulo, explica que a ascensão de Marçal entre os evangélicos pode ser resultado da não-intermediação de pastores tradicionais quando o candidato deseja falar com seu público.

Ele [Marçal] não tem aliado, não tem buscado a conversa institucional com os pastores da igreja, como Bolsonaro fez [...] Ele tem dialogado diretamente com os evangélicos, enquanto tal Professor Eduardo Grin

"O verdadeiro cristão vai pro confronto". Durante debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo promovido por UOL/Folha de S. Paulo na última segunda-feira (30), Marçal retomou o tema da religião ao atacar Nunes. "Mostra que você é alguém que é assíduo na Palavra, que é homem de oração", disse Marçal.

Confira abaixo trechos (início do vídeo e aos 8'03") nos quais Marçal critica Nunes e o desafia a mostrar conhecimento de assuntos religiosos, como a citação de versículo da Bíblia

O Quartel-General do Reino

Marçal é fundador do Quartel-General do Reino, criado no final de 2021. O movimento mistura diferentes vertentes, como religião e autoajuda. Os membros, conhecidos como "generais", alegam que o único líder dos seguidos do QGR (sigla utilizada pelo próprio movimento) é Jesus. Segundo o perfil oficial do QGR no Instagram, há mais de 70 mil grupos que seguem o movimento, espalhados em mais de 70 países.

O religioso, ele tem o quartel-general dele lá no prédio da igreja, e ele acha que é um templo. Jesus derrubou o templo tem dois mil anos, não tem templo. Se você é general do reino, você tem um quartel-general, que é sua casa Marçal à Rádio Jovem Pan Goiânia, em dezembro de 2021

Ao longo da campanha eleitoral, Marçal recebeu forte apoio de seus colegas do QGR. Bonés com a letra M, frequentemente utilizados pelo próprio candidato em suas aparições públicas, e carros com o adesivo eleitoral de Marçal são encontrados na sede do Quartel-General do Reino, em Alphaville, no município de Santa de Parnaíba. Segundo especialistas, a imagem de Marçal é cultuada entre os integrantes do QGR.

Participantes do QGR com o boné com a letra M; carros estacionados na garagem da sede tinham adesivo de campanha de Marçal - Anna Satie/UOL - Anna Satie/UOL
Participantes do QGR com o boné com a letra M; carros estacionados na garagem da sede tinham adesivo de campanha de Marçal
Imagem: Anna Satie/UOL

De acordo com um dos responsáveis pelos encontros do QGR, Marçal não faz mais parte do movimento. À jornalista do UOL Anna Satie, Marcelo Arado afirmou que o candidato se afastou do grupo e não participa das reuniões desde 2022, quando foi candidato à Presidência pelo PROS. "O QGR surgiu no coração dele, mas hoje não tem mais nada a ver com o Pablo", declarou.

Presença de Marçal no QGR, no entanto, ainda pode ser comprovada em documentos oficiais. A titular do site do QGR é a Marçal Serviços Digitais LTDA, e "Quartel-General do Reino" é marca registrada de Marçal no Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) desde 2023. No último dia 19, o evento do QGR nomeado "Reino em Ação", aconteceu na sede da Plataforma Internacional, empresa de Marçal.

Apesar de não aparecer em publicações recentes da QGR, Marçal ainda pode ser encontrado nas postagens do perfil. A postagem abaixo, por exemplo, é de abril deste ano.

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