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Eleição municipal deve revelar fortalecimento do centrão e da direita antissistema

04/10/2024 12h09

Por Eduardo Simões

SÃO PAULO (Reuters) - Mais de 155 milhões de eleitores poderão ir às urnas no domingo para escolher prefeitos e vereadores de 5.569 cidades brasileiras em uma eleição que deverá revelar um fortalecimento de partidos do centrão e de nomes da direita antissistema ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ao mesmo tempo, a votação deverá mostrar dificuldades para a esquerda, em um cenário de certo afastamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"A gente tem como uma primeira tendência uma permanência desse discurso antissistema. É óbvio que ele migrou à direita, ele se tornou mais eficaz à direita... um resultado que tende a ser favorável para grupamentos do centro à direita antissistema", disse o cientista político Creomar de Souza, da consultoria de risco político Dharma.

"A esquerda, que hoje está muito concentrada nesse entorno do Partido dos Trabalhadores (PT) -- tirando alguma vitória pontual --, vai ter alguma dificuldade. E aí talvez levar eleições para o segundo turno em capitais pode ser encarado como uma vitória", acrescentou.

Em meio às dificuldades de seu campo político no pleito, Lula, que no início do ano chegou a apontar que a disputa municipal teria tons de um embate entre ele e Bolsonaro, manteve-se em grande parte afastado.

Embora tenha gravado vídeos de apoio para aliados, Lula pouco participou da campanha na rua.

Mesmo em São Paulo, onde apoia o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), Lula participou apenas de um comício no início da campanha e cancelou a participação em um segundo evento recentemente. Na quinta, fez uma live nas redes sociais com o aliado e, no sábado, véspera da eleição, participará de uma caminhada com Boulos.

"O Lula parece estar tentando evitar ficar muito colado com imagens de derrotas", disse Creomar. "O bolsonarismo e o lulopetismo foram a campo, acho que o bolsonarismo de maneira mais eficaz até aqui."

Levantamento realizado pelo jornal Folha de S.Paulo com base em pesquisas sobre as disputas nas 103 cidades brasileiras com mais de 200 mil eleitores e que, portanto, podem ter segundo turno, apontou que nomes apoiados por Bolsonaro lideram em mais locais do que candidatos ligados a Lula. O segundo turno, onde houver, ocorrerá em 27 de outubro.

Partidos do chamado centrão, como PSD e PP, também devem sair mais fortes do pleito municipal.

"O centrão tem a vantagem da mobilidade estratégica, é muito conveniente para um prefeito do PSD em uma cidade fechar com o Bolsonaro e o de outra cidade fechar com o Lula", disse Creomar.

"No final do dia, o partido vai enchendo seus espaços e tendo a capacidade de adensar a sua base de municípios. E essa base de municípios é fundamental para o que vem depois, que são as eleições para deputados, que é onde a turma levanta dinheiro", acrescentou, referindo-se à divisão do fundo partidário, que leva em conta o tamanho das bancadas federais.

EFEITO MARÇAL

Em São Paulo, maior cidade do país e apontada por Lula no início do ano como palco principal da disputa municipal deste ano, o surgimento de um candidato antissistema, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), frustrou as expectativas de uma disputa indireta entre Lula e Bolsonaro, encabeçada por Boulos e pelo atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).

Com uma retórica agressiva e calcada principalmente no deboche -- notabilizou-se por cunhar apelidos para os rivais -- Marçal fez com que a campanha paulistana acabasse marcada não por propostas, mas por episódios como a cadeirada que levou em um debate do candidato do PSDB, José Luiz Datena, após afirmar que o rival não seria homem para agredi-lo, e pelo soco que um assessor seu deu no marqueteiro de Nunes após outro debate.

Conseguiu também se colocar na disputa por uma vaga no segundo turno contra Boulos e Nunes.

"Ganhando ou perdendo, o Marçal ganhou. Ele saiu do nada, sem tempo de TV, colocando dinheiro do próprio bolso, com uma retórica muito firme para esses grupamentos antissistema", disse Creomar.

OUTRAS CAPITAIS

A grande vitória da esquerda, levando em conta capitais e cidades com maior número de eleitores, deve ser a de João Campos (PSB), que as pesquisas apontam que será reeleito em primeiro turno em Recife, derrotando Gilson Machado (PL), ex-ministro do Turismo de Bolsonaro.

Outra cidade em que um aliado de Lula, embora não de esquerda, deve vencer já no primeiro turno é o Rio de Janeiro, com Eduardo Paes (PSD). As pesquisas indicam que ele deverá se reeleger derrotando outro nome próximo a Bolsonaro, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL).

No entanto, Campos e Paes não usaram a aliança com Lula amplamente em suas campanhas, contando muito mais com sua própria popularidade entre os eleitores.

Outra capital com grande população que deve reeleger seu prefeito em primeiro turno é Salvador, com Bruno Reis (União), em uma vitória de um nome não intrinsecamente ligado a Lula ou a Bolsonaro, mas sim ao grupo político local de ACM Neto.

Em Belo Horizonte, capital do Estado que é o segundo maior colégio eleitoral do país, três candidatos disputam cabeça a cabeça vaga no segundo turno, nenhum deles de esquerda: o deputado estadual e apresentador de TV Mauro Tramonte (Republicanos), o atual prefeito, Fuad Norman (PSD), e o bolsonarista Bruno Engler (PL).

Em Porto Alegre, o atual prefeito Sebastião Melo (MDB), apoiado por Bolsonaro, lidera as pesquisas, mas deve, segundo as sondagens, enfrentar a deputada federal petista Maria do Rosário em um segundo turno.

Sede da cúpula da ONU sobre o clima no ano que vem, Belém deverá ter um segundo turno entre Igor Normando (MDB), do partido do governador do Pará, Helder Barbalho, e o bolsonarista Delegado Éder Mauro (PL). Atual prefeito e candidato à reeleição, Edmilson Rodrigues (PSOL) deve ser derrotado já no primeiro turno.

Fortaleza deverá ter no segundo turno uma disputa direta entre lulopetismo e bolsonarismo, representados por André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT), com o atual prefeito e candidato à reeleição José Sarto (PDT) ficando pelo caminho.

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