Evo Morales trata como 'mentira' e 'caso encerrado' suposto abuso de menor na Bolívia
O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, se defendeu nesta sexta-feira(4) diante do escândalo pelo suposto abuso de uma menor e garantiu que se trata de uma mentira já investigada pela Justiça, que não encontrou nada contra o líder indígena.
O ministro da Justiça, César Siles, revelou na quinta-feira que Morales tem "um processo aberto", com "uma investigação em curso", por supostamente ter estuprado uma menor de 15 anos em 2015, quando era presidente.
"Como resultado desse estupro, [a mãe] concebeu outra menina e o pai reconhecido em um certificado de nascimento [é] o senhor Evo Morales Ayma", garantiu o ministro.
Nesta sexta-feira, cercado de apoiadores em seu reduto político de Cochabamba, Morales respondeu a Siles: "Não consigo entender que classe de ministro da Justiça nós temos, sabendo que este caso está encerrado, porque não houve nada, é uma mentira".
Primeiro presidente indígena da Bolívia, Morales governou entre 2006 e 2019 e ajudou a eleger seu sucessor, seu ex-ministro da Economia Luis Arce. Agora, os dois travam uma disputa feroz pela liderança do partido da situação e a nomeação para concorrer à Presidência nas eleições de 2025.
Em meio à disputa, a promotora do estado de Tarija, Sandra Gutiérrez, revelou na quarta-feira que pediu a prisão do ex-presidente pelo caso de estupro em 26 de setembro, mas ela foi destituída depois que a Justiça tornou sem efeito a resolução contra Morales pelos supostos crimes de tráfico de pessoas.
Segundo Miguel Tapia, que substituiu Gutiérrez no cargo, a promotoria continua investigando Morales sobre o mesmo caso, mas sob uma tipificação diferente da de estupro.
"O crime que foi tipificado e com o qual se deu início ao caso concretamente (...) é por tráfico de pessoas", disse o novo promotor de Tarija à emissora Unitel, sem dar mais detalhes sobre o expediente aberto contra o ex-presidente.
- 'Campanha suja e mentirosa' -
Segundo Morales, o governo de seu antigo aliado retomou quatro processos para prejudicá-lo politicamente, incluído o do suposto abuso da menor.
Em 2020, o governo de Jeanine Áñez, "usando o Ministério da Justiça, já me processou, já me investigou, e ficou comprovado que não houve nada", declarou Morales em coletiva de imprensa.
"Investigaram o ano todo e não vai haver nada. É mais uma mentira", reiterou.
Morales garantiu que o governo está atuando em represália pela marcha que liderou contra o presidente Arce há alguns dias, e que reuniu milhares de indígenas que protestaram contra a escassez de combustível e de dólares.
Em mensagem na rede X, o líder indígena assinalou que o escândalo faz parte de uma "campanha suja e mentirosa" para anular sua candidatura presidencial, apesar de a Justiça constitucional já tê-lo inabilitado como candidato.
Nesta sexta-feira, Morales mostrou uma resolução judicial de 2020 que, segundo ele, rejeita a denúncia de "estupro agravado e corrupção [de] crianças e adolescentes".
O pedido de prisão contra Morales afirma que, em 2015, o então presidente se envolveu com uma menor de 15 anos, com quem teve uma filha no ano seguinte. Perguntado por um jornalista sobre esse tema, Morales evitou responder, afirmando que "não se metam com a família; a família é sagrada".
Transformado no principal opositor do governo, o fundador do Movimento Ao Socialismo (MAS) - o partido no poder hoje dividido - insistiu em que Arce está usando o Ministério da Justiça contra ele.
O titular dessa pasta, em sua declaração de quinta-feira, assinalou que via com "indignação" a possibilidade de deixar na "impunidade" os graves delitos atribuídos a Morales.
Por sua vez, o chefe do Ministério Público, Juan Lanchipa, garantiu que "em nenhum momento" deu instrução para interromper a investigação contra Morales.
Ao mesmo tempo, afirmou que destituiu de suas funções a promotora de Tarija por "conduta negligente" no caso.
O novo promotor a cargo da investigação não antecipou se vai pedir novamente a captura de Evo Morales.
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