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'Muda a cara dele?' Ela atende a pedidos e ganha R$ 30 mil editando fotos

Laura é fotógrafa, mas ganha a vida fazendo edições - Arquivo pessoal
Laura é fotógrafa, mas ganha a vida fazendo edições Imagem: Arquivo pessoal
do UOL

Do UOL, em São Paulo

03/10/2024 05h30

A fotógrafa Laura Postal, 21, conta que sempre foi muito criativa e investiu em cursos que explorassem ainda mais isso —até que se encontrou com uma câmera na mão.

Desde os 14 anos ela sonhava em trabalhar com fotografia, mas sua timidez não a deixava ser plenamente feliz com a profissão.

"Eu não gostava muito do momento de tirar foto de pessoas, ter de conversar e pedir para posar. Eu gostava era de chegar em casa com um monte de foto e editar", afirmou ela ao UOL.

Jogada de marketing

Entre 2022 e 2023, ela se mudou de Chapecó (SC) para Florianópolis para fazer faculdade de fotografia. Mas não deu muito certo: o curso não atingiu o número mínimo de inscritos e ela se viu sozinha na capital, com contas para pagar.

A criatividade falou mais alto e ela gravou um vídeo para o TikTok, contando que "foi paga" para editar fotos. Entre os supostos pedidos, estavam edições divertidas, como tirar um cemitério do fundo da imagem.

Eu não tinha clientes, ninguém nunca tinha me pagado para editar nada. Mas já tinha visto vídeos desse tipo na gringa. Pensei em fazer uma versão em português e deu muito certo.
Laura Postal

A jogada de marketing foi certeira. Um ano e meio depois, Laura tem uma empresa de edição e realmente é paga para isso. Entre os serviços, ela corrige pequenas imperfeições, acrescenta pessoas, altera paisagens, reconstrói recordações, etc —tudo ao gosto do cliente, que faz os pedidos.

Um dos clientes pediu para remover a grade da foto - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Um dos clientes pediu para remover a grade da foto
Imagem: Reprodução/Instagram

Todo tipo de pedido

O pedido mais comum é remover pessoas do fundo de fotos, principalmente em pontos turísticos, como o Cristo Redentor —mas já rolou de um cliente pedir o contrário, a inclusão de mais turistas. Ou, então, tirar alguém que já não faz mais parte da família de uma foto de casamento ou formatura.

Já teve gente que pediu para tirar o namorado de uma imagem e até trocar o marido pela mãe em uma foto de formatura.

Pequenos "problemas" da vida real são solucionados na edição: uma jovem, por exemplo, gostou de uma foto com seus óculos novos, mas esqueceu de tirar a etiqueta —um trabalho para Laura resolver.

Na foto quase perfeita de um casal na praia, apareceu sem querer uma intrusa. O jeito é editar.

@lauracpostal Respondendo a @souzaa Coisas que as pessoas me pagam pra editar! ? #fotografia #edição #photoshop ? som original - Laura Postal

Na edição de foto, existem coisas demoradas mais do que existem coisas difíceis. Um dos pedidos que mais exige de mim é restauração em foto antiga que está muito manchada. Já cheguei a passar três dias em uma só foto, quando estava começando.
Laura Postal

Laura não tem como saber qual a intenção de cada edição —se é apenas para postar nas redes sociais ou se existe uma motivação de prejudicar alguém ou fazer ciúmes. Então, tenta fazer uma curadoria de quais pedidos aceita ou não.

Teve uma vez que uma pessoa tinha uma foto com um cara e me pediu para eu tentar mudar todas as características faciais dele, para parecer outra pessoa e ela poder postar essa foto. Eu acho que ela estava querendo fazer ciúme em alguém. A gente fez esse pedido, a pessoa até gostou do resultado, mas é muito estranho.
Laura Postal

Tem também motivos mais nobres. "Colocar uma pessoa que já faleceu numa foto de um momento importante, por exemplo. A pessoa se formou e queria uma foto com o pai, só para ter um quadro, uma memória."

"A gente não faz falsificação de documento e não me sinto confortável em colocar pessoas em lugares em que elas não estavam, como um ponto turístico ou um evento. Tento avaliar da forma mais consciente possível", explica ela.

Em uma das edições, o pedido foi para deixar só o marido e a filha - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Em uma das edições, o pedido foi para deixar só o marido e a filha
Imagem: Reprodução/Instagram

45 edições por dia

Logo que começou, Laura trabalhava sozinha e fazia, em média, dez edições por dia. Hoje ela tem uma pessoa fixa para ajudá-la na edição e outras pessoas disponíveis para trabalhos pontuais —o que ampliou a produção para 45 edições por dia.

A fotógrafa usa programas comuns, como Photoshop e Lightroom, e muita técnica. Apesar de alguns comentários em seus vídeos de que a inteligência artificial é capaz de fazer o trabalho dela sozinha, Laura discorda.

É até agoniante pensar que as pessoas falam que eu só consigo fazer por causa dessas ferramentas, sendo que no começo nem existia [inteligência artificial] no Photoshop. É uma coisa muito nova e só mais uma ferramenta.
Laura Postal

E quanto custa?

A cobrança do serviço de edição é feita por foto e depende da complexidade do trabalho. "A gente tem uma tabelinha interna, e chegamos a esses valores baseados no tempo que levamos para cada coisa. Fotos mais caras são restaurações, que demoram mais tempo."

A edição de fotos comuns varia entre R$ 30 e R$ 50 por unidade. Já as restaurações vão de R$ 50 a R$ 200 —atingir o teto é raro, segundo Laura.

Quando falo meus valores nos vídeos, dizem que estou perdendo dinheiro, que é muito barato. Não quero transformar esse serviço em luxo, a gente quer manter acessível.
Laura Postal

O faturamento total da empresa gira em torno de R$ 30 mil por mês, diz Laura. "Hoje em dia estamos em uma situação mais confortável. Mas tivemos um crescimento acelerado: no primeiro mês já fiz uns R$ 2 mil", lembra a fotógrafa.

Ela também publica vídeos no TikTok com os resultados das edições, que alcançam milhares de pessoas.

É aquela história: estávamos no lugar certo e na hora certa. Nunca tinha visto alguém fazer esse tipo de conteúdo [do TikTok] no Brasil. Fiz sem pretensão.
Laura Postal

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